Não é de hoje que a Lamborghini impressiona o mundo com as versões de tração traseira dos seus superesportivos. Dando sequência aos mitológicos Miura, Countach, Diablo e, mais recentemente, o Gallardo (em sua versão LP 550-2), a marca italiana solta outro touro arisco no asfalto: o Huracán LP580-2, variante de tração unicamente traseira do seu esportivo mais vendido, o Huracán, modelo que estreou em 2014, unicamente com sistema de tração nas quatro rodas.
A missão do LP580-2 é dura: ajudar o Huracán a manter o bom fôlego de vendas, tal e qual tinha o Gallardo ao se aposentar. Ou seja, o que a Lamborghini pretende é que seu Huracán siga visto pelo público como um sonho de consumo, ainda que seja ele o modelo de entrada da marca.
E a Lambo fez a parte dela. Se o Gallardo já era tido como uma referência de estilo e esportividade, o Huracán dá um show de versatilidade: desde o 4×4, o modelo se mostra um puro-sangue perfeitamente adaptado à vida cotidiana.
Na Ferrari, aconteceu o mesmo: desde a 360, seus bólidos deixaram de ser meros carros de corrida com autorização para andar na rua. Em outras palavras, dá para ir direto para o restaurante após uma manhã de diversão em um autódromo – e em ambos você será o centro das atenções.
Ainda que com menos arestas do que o Aventador, o Huracán conserva o ar de tubarão desenhado com hexágonos. Em relação à versão com tração integral, esta mostra novos traços, principalmente na dianteira, onde se destacam as entradas de ar maiores.
Os pneus têm perfil mais alto (35 em vez de 30) e envolvem rodas de 19” e não de 20”. No freio, discos convencionais, de aço, em vez dos de composto cerâmico. Toda sua overdose de tecnologia foi plenamente apreciada na divertida pista de Losail (em Doha, no Qatar), onde estivemos para cobrir o lançamento do Huracán LP 580-2.
Após a análise do exterior, saltamos para o muito bem-acabado e solidamente construído interior, com ares de cockpit de avião de combate – as formas hexagonais são novamente notadas nas saídas de ventilação. Destaque para o painel de instrumentos digital de 12,3 polegadas de alta resolução, com múltiplas possibilidades de configuração.
Todas as funções básicas à pilotagem, incluindo as palhetas para troca sequencial das marchas, estão no volante de base plana. Resposta e sonoridade do motor, câmbio, controle de estabilidade, direção (variável na unidade que conduzimos, mas que é um opcional), suspensão (quando equipado com amortecedores eletrônicos, também opcionais) são alterados de acordo como o modo de condução selecionado: Strada (Estrada), Sport (Esportivo) e Corsa (Pista).
Os executivos da Lamborghini se apressam em destacar a exclusividade do motor V10 do Huracán, mas a verdade é que este Lambo é movido por uma versão apimentada do V10 aplicado no Gallardo – e que, por sua vez, é derivado do que equipa o Audi R8.
A unidade conta com um sistema misto de alimentação, baseado na aplicação de um conjunto de bicos montados nas câmaras de combustão (injeção direta) e outro despejando combustível no coletor de admissão (injeção convencional, indireta).
A primeira é ativada nas arrancadas e em situações de maior exigência do acelerador, enquanto a segunda trabalha em momentos de baixa demanda. Outra medida para redução de consumo e emissões é o desligamento de uma das bancadas de cilindros toda vez que o piloto exige bem pouco do acelerador.
Ação e reação
Deslize o controle de estabilidade para os modos mais tolerantes que o touro responde deslizando no asfalto. Giro alto, guinada no volante e contraesterço. Daí para frente (ou melhor, para o lado) é a variação sobre o acelerador que dosará a radicalidade do drift – ou da rodada para fora da pista.
Rápido nas reações, o Huracán LP 580-2 só precisa que seu domador o conduza com os comandos corretos. Com tração traseira tem potência máxima de 580 cv a 8.000 rpm e 55,1 mkgf a 6.500 rpm. Por sua vez, o modelo com tração integral apresenta 610 cv de potência a 8.250 rpm e 57,1 mkgf de torque a 6.550 rpm.
A sonoridade do Huracán é de deixar qualquer um em delírio, principalmente com o modo Corsa ativo, com pipocos de escapamento e um ronco encorpado. Segundo a marca, são 320 km/h de máxima e só 3,4 s para ir de 0 a 100 km/h.
A suspensão (de duplos triângulos sobrepostos), quase toda de alumínio, tem amortecedores eletrônicos que, no modo Strada, fazem maravilhas pelo conforto. O Huracán traseiro tem calibragem mais macia de molas (10% mais suaves na dianteira e 2% atrás) e barra estabilizadora dianteira (de diâmetro menor). Tudo em nome da melhoria da distribuição de peso (40% à frente e 60% atrás).
Não à toa, o Huracán teve todos os sistemas eletrônicos recalibrados para permitir um comportamento mais traseiro, bem ao encontro do que procuram pilotos mais experientes – e com um histórico de carros de alta performance no currículo.
Veredicto QUATRO RODAS
Na Europa, o Huracán 4×2 custa cerca de US$ 25.000 a menos que o 4×4, o que o torna o modelo de acesso à marca. Entrada em grande estilo, diga-se…
Ficha Técnica
Preço: | 204.000 euros |
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Motor: | V10, longitudinal, traseiro, 40V, injeção direta e indireta, 5.204 cm³, 84,5 x 92,8 mm, 12,7:1, 580 cv a 8.000rpm, 55,1 mkgf a 6.500 rpm |
Câmbio: | automático, dupla embreagem, sete marchas |
Direção: | elétrica |
Suspensão: | independente c/ triângulos sobrepostos, amortecedores hidráulicos (eletromagnéticos opcionais) |
Freios: | Discos ventilados (carbo-cerâmicos opcionais) |
Pneus: | 245/35 R19 (diant.] e 305/35 R19 (tras.] |
Dimensões: | comprimento, 445,9 cm; altura, 116,5 cm; largura, 192,4 cm; entre-eixos, 262 cm; peso, 1.389 kg |
Porta-malas: | n/d |
Tanque de combustível: | 80 litros |