A adoção de motores turbo pela categoria mais disputada do Brasil, a dos SUVs compactos, é um fenômeno recente. Afinal, no supercomparativo com 12 SUVs do mercado publicado por QUATRO RODAS há menos de três anos, em maio de 2019, apenas três eram turbinados: Chevrolet Tracker, Caoa Chery Tiggo 5X e VW T-Cross.
De lá para cá, muita coisa mudou e nesse segmento houve uma corrida dos fabricantes por motores mais eficientes, tanto por exigência do consumidor quanto pela pressão da legislação.
A sétima etapa do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve) entrou em vigor este ano e impôs que várias marcas adotassem propulsores mais modernos. As regras mais rígidas inclusive forçaram a descontinuação de diversos carros.
A Jeep lançou o Renegade 2022 com o novo motor 1.3 GSE turbo, o T270 de 185 cv, e aposentou de uma só vez o antigo e defasado 1.8 E.torQ flex (139 cv/19,3 kgfm) e também o 2.0 Multijet turbodiesel (170 cv/35,7 kgfm), que acompanhavam o SUV desde o seu lançamento, em 2014. No caso do Multijet, ele fica na linha a bordo do Jeep Commander, devidamente recalibrado.
Seguindo a tendência do downsizing, a Renault também lançou mão de um motor 1.3 turbo (que estava disponível no Captur) para o Duster 2023.
A partir de agora, esse propulsor equipa a versão topo de linha do SUV, Iconic (mostrada aqui), mas a motorização 1.6 aspirada (120 cv), que segundo a marca recebeu melhorias para atender as exigências do Proconve, permanece nas versões de entrada.
Além do fato de serem SUVs compactos e trazerem novidades e motores com a mesma receita tecnológica e deslocamento, Renegade e Duster ainda têm versões na mesma faixa de preço. Ou seja: razões de sobra para este comparativo.
Tecnologias de ponta
Os dois SUVs agora têm motores de última geração – com o avanço da eletrificação, isso talvez seja mais do que uma simples expressão. O 1.3 GSE Turbo, do Jeep, traz injeção direta, sistema MultiAir (que controla a abertura e o tempo de abertura das válvulas de admissão) e um novo cabeçote.
São quatro válvulas por cilindro, o que melhora o fluxo de ar ao mesmo tempo que todos os sistemas eletrônicos do motor monitoram as respostas de acordo com as condições de uso. Seu turbo tem baixa inércia e o compressor (caixa fria) fica próximo do coletor de admissão, favorecendo respostas rápidas.
Já o coletor de escape é integrado ao cabeçote, o que reduz o turbo lag e o tempo de aquecimento do motor e do catalisador. A válvula de alívio é eletrônica, o que permite maior controle de operação.
Já o motor 1.3 TCe do Renault também tem injeção direta e comando de válvulas variável. Esse propulsor foi desenvolvido pela aliança Renault-Nissan-Mitsubishi em parceria com a Mercedes.
Já o motor é o mesmo que equipa os Classe A, CLA, GLA e GLB da Mercedes vendidos no Brasil, sempre com 163 cv e 26 kgfm. Cada parceira, porém, faz seus próprios acertos, de acordo com a aplicação.
Uma de suas tecnologias mais interessantes é o tratamento Bore Spray Coating, trazido do motor V6 do Nissan GT-R. Trata-se de uma fina camada de aço aplicado nas paredes do cilindro usando plasma.
Essa camada melhora a dissipação de calor na combustão, o que diminui a pré-detonação e permite aumentar a taxa de compressão. Sozinha, essa tecnologia melhora o consumo e as emissões em 1%, de acordo com a Renault. Já o coletor de escape está parcialmente integrado ao cabeçote, de forma a tornar o arrefecimento mais eficiente.
No que diz respeito à transmissão, os dois têm tração 4×2 dianteira. O Renegade conta com câmbio automático convencional, com conversor de torque, de seis marchas. E o Duster vem equipado com uma caixa automática do tipo CVT, com oito velocidades simuladas.
O motor do Jeep é um pouco mais potente, ele entrega até 185 cv contra 170 cv oferecidos pelo Renault. Já o torque é exatamente o mesmo de 27,5 kgfm, porém no Duster essa força chega mais cedo: o máximo de torque vem a 1.600 rpm, enquanto no T270 o pico está em 1.750 rpm.
E essa diferença foi sentida em nosso teste – que foi feito no Campo de Provas da Bridgestone, em São Pedro (SP), que gentilmente nos cedeu o espaço.
Desempenho e consumo
O Renegade acelerou de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos, enquanto o Duster cumpriu a prova em 9,8 segundos. As retomadas do Jeep também foram superiores, com os tempos de 3,8 segundos, de 40 a 80 km/h, e 4,4 segundos, de 60 a 100 km/h. Já o Renault fez as mesmas retomadas em 4,2 e 5,2 segundos, respectivamente.
Além de andar mais, o Renegade também se revelou mais econômico nas nossas medições. Ele fez 11 km/l no ciclo urbano, e 14,2 km/l no rodoviário; enquanto o rival Duster conseguiu as marcas de 10,8 km/l na cidade e 13,1 km/l na estrada.
Com esses números, ambos os SUVs mostram uma evolução significativa em relação às motorizações anteriores. O Jeep com o antigo 1.8 E.torQ levou 14,4 segundos para chegar a 100 km/h e fez médias de 9,6 km/l na cidade e 12 km/l na estrada. Um ganho bem significativo na aceleração de 5,5 segundos. E também no consumo – agora pode rodar até 2,2 km a mais com 1 litro de combustível em ambiente rodoviário.
No caso do Renault, o propulsor 1.6 aspirado (ainda não testamos esse motor com as melhorias divulgadas pela marca para linha 2023) fez 14,2 segundos em nossas provas de 0 a 100 km/h – uma melhora de 4,4 segundos. E, no consumo, registrou 9,9 km/l na cidade e 12,5 km/l na estrada. O 1.3 TCe faz quase 2 km a mais por litro no ciclo rodoviário.
Equipamentos
Os motores são a principal novidade das linhas e Renegade conseguiu extrair maior vantagem de seu conjunto mecânico, na pista de testes. Mas isso não é tudo para quem busca um SUV. Os equipamentos a bordo também têm grande importância.
E esse quesito tem feito muitos modelos perderem pontos preciosos nos comparativos.
Consideramos para este duelo a versão intermediária, Longitude, do Renegade, que é a opção mais cara da linha, entre as equipadas com tração 4×2. O Renegade 2022 tem quatro versões, sendo duas com tração dianteira e duas com tração integral.
O Jeep oferece seis airbags, ESP, freio eletrônico de estacionamento, TC+ (controle de tração voltado para condução off-road), câmera de ré e faróis full-led. Há ainda um pacote de tecnologias semiautônomas como frenagem de emergência, assistente de permanência em faixa, detector de fadiga e reconhecimento de placas.
Todos esses itens já são de série desde a versão de entrada, Sport, e a Longitude acrescenta quadro de instrumentos digital com 7 polegadas, ar-condicionado automático e digital bizona, carregador de celular por indução com refrigeração (para reduzir a temperatura do aparelho durante a carga), paddle-shift, bancos com revestimento parcial de couro e central multimídia com Apple CarPlay e Android Auto sem fio.
O Renault oferece poucas tecnologias de auxílio à condução, há apenas o sistema Multiview com quatro câmeras (frontal, traseira e laterais) e alerta de pontos cegos nos retrovisores externos. Além disso, apresenta só dois airbags, obrigatórios por lei, os faróis são de led, enquanto o rival proporciona lâmpadas full-led e o quadro de instrumentos é analógico.
O Duster ganha pontos por ter chave presencial com botão de partida, e o Renegade Longitude ainda oferece a chave canivete, mas sem a possibilidade de abertura por aproximação, a chave presencial só está disponível na versão acima, a Série S.
Mas volta a perder porque sua central multimídia só se conecta com os sistemas Apple CarPlay e Android Auto via cabo.
A diferença de polegadas entre as centrais multimídia é mínima: 0,4”, a do Duster tem tela de 8” e a do Renegade tem 8,4”. Porém, as duas se diferem muito na usabilidade.
A do Renegade tem navegação mais intuitiva e o touch da tela é superior, assim como sua resolução, enquanto a do Duster exige um pouco mais de atenção do usuário e é menos responsiva.
Por fim, o sistema U-connect da Jeep oferece GPS nativo, que não está disponível no sistema Easy Link da Renault.
Impressões ao dirigir
A dirigibilidade dos dois SUVs evoluiu de forma perceptível e graças à adoção dos motores mais modernos e potentes.
Equipado com o motor antigo 1.8, o Renegade era bem criticado e foi muitas vezes apontado como apático, mas isso definitivamente ficou no passado. Agora com mais força e respostas mais prontas, o Jeep ajuda o motorista a realizar as manobras que deseja, de forma mais segura, confortável e até divertida.
No Renault também é possível sentir o vigor do motor bem casado com o câmbio CVT. Outro fato elogiável para os modelos é um turbo lag quase imperceptível graças às tecnologias empregadas.
O Renegade ganha pontos por ter a suspensão independente nos dois eixos, o que confere uma boa estabilidade da carroceria em pisos acidentados e também em trechos off-road leves. Já o Duster tem sistema independente apenas no eixo dianteiro.
No traseiro, ele usa eixo de torção. E, por mais que o conjunto cumpra bem sua função filtrando as imperfeições do piso, os passageiros do banco traseiro, em especial, sentem mais as ondulações do asfalto.
O sistema de freios no Renault também é inferior, pois são discos ventilados nas rodas dianteiras e tambor nas traseiras. Isso é um dos aspectos que podem explicar o resultado inferior no teste de frenagem. Vindo a 120 km/h, o Duster percorreu 59,8 metros até a parada, enquanto o Renegade, que é equipado com freios a disco nas quatro rodas, precisou de 54,4 metros no mesmo ensaio.
diferenças de preço No visual, o Duster 2023 não teve mudanças, ele apresentou alterações no design na linha 2021. Entre elas, os faróis de led integrados à grade e o novo para-choque, que ganhou faróis de neblina e tomadas de ar maiores. As lanternas chamam atenção pelo desenho em cruz que remete ao estilo do Renegade, que estreou em 2014.
No interior, o Duster ganhou no facelift a central multimídia mais moderna e também mais ergonômica, além disso seu painel está mais horizontal. Mas o excesso de plástico rígido é o que depõe contra o acabamento. Apenas a faixa central do painel das portas é revestida de tecido.
Já a Jeep aproveitou a adoção da nova motorização para promover uma atualização no design do seu SUV mais vendido.
Na dianteira, destaque para uma grade mais estreita com as tradicionais sete barras. O para-choque também foi remodelado e está mais proeminente. Os faróis são full-led e também têm novo desenho com dupla função e aquela iluminação redonda foi substituída por um desenho de meia-lua.
Além disso os faróis passam a contar com as luzes de seta e também a DRL – antes estavam integrados na parte inferior do para–choque –, compartilhando o aro iluminado de forma harmônica. A imagem da traseira revela um novo conjunto de lanternas de led, que destaca a parte central em “X”.
No interior, além da central multimídia atualizada, o Renegade recebe o mesmo volante dos irmãos maiores Compass e Commander, o quadro de instrumentos digital da Fiat Toro (a partir da versão Longitude) com grafismos exclusivos e uma nova padronagem de tecido dos bancos.
A qualidade percebida dos materiais empregados no Renegade é maior, há a presença de plástico, mas a textura é mais agradável e o revestimento de couro está presente no porta-objetos central e no painel das portas.
Ao final do confronto, o Renegade se consagra o vencedor pelo conjunto da obra. O Jeep foi o melhor em desempenho e consumo, é mais completo e seguro (tanto pelo comportamento apresentado quanto pelos recursos eletrônicos de assistência ao motorista que traz a bordo) e proporciona uma vida a bordo melhor para seus ocupantes, por conta da tecnologia embarcada e o nível de acabamento da cabine, que já se tornou referência no segmento.
Ele é mais caro que o Duster. Mas a diferença de preço entre os dois SUVs é pequena, considerando as versões analisadas. Mais precisamente de R$ 3.400. O Duster Iconic é mais barato, custanto R$ 135.590, e o Renegade Longitude sai por R$ 138.990.
Veredicto Quatro Rodas
O Renegade 2022 tem melhor custo/benefício por oferecer um motor eficiente combinado com bom conteúdo. O Duster acertou em trazer o motor turbinado, mas precisa melhorar em tecnologia e segurança.
Teste Comparativo Quatro Rodas
Renegade | Duster | |
Aceleração 0 – 100 km/h | 8,9s | 9,8 s |
Aceleração 0 a 400 m | 16,4 s – 141,5 km/h | 17,1 / 134 km/h |
Velocidade Máxima | não divulgada | não divulgada |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 3,8 s | 4,2 s |
D 60 a 100 km/h | 4,4 s | 5,2 s |
D 80 a 120 km/h | 5,7 s | 6,9 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 15/26,5/54,4 m | 15,3/26,1/59,8 m |
Consumo | ||
Urbano | 11 km/l | 10,8 km/l |
Rodoviário | 14,2 km/l | 13,1 km/l |
Ruído Interno | ||
Neutro/RPM máx. | 42/63,3 dBA | 44,8/66,4 dBA |
80/120 km/h | 62,4/69,9 dBA | 64,8/62,4 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 96 km/h | 96 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em D | 1.800 rpm | 1.750 rpm |
Volante | 2,5 voltas | 2,7 voltas |
Seu bolso | ||
Preço básico | R$ 138.990 | R$ 135.590 |
Concessionárias | 202 | 295 |
Garantia | 3 anos | 3 anos |
Revisões até 60.000 km | R$ 5.339 | R$ 3.759 |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 34 °C; umid. relat., 51%; press., 1.012,5 mmHg
Agradecimento: Campo de Provas da Bridgestone
Ficha Técnica – Renault Duster Iconic 1.3 turbo
Motor: flex, turbo, diant., transv., 4 cilindros em linha, injeção direta, 170 cv a 5.500 rpm, 27,5 kgfm a 1.600 rpm
Câmbio: CVT, 8 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 215/60 R17 Peso: 1.353 kg
Dimensões: comprimento, 437,6 cm; largura, 183,2 cm; altura, 169,3 cm; entre-eixos, 267,3 cm; tanque, 50 l; porta-malas, 475 l
Ficha Técnica – Jeep Renegade Longitude 1.3 turbo
Motor: flex, turbo, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha; injeção direta, 185 cv a 5.750 rpm, 27,5 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant. e tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e sólido (tras.)
Pneus: 225/55 R18
Peso: 1.476 kg
Dimensões: comprimento, 426,8 cm; largura, 180,5 cm; altura, 170,2 cm; entre-eixos, 257 cm; tanque, 55 l; porta-malas, 385 l