Demorou, mas a Toyota Hilux ganhou uma rival no segmento das picapes médias com motor flex e câmbio automático. A resposta veio com a Chevrolet S10, que chegou às concessionárias em maio.
Os executivos da GM falam todos com muita segurança, num tom quase ameaçador: “A chegada do câmbio automático vai nos dar a liderança entre as picapes médias flex”. O diretor de marketing, Hermann Mahnke, disse: “Vamos compensar o tempo em que ficamos de fora com um produto superior ao da concorrência, tanto em conteúdo quanto mecanicamente”.
Na pista de testes, juntamos as duas picapes. É chegada a hora de ver se a mais nova candidata é mesmo boa de briga ou se é só promessa de campanha.
Ambas foram enviadas pelas fábricas em suas versões mais completas. Ou seja, o pega ocorreu entre a Hilux SRV 4×4 (R$ 135.090) e a S10 LTZ 4×4 (R$ 134.090).
Não estranhe a Hilux da foto: por engano, a Toyota mandou uma 4×2 para o ensaio, mas as impressões e o teste foram feitos com a 4×4. A diferença está, obviamente, no sistema de tração e na ausência do adesivo de caçamba – que, aliás, é muito parecido com o da S10.
Em novembro de 2016, fizemos um comparativo de picapes flex 4×2, que foi balizado pelo preço de entrada da então remodelada Hilux.
Na ocasião, nem o pacote de equipamentos mais simples que o das rivais (S10 e Ranger) impediu a vitória fácil da Toyota, justamente pelo fato principal de ser a única com câmbio automático. Mas o tempo passou, a Chevrolet se mexeu e a coisa ficou feia para o lado dos japoneses.
Paridade cambial
Na S10 o conjunto de transmissão com seis marchas é o mesmo já aplicado nas versões movidas a diesel, mas com relação do diferencial traseiro adaptada ao motor 2.5 flex de 206/197 cv.
As duas caixas de câmbio têm concepção bastante parecida, com conversor de torque gerenciado eletronicamente e seletor eletrônico de tração (4×2, 4×4 e 4×4 reduzida).
No motor, vantagem inquestionável da S10. Moderno, tem injeção direta de combustível nas câmaras de combustão, principal responsável pela enxurrada de números melhores que os da rival.
No 2.7 de 163/159 cv da Hilux, o maior destaque (que a S10 também tem) é o duplo comando de válvulas no cabeçote com variação do tempo de abertura na admissão e no escape.
Na suspensão, a vantagem também é da S10, embora aqui não seja tão grande quanto no motor. Ambas são bem acertadas, com calibração notadamente feita para privilegiar o conforto, mas a traseira da Hilux é um pouco mais saltitante.
Na cidade, fica ainda mais perceptível o melhor isolamento da cabine da S10, tanto de ruído externo como (principalmente) de vibrações do motor.
Como negócio, na teoria há um novo empate. O pacote de revisões até 60.000 km da S10 é mais barato do que o da Hilux (R$ 4.636 ante R$ 5.375).
Na hora da revenda, porém, a Hilux honra a sua origem japonesa: “Basta você pensar em fazer um anúncio para ver uma fila de interessados se estapeando por ela. E isso se traduz em um menor índice de desvalorização”, diz Caitano Andrade, vendedor de usados especializado em picapes e SUVs. O índice da Hilux no primeiro ano é de 11,2%, contra 13,4% da S10.
Picape High-Tech
A vitória da picape Chevrolet é confirmada com a análise dos equipamentos. Só ela tem, por exemplo, partida remota do motor, sensor de estacionamento na dianteira, assistente de partida em rampa e alertas de risco de colisão e de saída involuntária de faixa.
Oferece ainda multimídia com tela de 8 polegadas com Android Auto e Apple CarPlay, On Star e uma série de equipamentos exclusivos de menor relevância.
Ainda que em pacote bem mais humilde, a Hilux também tem itens inexistentes na S10, como ajuste de profundidade do volante, airbag de joelho para o motorista e multimídia de 7 polegadas com DVD player e TV digital.
No acabamento, empate técnico: ambas convencem com materiais de boa qualidade e aspecto agradável, mas a montagem peca ao exibir alguns vãos exagerados.
Se o reinado da Hilux entre as picapes médias flex automáticas chegará ao fim, ainda é cedo para saber. Mas há uma certeza: a S10 chegou com armas para lhe tomar o trono.
Teste de pista (com gasolina)
Chevrolet S10 LTZ | Toyota Hilux SRV | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,7 s | 15,1 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 33,1 s | 36,8 s |
Velocidade máxima (dados de fábrica) | n/d | n/d |
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) | 5,1 s | 6,8 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) | 6,5 s | 8,7 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) | 8,7 s | 13,8 s |
Frenagem de 60/80/120 km/h a 0 m | 17,9/29,5/67,4 m | 16,8/30,4/72,8 m |
Consumo urbano | 7,5 km/l | 7 km/l |
Consumo rodoviário | 10,8 km/l | 8,6 km/l |
Veredicto
Mais barata e também mais moderna que a Hilux, a S10 tem um conjunto mecânico eficiente e um generoso pacote de equipamentos. Venceu a rival com facilidade.
Ficha técnica – Toyota Hilux SRV Flex
- Preço: R$ 135.090
- Motor: 4 cil., diant., longit., 2.694 cm3, 16V, flex., 163/159 cv a 5.000 rpm, 25 mkgf a 4.000 rpm
- Câmbio: aut., 6 marchas, tração 4×4
- Suspensão: duplo A (diant.) e eixo rígido com feixe de molas (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
- Direção: hidráulica, 11,8 m (diâm. giro)
- Rodas e pneus: liga leve, 265/65 R17
- Dimensões: compr., 533 cm; largura, 185,5 cm; altura, 181,5 cm; entre-eixos, 308,5 cm; peso, 1.970 kg; tanque, 80 l; capacidade de carga, 830 kg
Ficha técnica – Chevrolet S10 LTZ
- Preço: R$ 134.090
- Motor: 4 cil., diant., longit., 2.457 cm3, 16V, flex., 206/197 cv a 6.000/6.300 rpm, 27,3/26,3 mkgf a 4.400 rpm
- Câmbio: aut., 6 marchas, tração 4×4
- Suspensão: braços duplos (diant.) e eixo rígido com feixe de molas (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
- Direção: elétrica, n/d (diâm. giro)
- Rodas e pneus: liga leve, 265/60 R18
- Dimensões: compr., 536,1 cm; largura, 187,4 cm; altura, 183,1 cm; entre-eixos, 309,6 cm; peso, 1.934 kg; tanque, 76 l; capacidade de carga, 816 kg