O mercado da Romênia tem pouca coisa em comum com o do Brasil. Mas, desde que a Renault baseou sua estratégia em nosso país nos produtos da Dacia, a montadora romena do grupo, tudo o que acontece com essa marca do Leste Europeu nos interessa. Mudanças tecnológicas e de estilo de carros como o Duster, por exemplo, costumam acontecer primeiro lá.
Aqui, mostramos a perua Jogger, que não é vendida no Brasil, mas sinaliza um movimento que também pode chegar por aqui, que é o reposicionamento da marca – se afastando da imagem de fabricante de carros baratos – e sua entrada nos segmentos dos elétricos, com a nova Jogger Hybrid 140 – disponível em versões de cinco e sete lugares –, que é híbrida, como o nome desta versão diz.
A Jogger é baseada na plataforma CMF-B, a mesma do Renault Clio e do Sandero (modelo do qual deriva), e que dará origem a um novo SUV nacional. A propósito, também vem do Clio o sistema híbrido (E-Tech). Ele junta um motor 1.6 aspirado de 94 cv da Nissan (de ciclo Atkinson), um motor elétrico de tração de 49 cv (denominado M1) e um segundo motor elétrico de 20 cv (M2) usado como gerador de arranque.
O M1 é o responsável por movimentar o carro até cerca de 65 km/h, a menos que o motorista pise fundo no pedal direito. Quando isso acontece, o M2 desperta a unidade a gasolina e o sistema passa a trabalhar em modo híbrido.
A propulsão totalmente elétrica também é possível em velocidade de cruzeiro, acima de 100 km/h com pouca carga no acelerador. A distância máxima no modo elétrico é de cerca de 4 km. A tração é dianteira.
O motor elétrico principal é integrado na transmissão automática. Ela tem duas marchas para o acionamento elétrico e quatro para o motor a combustão. Dependendo da demanda de energia, da potência e do nível de carga da bateria, o sistema pode funcionar em modo totalmente elétrico ou no híbrido serial e paralelo.
No híbrido serial, o motor a combustão aciona o gerador, que alimenta o motor elétrico de tração e carrega a bateria. Isso ocorre, por exemplo, quando o nível de carga da bateria está baixo. Em acelerações mais fortes, o sistema entra na operação híbrida em paralelo, situação em que os motores elétricos e a combustão atuam ao mesmo tempo na locomoção.
A capacidade da bateria é de apenas 1,2 kWh. Como é pequena, cabe no local do estepe – que foi retirado. A solução permitiu que o volume de carga fosse preservado. Ele vai de 160 litros (com os sete lugares ocupados) a 1.807 l, com os bancos rebatidos.
O test-drive mesclou autoestrada, estradas secundárias e algumas zonas urbanas, num total de 125 km, ao fim dos quais o consumo médio foi de 16,9 km/l. Durante cerca de um terço do test-drive (mais precisamente, 46 km), a propulsão foi totalmente elétrica, proporção que tende a ser maior quanto mais tempo você dirigir em cidade. O desempenho é satisfatório. A aceleração de 0 a 100 km/h é em 10 segundos.
O funcionamento do câmbio automático prejudica o comportamento. A primeira surpresa é que a posição “B” (de brake) na alavanca tem pouco efeito no aumento da desaceleração quando se solta o acelerador (nada perto do efeito “one pedal drive” de que fala a Dacia). Você vê a barra de recuperação subindo, mas não sente muita diferença na forma como o carro perde velocidade.
O fato é que nem dá para usar a função B para promover uma condução urbana mais confortável (evitando pisar sempre no pedal esquerdo). Pelo contrário, o funcionamento do câmbio é na maioria das vezes irregular e totalmente inconsistente. Às vezes ele acelera o motor, outras vezes apenas atrasa a mudança de marcha mais do que o desejado.
Ainda sem mudanças
No mais, a Jogger Hybrid reproduz o padrão dinâmico de sua linha. A suspensão macia permite uma rolagem perceptível da carroceria. A direção é bastante indireta e com pouca comunicação. E não há modos de dirigir, apenas um botão Eco, que torna a resposta de propulsão ainda mais suave.
Em relação ao estilo e vida a bordo, as mudanças pretendidas pela marca ainda não vieram. Por dentro, as superfícies do painel e das portas são de plástico duro, como em todos os Dacia, e a aplicação de tecido serve apenas para cortar a predominância do plástico preto.
O painel de instrumentos tem uma tela digital de 7” específica da versão híbrida. A tela central sensível ao toque, de 8”, é muito básica, mas fácil de operar. A conexão de smartphone Android ou Apple ainda exige cabo.
Espaço continua a ser um dos melhores ativos desse carro. A área para cabeça e pernas é generosa nas três filas, graças ao entre-eixos de 2,9 m. Passageiros da segunda fila ficam 5,5 cm mais altos do que os da primeira, proporcionando boa visão. O acesso também é fácil graças à ampla abertura das portas.
Ao dobrar os encostos e mover todo o banco da segunda fila para a posição vertical, é fácil chegar aos dois lugares da terceira fila. Mesmo ocupantes de até 1,85 m de altura têm bastante espaço para as pernas e ainda mais altura para a cabeça.
Na Europa, os preços da Jogger Hybrid 140 partem de 24.800 euros (cerca de R$ 136.500), o que é um valor relativamente baixo para o mercado. Mas bem acima dos 18.050 euros (cerca de R$ 99.350) cobrados pela versão de entrada 1.0 a gasolina (TCe 110 FAP), com câmbio manual.
Veredicto
A Jogger 140 pode servir de inspiração para a Renault do Brasil.
Ficha Técnica – Dacia Jogger Hybrid
Preço: 24.800 euros
Motor: gas., diant., 4 cil., 16V, inj. dir., 1.598 cm3, 94 cv, 15,1 kgfm Elétrico 1: 49 cv, 20,9 kgfm; elétr. 2: 20 cv, 5,1 kgfm, baterias de íons
de lítio, 1,2 kWh
Câmbio: autom., 4 marchas (+2 motor elétrico), dianteira
Direção: elétrica, diâm. giro 11,7 m
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 205/60 R16
Dimensões: compr., 454,7 cm; larg., 178,4 cm; alt. 163,2 cm; entre-eixos, 289,7 cm; peso, 1.460 kg; tanque, 50 l
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 10 s; vel. máx. de 167 km/h; consumo misto, 20,4 km/l
*Dados de fábrica