A tecnologia híbrida caminha a passos lentos no Brasil, mas dois representantes dessa geração de carros que utilizam dois motores (um elétrico e outro a combustão) já rodam por aqui. E ambos têm relevância mundial.
O Prius, há mais de uma década, é praticamente um embaixador dessa categoria – virou moda entre artistas de Hollywood. Nas vendas, o japonês já superou 2 mil emplacamentos em 2017 e vende mais que o VW Golf. Já o Fusion desfila como um representante da capacidade de inovação da Ford americana.
Colocamos o Prius e o Fusion lado a lado para mostrar o que eles têm de comparável – afinal, tratam-se dos dois híbridos mais vendidos no país. Mas, sobretudo, mostrar como são diferentes.
A começar pelo estilo: enquanto o Fusion mantém o mesmo visual elogiado das demais versões (com elementos idênticos ao Titanium Ecoboost, como as rodas diamantadas de 18 polegadas), o Prius aposta em linhas ousadas e polêmicas, justificadas em nome da eficiência aerodinâmica.
No caso do japonês, há vincos por todos os lados. Os faróis têm formato irregular e as lanternas parecem escorrer pela traseira – que, além de alta, possui o tradicional vidro duplo, separado por um arco que faz as vezes de aerofólio.
O visual “diferentão” do Prius fica completo com as desproporcionais rodas de 15 polegadas cobertas por calotas com função aerodinâmica e melhor dissipação de calor.
O Fusion, por sua vez, mantém o perfil equilibrado entre a sobriedade e a agressividade que tanto sucesso faz no Brasil, onde um sedã do seu tamanho ainda chama a atenção positivamente.
O funcionamento dos ecologicamente corretos, entretanto, deixa as diferenças de lado. Ou quase isso. Tanto Prius como Fusion não são híbridos do tipo plug-in, ou seja, não possuem tomada externa para recarregar as baterias de íon-lítio – elas só são abastecidas pela recuperação de energia nas desacelerações e frenagens ou pelo motor a combustão, em condições específicas, como quando o nível das baterias está muito baixo.
Em ambos, uma central eletrônica gerencia o uso dos motores. O elétrico é utilizado em manobras e velocidades até cerca de 50 km/h, desde que o motorista não tenha o pé pesado – o mesmo vale para velocidades mais elevadas, quando é possível utilizar apenas eletricidade pressionando o acelerador com suavidade.
Nas ocasiões em que só o elétrico está em uso, o único som emitido é o produzido pelos pneus. Chega a ser assustador sair da garagem em silêncio.
O propulsor a combustão entra automaticamente em ação com uma pressão mais forte no pedal, seja qual for a velocidade. Em descidas, tanto o Prius quanto o Fusion possuem no câmbio uma função (B no Toyota e L no Ford) que amplia a ação do freio motor, o que poupa os discos de freio e ajuda a recarregar as baterias.
Quando se fala em consumo, ao contrário de modelos convencionais, as médias de consumo dos híbridos são melhores em ciclos urbanos, situação em que o motor elétrico trabalha sozinho a maior parte do tempo. Nas rodovias, o propulsor a combustão é quem manda, tornando menor a diferença para os convencionais.
O Fusion Hybrid é equipado com um motor 2.0 aspirado de ciclo Atkinson (clique aqui para saber mais sobre este ciclo de funcionamento) e um elétrico que, juntos, entregam 190 cv gerenciados por um câmbio CVT.
Direto ao que interessa: o sedã alcançou as médias de consumo de 19,2 km/l na cidade e 16,8 na rodovia. Para ir de 0 a 100 km/h, levou rápidos 10,2 segundos.
Já o Prius combina um 1.8 (também a gasolina de ciclo Atkinson) e um elétrico, resultando em 123 cv. O câmbio também é CVT, e não por acaso: ele privilegia a economia de combustível por manter o giro do motor mais constante, aproveitando as relações infinitamente variáveis desse tipo de transmissão.
Os números de consumo do Toyota são ainda melhores que os do Ford. Em ciclo urbano, o japonês apresentou a média de 23,8 km/l, contra 18,2 km/l no rodoviário. A aceleração de 0 a 100 km/h é mais lenta, feita em 12,1 segundos, e as retomadas são todas um pouco piores que as do Fusion.
O Prius oferece como diferencial em relação ao Fusion um seletor com quatro tipos de condução: Normal, Eco (que privilegia a eletricidade), Power (com foco na combustão para rodovias, por exemplo) e EV (destinada para manobras, com autonomia de aproximadamente 2km).
Apesar dos sistemas praticamente idênticos, o funcionamento de cada carro é mais uma das diferenças citadas lá no início do texto.
O Prius deixa clara sua nascença como um legítimo híbrido, com um melhor gerenciamento que, por consequência, leva a mais economia, suavidade e maior duração da bateria. A entrada do motor a combustão é quase que imperceptível, enquanto, no Fusion, há um ruído mais acentuado.
Mais uma oposição se dá no conforto dos modelos. O Prius leva com tranquilidade cinco pessoas e 412 litros de bagagens, tem suspensão suave e pneus de perfil alto que ajudam a filtrar as irregularidades do solo.
Mas é bom ter cuidado com as valetas: ele é baixo e raspa a dianteira com facilidade. Também é bom você se acostumar com o freio de estacionamento no pé, como em picapes mais antigas.
O Fusion, mesmo ecologicamente correto, continua sendo um sedã grande de luxo (para os padrões brasileiros), com espaço de sobra para todos os ocupantes e maior refinamento.
No porta-malas, porém, a adaptação híbrida fica clara: o porta-malas cai para 392 litros (ante os 514 das demais versões) pela invasão da bateria.
No Prius, justamente para não interferir no compartimento de bagagens, ela fica instalada debaixo do banco traseiro.
Em equipamentos, o Fusion sai na frente – também, pudera, ele é quase R$ 35 mil mais caro que o Prius. O americano de R$ 160.900 e o japonês de R$ 126.600 têm, em comum, ar digital de duas zonas, chave presencial com partida do motor por botão, faróis e luzes diurnas em leds, central multimídia com USB, AUX, Bluetooth e GPS, controle de estabilidade e tração, bancos com aquecimento e câmera de ré.
Só o Toyota tem carregador sem fio para smartphones, head up display, sete airbags e alerta sonoro ao engatar a ré (se lembra do silêncio em manobras?).
Em compensação, só o Ford tem bancos com resfriamento e ajustes elétricos, alertas de pontos cegos, piloto automático adaptativo, freio de estacionamento eletrônico, oito airbags, faróis altos adaptativos, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sistema de estacionamento semi-autônomo, rodas aro 18, saídas de ar-condicionado traseiras e partida do motor pela chave.
Limpeza sem tédio
Silenciosos e confortáveis, ambos são carros muito agradáveis e lúdicos no cotidiano – as telas que mostram o funcionamento e configuração dos sistemas híbridos são interessantes, e é quase impossível não entrar na brincadeira de buscar os melhores índices de consumo ou a maior recarga de bateria.
Em trechos urbanos, o Prius leva a melhor: é mais macio e compacto, e seu gerenciamento de motores transmite maior harmonia. Na estrada, apesar de o Fusion Hybrid sentir o peso extra em relação ao Titanium EcoBoost (uma diferença de 177 kg, totalizando 1.670 kg no Hybrid), ele acelera e faz retomadas mais rápido que o Toyota, e permanece mais grudado no chão e estável em curvas.
Não que o Prius seja estritamente urbano: em nosso teste, ele se mostrou um bom companheiro de viagem, com direito à uma subida de serra onde não faltou disposição e torque. A carroceria se inclina um pouco mais que a de um Corolla, mas a autonomia chega a entusiasmar na hora de pegar estrada: com o tanque cheio, é possível rodar mais de 900 km sem reabastecer.
Veredicto
Mesmo direcionados para públicos parecidos (consumidores abastados e ousados, mais preocupados com as emissões de poluentes do que com o dinheiro economizado com a gasolina), Prius e Fusion Hybrid são muito diferentes entre si. O primeiro é um híbrido nato, que dispensa luxos em favor de sua meta de vida, a eficiência.
O segundo, apesar de cumprir muito bem a função de um híbrido, às vezes dá sinais de que não foi concebido para isso, e sim adaptado. O belo Fusion é um carro maior, mais rápido e luxuoso, mas custa quase R$ 40 mil a mais que o Toyota. Pena que o visual do Prius seja exagerado demais até para o seu perfil de cliente descolado.
Ford Fusion Hybrid | Toyota Prius | |
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ACELERAÇÃO | ||
0 a 100 km/h: | 10,2 s | 12,1 s |
0 a 1000 m: | 31,6 s | 33,4 s |
VELOCIDADE MÁXIMA*: | n/d | n/d |
RETOMADAS | ||
De 40 a 80 km/h (em D): | 4,9 s | 7,3 s |
De 60 a 100 km/h (em D): | 7,1 s | 7,8 s |
De 80 a 120 km/h (em D): | 9,1 s | 10,1s |
FRENAGENS | ||
60/80/120 km/h a 0: | 17/28,8/62,2 m | 16,2/28,8/66,2 m |
CONSUMO | ||
Urbano: | 19,2 km/l | 23,8 km/l |
Rodoviário: | 16,8 km/l | 18,2 km/l |
* Dados do fabricante |
Ford Fusion Hybrid |
Toyota Prius |
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Preço inicial: | R$ 160.900 | R$ 126.600 |
Motor: | gas., diant., transv., 4 cil., 16V, 1.999 cm³, 143 cv a 6.000 rpm, 17,8 mkgf a 4.000 rpm + elétrico = potência somada de 190 cv | gas., diant., transv., 4 cil., 16V, 1.798 cm³, 98cv a 5.200 rpm, 14,2 mkgf a 3.600 rpm + elétrico de 72 cv = potência somada de 123 cv |
Câmbio/tração/direção: | aut. CVT, dianteira, elétrica | aut. CVT, dianteira, elétrica |
Suspensão: | McPherson (diant.) e multilink (tras.) | McPherson (diant.) e duplo A (tras.) |
Freios: | discos ventilados (diant.) e discos sólidos (tras.) | discos ventilados (diant.) e discos sólidos (tras.) |
Rodas e pneus: | liga leve, 235/45 R18 | liga leve, 195/65 R15 |
Dimensões: | comprimento, 487,1 cm; altura, 148 cm; largura, 185,2 cm; entre-eixos, 285 cm; peso, 1.670 kg; porta-malas, 392 l; tanque de combustível, 52,7 litros | comprimento, 454 cm; altura, 149 cm; largura, 176 cm; entre-eixos, 270 cm; peso, 1.400 kg; porta-malas, 412 l; tanque de combustível, 43 litros |