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R$ 60.000: Mobi Trekking e Kwid Outsider são retrato da economia do Brasil

Comprar carro novo (mesmo os mais baratos) ficou bem caro. Entre Mobi Trekking e Renault Kwid, qual opção é a melhor?

Por Henrique Rodriguez Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 14 out 2021, 17h10 - Publicado em 27 set 2021, 08h36
Mobi Trekking Kwid Outsider
A receita de molduras e plásticos é comum aos dois topos de linha (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Estes são os carros mais baratos do Brasil. O Fiat Mobi Easy parte dos R$ 46.940 e o Renault Kwid Life custa a partir de R$ 47.690. Parece o custo efetivo total de um financiamento (CET) com todos os juros compostos e taxas bancárias incluídos na soma com o preço do carro, mas não: é o preço de tabela mesmo.

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Com aqueles R$ 30.000 que eles custavam quatro anos atrás ficou difícil até encontrar um bom seminovo para comprar. O dinheiro foi corroído pela inflação e o combustível passou a ser vendido a peso de ouro. Até o degrau para modelos maiores (no caso da Renault, o Sandero, e no caso da Fiat, o Argo) aumentou também.

A solução para ter algum conforto no andar de baixo da linha é se render às versões mais completas. São os carros que reunimos neste comparativo.

Fiat Mobi Trekking
Adesivos e teto preto diferem Mobi Trekking do antigo Way (Divulgação/Quatro Rodas)
Mobi Trekking
Mobi Trekking tem os mesmos bancos do Way, com ajuste de altura. Encosto traseiro perdeu rebatimento 60/40 quando recebeu cinto de três pontos (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O Renault Kwid Outsider custa R$ 60.290 e se destaca das demais versões pelo visual. As molduras dos faróis de neblina, a cobertura da base dos para-choques, as barras longitudinais no teto, bancos exclusivos e detalhes na cor laranja no painel garantem a devida caracterização como uma versão aventureira. Ou ajuda a disfarçar a simplicidade do projeto, como queira.

Não é muito diferente da estratégia do Fiat Mobi Trekking, que custa R$ 58.940. O curioso aqui é que a Fiat conseguiu transformar uma versão já conhecida e que havia saído de linha em uma versão inédita.

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O Mobi Trekking é um remake do antigo Mobi Way. Hoje, todo Fiat Mobi tem molduras nas caixas de roda e suspensão mais alta que a original (o vão livre aumentou dos 15,6 cm para 17,7 cm), mas a versão topo de linha ainda tem teto pintado de preto, adesivos pretos no meio do capô e base das portas, e capas pretas nos retrovisores.

MOBI TREKKING

Mas o desenho das rodas (opcionais de R$ 2.300, junto com os faróis de neblina), as barras no teto e até mesmo a padronagem da forração dos bancos é a mesma da antiga versão Way. Mas tudo isso foi feito de caso pensado na linha 2021, quando passou a exibir o novo logo da Fiat na grade.

Havia uma coisa que o comprador de qualquer carro dá valor e o Mobi não tinha até então: central multimídia. Por muito tempo, ou o compacto vinha com a fiação para som pronta, ou com um rádio simples, ou com um aparelho estranho que transformava o celular em central multimídia com o uso de um aplicativo, uma solução que fracassou.

Agora o Mobi Trekking tem de série a mesma central Uconnect com tela de 7 polegadas que equipa a Strada, com conectividade sem fio com Android Auto e Apple CarPlay. E nenhum outro compacto tem isso no Brasil.

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Mobi Trekking

O Renault Kwid também tem sua tela inteligente. Mas a central Media Nav só se integra aos smartphones por meio de fio, o que ainda é uma solução válida quando o carro não tem carregamento sem fio e a central apresenta engasgos, como é o caso do aparelho do Mobi. Por outro lado, a central do Renault tem sistema que ajuda o motorista a dirigir de forma mais econômica.

A lista de equipamentos dos dois compactos é equivalente, com ar-condicionado, vidros elétricos apenas nas portas dianteiras e direção assistida (elétrica no Kwid e hidráulica no Mobi).

Se o Renault tem airbags laterais, o Fiat permite ajustar a altura da coluna de direção e tem um console no teto com porta-objetos e um espelho para monitorar o banco traseiro herdado do Fiat Uno.

MOBI TREKKING
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Receitas diferentes no mesmo segmento

Para cumprir a missão de ter preço baixo, cada carro seguiu uma estratégia. Tecnicamente, o Mobi é uma versão encurtada do Uno, o que significa que seus 2,30 m de entre-eixos limitam o espaço no banco traseiro e também o porta-malas, de 235 litros.

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O Kwid consegue levar quatro adultos com menos aperto graças aos 2,42 m de entre-eixos, ainda que seja bem estreito. Seu porta-malas tem 290 litros, quando a média dos compactos até maiores que ele é de 280 l.

A mecânica também deixa nítida a diferença entre os projetos. O Mobi usa o conhecido motor quatro-cilindros 1.0 8V Fire Evo, com 75 cv e 9,9 kgfm. É um motor antigo, atualizado pela última vez em 2010, quando o Uno foi lançado.

Com o fim da produção do Uno e do Grand Siena, o que está previsto para a virada para 2022, o Mobi será o último Fiat equipado com esse motor. Argo e Cronos ficarão com o três-cilindros 1.0 6V Firefly de 77 cv e 10,9 kgfm, mais moderno e eficiente, que o Mobi abandonou em 2019.

Renault Kwid
Para-choque traseiro do Kwid Outsider tem aplique prateado (Fernando Pires/Quatro Rodas)

O Renault Kwid, por sua vez, usa um três-cilindros 1.0 12V com bloco compartilhado com o Sandero, mas com cabeçote mais simples. Ele até mantém o comando de válvulas duplo, mas sem variação no tempo de abertura, o que reduz a potência de 82 para 70 cv. O torque é de 9,8 kgfm.

Renault Kwid
Cabine do Kwid é estreita, mas há mais espaço para as pernas de quem viaja atrás. Porta-malas leva 290 litros, ante os 235 litros do Mobi (Fernando Pires/Quatro Rodas)

A falta de ajuste no tempo de abertura das válvulas não é a única ausência nesses motores. Eles também preservam o velho tanquinho de gasolina para partida a frio, não avançaram para o sistema de aquecimento do combustível na primeira partida.

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No Kwid, ainda há embreagem acionada por cabo (menos suave) e câmbio por varão que, ainda assim, tem os engates das marchas mais próximos entre si do que o câmbio do Fiat (comandado por cabos) e não arranha no engate da ré – o que a Fiat nunca conseguiu solucionar.

Quem dita o que é melhor entre eles é o dinheiro, o custo. A economia em plásticos, acabamentos e componentes mecânicos no Renault Kwid também se traduz em baixo peso. Efetivamente, ele tem 806 kg, ou 161 kg a menos que o Fiat Mobi.

Renault Kwid

Também por isso, o Kwid revelou tempos significativamente melhores nos testes de desempenho de QUATRO RODAS, com gasolina. Os 15,8 s no 0 a 100 km/h podem representar uma eternidade, mas ainda é mais rápido que o Mobi, que precisa de 17,9 s para alcançar os 100 km/h.

Em uso urbano, o Kwid roda meio quilômetro a mais com um litro de gasolina: 13 km/l contra 12,5 km/l. No rodoviário a vantagem segue, com o Kwid registrando 16,5 km/l, enquanto o Mobi tem média de 16,3 km/l. Pelas décadas e técnicas que separam os dois motores, a diferença deveria ser muito mais favorável ao Renault.

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Renault Kwid

Números não são tudo. Em movimento, cada um dos compactos tem comportamento dinâmico distinto. É curioso notar como a força do três-cilindros do Renault aparece mais cedo ao acelerar o carro, ainda que seja mais audível e faça com que o carro vibre mais.

O quatro-cilindros do Fiat é mais suave e claramente houve melhoria no isolamento acústico da cabine nos últimos anos, mas também nota-se que os diversos aperfeiçoamentos feitos no motor 1.0 Fire para favorecer seu consumo e suas emissões resultaram em um pedal de acelerador com respostas mais lentas e filtradas pela eletrônica. O motor do Kwid, mais novo, não precisa disso.

Renault Kwid
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

O ajuste na suspensão do Fiat Mobi para aumentar sua altura livre do solo, por incrível que pareça, deixou seu comportamento melhor. O curso da suspensão aumentou, mas a rolagem da carroceria não.

Inclusive, aproveitaram a suspensão dianteira McPherson com barra estabilizadora, como havia no Mobi Way – e que agora também está na versão intermediária Like.

O Renault Kwid segue a simplicidade e sofre por isso. Sua suspensão dianteira não tem barra estabilizadora e usa eixo rígido na traseira, em vez de eixo de torção.

Isso, combinado com amortecedores e molas de baixa carga e às bitolas estreitas, faz com que a carroceria role mais e seu funcionamento seja ruidoso. Além disso, nota-se que a suspensão dá batente ao passar mais rápido por uma lombada, o que não se nota no Mobi.

O Renault Kwid Outsider não tem refinamento técnico que justifique o preço mais alto que o do Fiat Mobi Trekking. Sua vantagem está nos airbags laterais e no espaço para as pernas no banco traseiro, o que permite que ele seja o único carro de uma família.

O Mobi economiza no espaço, mas a sensação de qualidade é a mesma que se tem em um Uno ou Strada. É um carro valente e prático para o dia a dia, que não obriga o motorista a se acostumar com economias, carroceria mais estreita ou volante de raio menor. O Kwid precisaria ser mais barato para ser interessante.

VEREDICTO

A simplicidade do Kwid se justifica nas versões intermediárias, que custam menos. Mas, frente ao Mobi Trekking, o Kwid Outsider é caro e não consegue justificar o que se cobra por ele.

Ficha técnica – Fiat Mobi Trekking

MOBI TREKKING
Motor do Mobi é o antigo 1.0 Fire de quatro cilindros. Câmbio de cinco marchas arranha ao engatar a ré (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Motor: flex, diant., transv., 4 cil. em linha, 8V, 999 cm³, 70 x 64,9 mm, 12,15:1, 75/73 cv a 6.250 rpm, 9,9/9,5 kgfm a 4.200 rpm
Câmbio: manual, 5 m., tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 175/65 R14
Peso: 967 kg
Dimensões: compr., 356,6 cm; larg., 163,3 cm; alt., 150; entre-eixos, 230,5 cm; porta-malas, 235 l; tanque de combustível, 47 l

Ficha técnica – Renault Kwid Outsider

Renault Kwid
Motor três-cilindros do Kwid é ruidoso, mas suficiente. Câmbio do Kwid é por varão, todavia não é ruim (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Motor: flex, diant., transv. 3 cil. em linha, 12V, DOHC, 999 cm³, 69 x 66,8 mm, 10:1, 70/66 cv a 5.500 rpm, 9,8/9,4 kgfm
a 4.250 rpm
Câmbio: manual, 5 m., tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo rígido (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 165/70 R14
Peso: 806 kg
Dimensões: compr., 369 cm; larg., 158,6 cm; alt., 147,4; entre-eixos, 242,3 cm; porta-malas, 290 l; tanque de combustível, 38 l

TESTE COMPARATIVO FIAT MOBI x RENAULT KWID

FIAT MOBI RENAULT KWID
Aceleração
0 a 100 km/h 17,9 s 15,8
0 a 1.000 m 38,8 s – 129-5 km/h 37 s – 137,2 km/h
Velocidade Máxima 180 km/h (dado de fábrica) 180 km/h (dado de fábrica)
Retomadas
3ª 40 a 80 km/h 10,8 s 9,5 s
4ª 60 a 100 km/h 17,5 s 16,1 s
5ª 80 a 120 km/h 34,8 s 27,2s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0 18/29,5/66 m 15,3/27,5/63,1 m
Consumo
Urbano 12,5 km/h 13 km/l
Rodoviário 16,3 km/l 16,5 km/l
Ruído Interno
Neutro / RPM Máx. 47,7/71,3 dBA 41,5/73,3 dBA
80/120 km/h 69,3/73,9 dBA 66,6/73,8 dBA
Aferição
Velocidade real a 100km/h 95 km/h 100 km/h
Rotação do motor a 100 km/h em 5ª marcha 3.000 rpm 3.250 rpm
Volante 2,5 voltas 3,5 voltas
Seu bolso
Preço básico R$ 58.940 R$ 60.290
Concessionárias 520 295
Garantia 3 anos 3 anos

Condições de teste: alt. 660 m; temp., 28/29,5 °C; umid. relat., 45/59%; press., 1.012,5/1.013,5 mmHg

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CAPA quatro rodas setembro edição 749
(arte/Quatro Rodas)
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