Chevrolet Cruze 1.4 Turbo LTZ II x VW Jetta 2.0 TSI Highline
Eles têm preços semelhantes, mas propostas diferentes. Um oferece doses generosas de conforto e tecnologia; o outro, desempenho de esportivo
O segmento de sedãs médios ainda é um lugar onde cada marca possui identidade bem definida. Corolla e Sentra são sóbrios e conservadores. O Civic sempre teve certo apelo mais jovem, com direito a versões esportivas. Jetta é para quem aprecia a dinâmica alemã vestida de uniforme. Correndo por fora, C4 e Focus possuem público pequeno, mas fiel às suas qualidades.
Vencedor dos últimos comparativos entre sedãs médios, o Cruze LTZ 1.4T enfrenta aqui o carro que, apesar de envelhecido, ainda é a referência em desempenho na categoria, o Jetta Highline 2.0 TSI. Mas é justo comparar um 1.4 com um 2.0? Pelos critérios de preço, espaço e carroceria, sim.
Preço
O Cruze LTZ 1.4T parte de R$ 102.990. Com o único pacote de opcionais disponível, chamado de R7F no configurador da Chevrolet, o valor sobe para R$ 112.990. É a configuração que testamos e recomendamos pelo custo-benefício dos equipamentos adicionados.
Após a recente redução de preços, o VW Jetta Highline 2.0 TSI tem preço inicial de R$ 108.248. Para ficar mais próximo do Cruze completo, adicionamos o pacote de opcionais Exclusive, que eleva o valor para R$ 113.588. Até aqui, empate técnico. Mas o conteúdo é bem diferente.
Equipamentos
O Jetta oferece de série ar-condicionado digital bizona com porta-luvas refrigerado, direção elétrica, volante multifuncional com paddle shifts, piloto automático, painel com computador de bordo, bancos com revestimento imitando couro, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros e central Composer Media com touchscreen, Bluetooth, App-Connect, CD-Player e entrada USB.
Entre os itens de segurança há controles de estabilidade e tração, bloqueio eletrônico do diferencial, assistente de partida em rampas, indicação de perda de pressão dos pneus e seis airbags (frontais, laterais e de cortina).
O pacote Exclusive acrescenta sensores de chuva e crepuscular, bancos de couro com aquecimento nos dianteiros, retrovisor interno antiofuscante e espelhos retrovisores rebatíveis eletricamente com função tilt-down. E só. Parece pouco para um carro tão caro.
Já o Cruze tem cardápio mais recheado. Com o pacote R7F (também chamado de LTZ 2, ou Plus), ele oferece tudo o que o Jetta com pacote Exclusive tem, mais uma série de diferenciais como sistema start-stop, acionamento da ignição e do ar-condicionado por controle remoto, bancos com ajustes elétricos, piloto automático adaptativo, alerta de colisão frontal, alerta de ponto cego, assistente de permanência em faixa, farol alto adaptativo, carregador de celular wireless e sistema de estacionamento semi-automático.
Para o Jetta ficar mais próximo da lista do Cruze, seria preciso adicionar o pacote Premium, que eleva o preço do carro para R$ 120.166. Se for adicionado o teto solar panorâmico, como no carro das fotos, a conta chega a R$ 124.666 – bem mais que o Chevrolet e próximo do Honda Civic Touring 1.5 Turbo.
Estilo e acabamento
A aparência do Jetta é típica de um Volkswagen, com traços simples e horizontais que dispensam longas descrições. O para-choque dianteiro tem grandes aberturas que alargam visualmente o modelo, enquanto a saída dupla de escapamento na traseira e as rodas de 17 polegadas dão esportividade na medida ao sedã.
O interior repete a sobriedade alemã da carroceria com linhas retas e materiais de boa aparência e qualidade, como o de toque macio utilizado no painel. O refinamento de construção é muito superior à da linha Gol, se aproximando bastante do padrão da Audi. O visual interno, porém, está datado e pede novidades.
No caso do novo Cruze, a ordem foi deixar para trás o visual careta da antiga geração e adotar um estilo que sugerisse mais esportividade, por isso a dianteira baixa e cheia de vincos, faróis afilados (escurecidos e dotados de leds), além da traseira alta com lanternas que imitam a iluminação do novo Camaro. Na versão LTZ, as rodas de 17 polegadas são pintadas em grafite e as janelas têm contorno cromado.
Por dentro, o painel tem aparência mais interessante que o do VW, mas passa uma impressão de solidez de construção um pouco inferior, com encaixes menos precisos e materiais de toque menos agradável — apenas a porção inferior é macia e revestida de couro com costuras aparentes.
O Cruze também pode desagradar determinados clientes por não oferecer outras opções de revestimento senão o bege claro, que suja com muita facilidade e ainda divide opiniões. No mais, os insertos cromados e a iluminação azul garantem o bom ambiente.
Motorização
O Jetta Highline é equipado com um motor 2.0 TSI (turbo de injeção direta) abastecido apenas a gasolina, com 211 cv e 28,6 mkgf, sempre acompanhado do câmbio automático DSG de seis marchas (com possibilidade de troca pelas aletras atrás do volante). Por sua vez, o Cruze leva um 1.4 turbo flex de injeção direta com 153/150 cv e 24,5/24 mkgf quando abastecido com etanol/gasolina. O câmbio também é automático de seis marchas.
Com maior potência e torque, o VW logicamente anda mais, mas cobra seu preço com um consumo também maior que o supreendentemente econômico motor 1.4 turbo do Cruze. A caixa DSG automatizada de dupla embreagem (mantida no 2.0, enquanto o 1.4 TSI agora traz a Tiptronic) também mostra funcionamento mais rápido e empolgante que a transmissão automática convencional do Cruze.
Ao volante
O Jetta é um caso de dupla identidade: ele pode ser manso como um típico carro de família ou agressivo como um hatch esportivo. O motor é silencioso (apesar de ser quase o mesmo do barulhento Golf GTI) e as trocas de marcha quase que imperceptíveis.
Por causa do DSG, a versão 2.0 consegue ter um comportamento mais linear que o 1.4 atrelado ao câmbio Tiptronic das configurações inferiores, permitindo uma modulação mais precisa do acelerador – que é pivotado no assoalho, característica importante para quem realmente gosta de dirigir.
Isso também garante as boas médias de consumo de 10,3/14,2 km/l em ciclos urbanos/rodoviários, sempre com gasolina. Porém, basta ativar o modo Sport na alavanca do câmbio para que o Volks revele um comportamento quase assustador para o segmento, esbanjando força em qualquer situação.
Ele leva apenas 7,5 segundos para ir de 0 a 100 km/h e 4,6 para a retomada de 80 a 120 km/h. Os números de frenagem, porém, decepcionaram: a unidade avaliada levou 66,1 metros para ir de 120 km/h a 0, enquanto o Jetta 1.4 TSI fez a mesma prova em 58,2.
Vale lembrar que, ao contrário do que houve com o Golf 1.4 TSI e o Audi A3 nacionais, o Jetta manteve a suspensão multilink na traseira. Apesar do rodar firme e sólido, com estabilidade exemplar em curvas, ele oferece boa absorção das imperfeições, além de conforto e espaço para todos os ocupantes.
Quem vai atrás tem bom espaço para as pernas e a vantagem das saídas exclusivas de ar-condicionado. O porta-malas também é um trunfo, com seus 510 litros.
Já o Cruze, mesmo andando muito bem, se destaca mesmo é pela suavidade do conjunto. O motor 1.4 turbo flex de 153/150 cv nem parece turbinado — e isso é bom. As acelerações são feitas sem trancos ou sustos, características reforçadas pelos bons escalonamento e trocas do câmbio de seis marchas.
Os números de aceleração e retomada são ótimos, mas menos exuberante que os do Jetta – de 0 a 100 km/h em 9 segundos (sempre com gasolina), com retomada de 80 a 120 km/h em 6 segundos.
As médias de consumo e as frenagens do GM foram melhores: 11,8/15,9 km/l em ciclo urbano/rodoviário com gasolina e 64,1 metros para ir de 120 km/h a 0 (veja mais dados de testes na tabela no final do comparativo).
Ao rodar, chama a atenção (novamente!) a suavidade e o excelente ajuste da suspensão. Mesmo com eixo de torção na traseira, sua dinâmica é exemplar, oferecendo mais maciez que o Jetta no uso diário, sem comprometer a segurança em rodovias.
Seu comportamento é menos esportivo e tentador que o do sedã alemão, mas para um perfil de cliente mais conservador, isso pode até ser considerado vantagem.
Também com conforto e espaço de sobra, o Cruze fica para trás pelo menor porta-malas (são 440 litros) e ausência de saídas de ar para os ocupantes traseiros.
Os diversos sistemas de assistência, aparentemente criados para impressionar os vizinhos, têm grande serventia no dia-a-dia. Os mais interessantes são os que coíbem mudanças involuntárias de faixas e aproximação do veículo à frente.
O primeiro só funciona entre 70 e 180 km/h e pode ser tido como invasivo para quem não está acostumado, já que o volante se movimenta sozinho para que o motorista não ultrapasse as faixas sem devida sinalização — aqui, destaque para a falta de repetidores de seta laterais.
O segundo funciona a partir dos 40 km/h e indica no quadro de instrumentos o nível de aproximação do veículo à frente. Caso a situação se torne perigosa, o motorista é alertado por avisos sonoros e visuais (uma fileira de leds vermelhos pisca próximo ao para-brisa).
Em nosso primeiro contato, o sistema se mostrou um tanto afoito, disparando o alerta em situações desnecessárias. Mas é possível ajustar o seu nível de atuação para eliminar o incoveniente.
Pós-venda
O conjunto mecânico superior do Jetta pesa na hora dos custos. As seis primeiras revisões, até 60.000 km, saem pelo total de R$ 4.159. Para o Cruze, os mesmos serviços custam R$ 3.072. No quesito de rede, ambas as fabricantes divulgam a operação de 600 concessionárias no país.
A garantia de três anos também é comum para ambos. Em 2016, a edição especial Os Eleitos, de QUATRO RODAS, classificou a rede Chevrolet em 5º lugar, com 94,8 pontos, contra 91,9 da Volkswagen (9ª posição).
Veredicto
Este é o tipo de comparativo em que o perfil de consumidor define a melhor escolha. Vencedor da edição especial de Melhor Compra 2016, o Cruze possui equipamentos tecnológicos inexistentes no Volks, visual atualizado, menor custo de manutenção e vantagem no preço quando os pacotes opcionais do Jetta são adicionados.
Do lado da Volks, o desempenho e a dinâmica do Jetta 2.0 TSI impressionam e ainda são referências, e justificam sua escolha caso o que você busque seja (como diz a propaganda) um esportivo vestido de sedã.
Considerando que o modelo mais vendido do segmento continua a ser o conservador Corolla, o novo Cruze parece mais adequado para o perfil tradicional de compradores de sedãs médios. Tem uma lista de itens de série difícil de ser batida, desempenho mais que adequado e conforto e suavidade ao rodar. É a escolha racional desse comparativo. Mas se o que realmente te move é acelerar…
Mas e o Jetta 1.4 TSI?
O Jetta 1.4 TSI começa em R$ 80.741 na versão Trendline com câmbio manual e chega a R$ 99.895 na versão Comfortline com teto solar elétrico – o único opcional oferecido atualmente. Debaixo do capô está um 1.4 turbo de injeção direta a gasolina de 150 cv e 25,5 mkgf, sempre acompanhado do câmbio automático Tiptronic de seis marchas.
A configuração que concorre diretamente com o Cruze LT (R$ 91.890) é a Comfortline sem o teto solar (R$ 93.936). Ela oferece de série quatro airbags, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, piloto automático, ar-condicionado digital bizona, assistente para rampas, controles de estabilidade e tração, bloqueio eletrônico do diferencial, direção elétrica, retrovisores elétricos com luzes de direção, faróis de neblina, volante multifuncional com paddle shifts e sistema Composition Media com touchscreen, CD-Player, App-Connect e bluetooth.
Apesar de mais barato, o pacote do Cruze LT é um pouco melhor, oferecendo como diferenciais as rodas aro 17 (o Jetta Comfortline tem aro 16), câmera de ré e sistema start-stop.
O Jetta com motor 1.4 TSI mantém a excelente dirigibilidade do irmão mais caro, mas acaba prejudicado pelo funcionamento confuso do câmbio Tiptronic, que alterna momentos de sonolência com arranques inesperados. Na pista, o Cruze deixa o Jetta 1.4 para trás na aceleração de 0 a 100 km/h (9,0 s contra 10,3 s) e na retomada de 80 a 120 km/h (6,0 s contra 6,7 s), e ainda bebe menos.
Ou seja: o Jetta 1.4 TSI não oferece a performance arrasadora do 2.0 TSI, e continua equipado com uma lista de itens de série um pouco inferior. A escolha aqui é bem mais fácil: Cruze.
Chevrolet Cruze LTZ | Volkswagen Jetta Highline | |
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ACELERAÇÃO | ||
0 a 100 km/h | 9 s | 7,5 s |
0 a 1000 m | 30,1 s / 178,1 km/h | 27,6 s / 196,6 km/h |
VELOCIDADE MÁXIMA: | 214 km/h* | 241 km/h* |
RETOMADAS | ||
De 40 a 80 km/h | 3,8 s | 3 s |
De 60 a 100 km/h | 4,9 s | 3,7 s |
De 80 a 120 km/h | 6 s | 4,6 s |
FRENAGENS | ||
60/80/120 a 0 km/h | 14,7/26,8/64,1 m | 17/28,4/66,1 m |
CONSUMO | ||
Urbano | 11,8 km/l | 10,3 km/l |
Rodoviário | 15,9 km/l | 14,2 km/l |
* Dado de Fábrica |
Chevrolet Cruze LTZ | Volkswagen Jetta Highline | |
---|---|---|
Preço: | R$ 102.990 (R$ 112.990 na versão avaliada) | R$ 108.248 (R$ 113.588 na versão avaliada) |
Motor: | Flex, diant., longit., 4 cil., 1.399 cm3, 16V, 153/150 cv a 5.200/5.600 rpm, 24,5/24 mkgf a 2.000/2.100 rpm | Gasolina, diant., longit., 4 cil., 1.984 cm3, 16V, 211 cv a 5.500 rpm, 28,6 mkgf a 2.000 rpm |
Câmbio: | Automático, seis marchas, tração dianteira | Automatizado de dupla embreagem, seis marchas, tração dianteira |
Suspensão: | McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.) e multilink (tras.) |
Freios: | Disco nas quatro rodas | Disco nas quatro rodas |
Rodas e pneus: | liga leve, 215/50 R17 | liga leve, 225/45 R17 |
Dimensões: | comprimento, 466,5 cm; largura, 180,7 cm; altura, 148,4; entre-eixos, 270 cm; peso, 1.321 kg; porta-malas, 440 l; tanque de combustível, 52 l | comprimento, 465,9 cm; largura, 202 cm; altura, 147,3; entre-eixos, 265,1 cm; peso, 1.376 kg; porta-malas, 510 l; tanque de combustível, 55 l |