O dia em que eu fui convidada a ver o futuro da Nissan
Vivi uma jornada, indo atrás de informação e voltando para contar aos leitores. Mas a espera para compartilhar as notícias é algo difícil

Atualmente a Nissan passa por um momento financeiro complexo, tendo anunciado o maior prejuízo de sua história, de 670 bilhões de ienes (cerca de R$ 25 bilhões), no fechamento do último ano fiscal. Há um plano de reestruturação em andamento, para que a empresa possa evitar um colapso.
Essa, porém, não era a realidade em outubro de 2023, data em que aconteceu o Salão do Automóvel de Tóquio e a Nissan convidou QUATRO RODAS para viajar ao Japão. Na ocasião, coube a mim representar a QR nesse evento internacional.
A cobertura de um Salão implica em “gastar muita sola de sapato”, como se costuma dizer entre os jornalistas do setor, e foco para se conseguir identificar as notícias que merecem destaque. Naquele ano, a estrela do evento (para os brasileiros, pelo menos) foi a nova Mitsubishi Triton no estande dedicado a marca e foram destaques também os concept cars futuristas, no estande da Nissan. O Hyper Force foi inspirado em jogos de videogame. Já o Hyper Punk exibia uma carroceria com formas e linhas geométricas. De perfil, parecia um Hot Wheels.
No dia seguinte à cobertura do Salão, ainda exausta da saga de percorrer os inúmeros corredores dos pavilhões de exposição, segui a programação organizada pela Nissan, que propunha uma atividade misteriosa. Entrei no transfer sem saber para onde iria. Somente após uma hora de viagem, quando o ônibus estacionou na frente de um prédio com uma arquitetura diferenciada, identifiquei que se tratava do Centro de Design Global da Nissan, também conhecido como Nissan Technical Center (NTC), localizado em Atsugi (50 km de Tóquio).
Antes de descer do ônibus, tive de assinar um termo de confidencialidade, no qual eu me comprometi a não divulgar nenhuma informação que obtivesse durante a visita. A assinatura desses documentos faz parte da cerimônia quando se visita centros de desenvolvimento. Porém, naquele momento eu não tinha a dimensão do que encontraria lá dentro.
Fomos direcionados a um salão de apresentações de design, que tinha sido recém-inaugurado, e impressionava com uma tela curva de 44 metros com resolução 24K, que preenchia todo o espaço e era acompanhada por uma tela de teto colorida. O espaço contava ainda com um sistema de som de 7.1 canais que favorecia a imersão no ambiente.
Quem comandou as atividades foi o então VP sênior global de produto, o mexicano Ivan Espinosa, que recentemente assumiu como CEO mundial da marca. O executivo explicou que aquela sala utiliza um mecanismo de jogo para criar conteúdos de projeção, reproduzindo em tempo real diversos ambientes com alto senso de realismo. A fala soou para mim como um tipo de boas-vindas aos visitantes, como o dono da casa que exibe o novo sistema de cinema adquirido. Porém, mais tarde, entendi o porquê daquele discurso.
Na sequência, falou o chefe mundial de design, o americano Alfonso Albaisa, e ele anunciou que aquele grupo de jornalistas do mundo todo, cerca de 30 profissionais, teria a oportunidade de conhecer os próximos lançamentos da marca até o final da década. Sim. Veríamos tudo que a Nissan planejava lançar mundialmente até 2030, ou seja: nos próximos sete anos, a partir daquele dia.
Um vídeo começou a ser exibido, com a imagem de um drone sobrevoando uma dezena de carros em um deserto. Conforme o drone se aproximava era possível perceber a admiração dos jornalistas a meu redor. Mas a minha preocupação era registrar na memória os detalhes de design dos modelos importantes para o Brasil, como os futuros Kicks e Leaf (mesmo tendo assinado um termo de confidencialidade, que eu respeitaria). Conforme o drone se aproximava dos carros, mostrando os detalhes de cada um, eu me arrepiava. Mas o melhor ainda estava por vir.

Enquanto o vídeo acontecia, uma persiana automática começou a se abrir bem perto de onde eu estava e atrás de uma porta de vidro já era possível ver alguns dos carros que estavam no vídeo. Quando todos entenderam que nós poderíamos ver de perto os lançamentos, uma comoção tomou conta e eu não conseguia acreditar.
Um dos primeiros que vi foi a nova geração do Leaf, a terceira, e fiquei impactada pelo design limpo com faróis interligados e maçanetas ocultas, além do novo porte de SUV e não mais de hatchback.

Porém, ao avistar a nova Frontier, fui logo ao seu encontro. Sim. A nova geração da picape que ainda não foi revelada e só chega em 2026. Imagine a sensação de vê-la de perto sem nada de camuflagem lá em 2023. O design futurista e disruptivo do exterior e interior me impactou e acredito que essa ousadia vai agradar o público.

Entrei na picape e pude constatar uma melhora no espaço interno e era algo esperado, pois sua irmã de plataforma, a Mitsubishi Triton, também havia crescido, como eu havia visto no dia anterior, no Salão.
Outro que me impactou foi o Kicks, que será lançado nos próximos meses, e tive a oportunidade de observar o novo conjunto óptico composto por quatro DRLs paralelos que acompanham o farol principal, concedendo uma nova identidade visual para a Nissan. Suas dimensões eram claramente maiores, sendo mais alto e comprido.
Entrei e verifiquei que o entre-eixos também havia sido alongado e o espaço na segunda fileira era mais generoso. Na frente, duas telas digitais paralelas combinadas com o console central mais elevado me impactaram positivamente.
Saí do Kicks inconformada por não poder compartilhar o que via com os leitores, afinal esse era o combinado, registrado, documentado. E a minha indignação foi só aumentando, porque no fim daquele dia cheguei a ver 60 modelos inéditos, alguns ainda em desenvolvimento e sem formas definidas, mas passou diante dos meus olhos todo o futuro da Nissan.

Não podia e ainda não posso contar boa parte do que está por vir. Os modelos que citei neste texto foram mostrados em uma apresentação para a imprensa mundial em março deste ano e por esse fato a marca decidiu nos liberar para contar, o que fez com que o segredo deixasse de existir. Mas há ainda muitos outros para serem liberados. O SUV subcompacto que conviverá com o Kicks aqui no Brasil, que será lançado durante o ano que vem, é um dos ainda embargados.
Esse dia marcou a minha carreira. Me fez aprender que faz parte da profissão manter o sigilo e que experiências como essa ajudam a entender o modus operandi das marcas.