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Volkswagen se desculpa após garantir que mudança de nome era verdade

Após confirmar, mais de uma vez, que mudança para Voltswagen era verdadeira, montadora pede desculpas pela mentira e alega pegadinha feita no mês errado

Por Eduardo Passos
Atualizado em 31 mar 2021, 18h19 - Publicado em 31 mar 2021, 17h55
Amarok é o único veículo envolvido no dieselgate vendido no Brasil
Seja por parte de imprensa ou público, Volkswagen comprometeu sua imagem e trouxe lembranças do vergonhoso dieselgate (Divulgação/Volkswagen)

Existem ações de marketing e pegadinhas. A Volkswagen tentou fazer ambos e, após uma série de erros, pediu desculpas pela execução desastrosa de sua falsa mudança de nome nos Estados Unidos. Em textos discretos, a companhia assumiu responsabilidade “pela confusão” e, apesar da onda de críticas e piadas, julgou positiva a reação do público à hipotética “Voltswagen”.

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Tudo começou na última segunda-feira (29), quando a montadora divulgou, por alguns instantes, um comunicado de imprensa incompleto anunciando sua mudança de nome nos EUA para “Voltswagen”, antes de tirá-lo do ar. O contexto indicava se tratar de uma brincadeira do Dia da Mentira vazada acidentalmente, sem grande repercussão.

As coisas mudaram na tarde de terça (30), quando a companhia republicou a nota, endossando a medida. O texto era sério e estava disponível na seção de comunicados oficiais da companhia, apresentando a lógica por trás da estratégia. Havia aspas do CEO americano, Scott Keogh, e não existia nenhum aviso (praxe nesse tipo de ação) de que se tratava de uma brincadeira de 1º de abril no mês errado.

Diversos veículos da imprensa americana ainda recorreram a porta-vozes da companhia que, mais uma vez, confirmaram a mudança. A nova Voltswagen representaria um comprometimento ainda maior com a eletrificação e animou o mercado financeiro, onde as ações da companhia dispararam. Mas era tudo mentira.

Volkswagen, combustíveis e fraudes

Depois da repercussão, a Voltswagen confirmou seu novo nome
Depois da repercussão, a Voltswagen confirmou seu novo nome e se desmentiu (Divulgação/Volkswagen)

O desastre de relações públicas começou a ser desmascarado quando a Volkswagen alemã também foi pega de surpresa e, de maneira extraoficial, negou a mudança. Pressionada por jornais de todo o planeta, a montadora demorou, mas admitiu timidamente seu erro.

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Volkswagen ID.4
Mentira fazia parte da estratégia de lançamento do carro elétrico ID.4 nos Estados Unidos (Divulgação/Volkswagen)

Ao contrário do anúncio falso, feito com pompa, postagens em redes sociais (que ainda estão no ar) e um extenso comunicado, o mea culpa foi bem discreto. “O que começou como uma pegadinha de 1º de abril colocou o mundo em rebuliço. Acontece que as pessoas são tão apaixonadas pelo nosso legado quanto são por nosso futuro elétrico”, dizia a postagem no Twitter, ignorando repercussão extremamente negativa mesmo antes da mentira ser assumida.

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A questão do legado se tornou ainda mais irônica dado que a montadora é responsável por uma das maiores fraudes ambientais da indústria automotiva, conhecida como escândalo do dieselgate.

Caso Dieselgate provocou perdas financeiras e de reputação gigantes à Volkswagen nos Estados Unidos
Caso Dieselgate provocou perdas financeiras e de reputação gigantes à Volkswagen (Lucy Nicholson/Reuters/Reprodução)

O golpe, descoberto pelo governo dos EUA, consistia num engenhoso mecanismo nos carros a diesel da marca, que detectava quando estavam sendo testados pelos órgãos reguladores. Em laboratório, os motores funcionavam dentro da lei, enquanto na rua as emissões de poluentes eram até 40 vezes maiores que o permitido.

Ao todo 11 milhões de unidades traziam o componente criminoso, cuja descoberta levou à demissão do presidente do conglomerado e mais de R$ 150 bilhões em multas ao redor do mundo. Um estudo aberto e revisado pela comunidade científica foi publicado na revista Environmental Research Letters, estimando que, apenas nos EUA, 59 mortes prematuras foram causadas pelo excesso de poluição emitido na surdina.

Fraude da Volkswagen virou um dos temas centrais da série "Na Rota do Dinheiro Sujo", disponível na Netflix
Fraude da Volkswagen virou um dos temas centrais da série “Na Rota do Dinheiro Sujo”, disponível na Netflix (Netflix/Divulgação)

Só no Brasil, 17.057 unidades da picape Amarok tiveram que passar por recall e a Volkswagen do Brasil foi condenada a mais de R$ 1 bilhão em multas por crimes ambientais, danos morais e danos materiais. Desde então a empresa de Wolfsburg virou até episódio da série “Na Rota do Dinheiro Sujo”, da Netflix, e vem se esforçando para se recuperar da mácula, usando seus novos carros elétricos como propaganda.

Falta de noção

Pegadinhas no Dia da Mentira são comuns, e a própria imprensa gosta de repercuti-las. Entretanto, há uma série de códigos usados para que, na infeliz coincidência de um evento importante ocorrer nesse dia, seja possível diferenciar coisa séria de brincadeira.

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volkswagen-taigo
Trapalhada ofuscou o lançado do VW Taigo (Divulgação/Volkswagen)

A Volkswagen desrespeitou tudo e, além de ter se confundido no uso do calendário, reforçou a diferentes jornalistas de que não se tratava de uma ação de marketing.

Convenhamos: como piada o trocadilho “Voltswagen” é muito ruim. 

Piorando tudo, a fabricante só assumiu o erro sob intensa pressão, divulgando, além do tweet, um comunicado à agência AFP. “Percebemos que o anúncio incomodou algumas pessoas e pedimos desculpas pela confusão causada”, disse o assessor Brendan Bradley na mensagem.

“As várias respostas positivas nas mídias sociais mostraram que a campanha ressoou entre os consumidores”, completou Bradley, aparentemente desinformado sobre a reação negativa por parte de vários usuários, que ironizaram o suposto “legado” da empresa citando sua colaboração com a Alemanha Nazista no esforço da Segunda Guerra Mundial. Coincidentemente, o Ministério Público divulgou relatório ainda hoje sobre a participação da sucursal brasileira na violação de direitos humanos durante a Ditadura Militar.



Ao mesmo tempo, diversos executivos da imprensa protestaram publicamente ao redor do mundo, ressaltando a perda de credibilidade e o risco desse tipo de ação no momento de combate a notícias falsas.

O diretor global da AFP, Phil Chetwynd, foi um desses, destacando “acreditar firmemente que jornalistas e veículos de mídia sérios não devem ser usados por empresas como a Volkswagen para propósitos de marketing e propaganda. Para nós é uma quebra de confiança muito grave, que não deve se repetir”.

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17 mil unidades da picape se envolveram no recall brasileiro do dieselgate
17 mil unidades da picape se envolveram no recall brasileiro do dieselgate (Divulgação/Volkswagen)

Chetwynd ainda repudiou com veemência o papel de assessores que confirmaram, explicitamente, não se tratar de uma pegadinha. “Entendemos quando um porta-voz não pode dizer. Mas nunca esperamos que eles façam afirmações mentirosas”, completou.

Professor de marketing na Universidade Northwestern, Tim Calkins reforçou o problema social da aparentemente inofensiva brincadeira. “A curto prazo você pode enganar as pessoas e isso parecer legal e divertido. Mas, a longo prazo, é necessário uma relação positiva e saudável com a mídia. Para uma companhia que já possui problemas de credibilidade, esse foi um movimento muito estranho”, opinou.

A novela promete novos capítulos, e há até risco da empresa ser punida por manipulação do mercado financeiro, animado com o aparente foco ainda maior no mundo dos carros elétricos que o nome “Voltswagen” sugeriu.

Se os novos veículos elétricos da Volkswagen prometem fazer frente a concorrentes como a Tesla, será necessário ver o mercado num futuro próximo. A curto prazo, entretanto, o assunto será lembrado como uma trapalhada de proporções incomuns.

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