A busca por energias limpas, renováveis ou de origem sustentável, vem movimentando a indústria de diversas formas. Nosso carro do Red Bull Ladeira Abaixo deste ano, batizado Mosquito Prateado pelos leitores em nosso Instagram, usou a mais limpa e constante delas em Ribeirão Preto: a gravidade.
Assim como em 2019, criamos um carro para participar do Red Bull Ladeira Abaixo, versão nacional do tradicional Soapbox Race, organizado pela empresa de energéticos mundo afora desde 2000.
Desta vez a competição, autoproclamada corrida mais maluca do mundo, aconteceu em Ribeirão Preto (SP), descendo a avenida Wladimir Meirelles Ferreira. Muito mais íngreme e desafiadora do que a ladeira da Rua da Consolação, em São Paulo (SP), onde estreamos na competição.
Se há três anos a intenção foi comemorar os 50 anos do Puma GT 4R, único carro do mundo a ter sido encomendado por uma revista para ser sorteado exclusivamente entre seus leitores, desta vez tentamos fazer algo menos profissional e ainda mais divertido.
Rampas mais altas para dar saltos, um bump de terra e curvas em S para a direita e a esquerda eram os principais desafios, agravados por uma nuvem de espuma na reta final da descida. Por isso, fizemos um carro de Fórmula 1 (o mais limpo do mundo, por sinal) com características de SUV. Tudo é SUV atualmente…
O projeto e fabricação ficou a cargo de David Padrão, que já havia feito o GT 4R em miniatura e é especialista em minicarros, com ou sem motor, há mais de 20 anos.
Destacando o lado sustentável da empreitada, David recuperou um chassi de buggy dos anos 1970. O entre-eixos foi encurtado, houve reforços na suspensão (o maior curso traseiro foi providencial nas aterrisagens após os saltos) e a cambagem aberta nas rodas dianteiras ajudaria a dar estabilidade nas curvas diante do comportamento arisco do carrinho.
Mas houve mais ajustes. As rodas traseiras, que originalmente eram blocadas e giravam juntas, ganharam independência: o eixo foi cerrado e cada lado recebeu novos mancais. Isso evitaria saídas de traseira involuntárias mas, como o freio a disco traseiro passaria a atuar apenas na roda traseira direita, para dar cavalo de pau bastaria pisar no freio e jogar o carro.
Melhor que isso: em nossos testes, os grandes pneus traseiros cantaram alto no cavalo de pau. Teria sido marcante se, na hora da descida oficial, não estivesse chovendo.
Todas as peças, vale frisar, foram reaproveitadas e o chassi está pronto para evoluções. O que poderia ser mais sustentável que isso?
Duas descidas?!
Mais uma vez, coube a mim a missão de ser o piloto. O Mosquito Prateado, nosso monoposto com chassi tubular, carroceria de fibra de vidro e aerofólio da Fórmula 3 (não, não estamos mentindo) despertou a curiosidade de quem passou pelo paddock ao longo da manhã, pois foi um dos últimos carros a descer.
Tudo parecia acontecer como em 2019, com nosso carro escalado para descer após os competidores, como carro de demonstração. Mas só tivemos a experiência da descida: a chuva atrasou a transmissão ao vivo, que foi encerrada sem avisar que havia outros carros para descer. E o publico, que já estava cansado de tanta chuva, se foi.
Com o evento todo concentrado nas coletivas de imprensa que estavam ocorrendo atrás da rampa de descida e por erro de comunicação da organização do evento, nossa descida foi autorizada sem coreografia da equipe, sem música e sem anúncio para que pelo menos o resto da nossa equipe pudesse registrar toda a descida. Pior: nem mesmo a Red Bull filmou a descida.
Os principais registros de foto e vídeo que temos, porém, impressionam: o carro realmente conseguiu aproveitar a gravidade para andar rápido. Confira o reels:
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O cavalo de pau tardio acabou acontecendo praticamente em cima do feno, com o carro tombando para o lado. É uma situação assustadora, mas foi fácil desentortar e não me machuquei. Mas sim, respirei espuma. O carro, porém, ficou ligeiramente danificado.
Diante do ocorrido, a Red Bull rapidamente nos convidou a descer de novo, desta vez com tudo sendo gravado, mas ainda sem a parte da apresentação e coreografia, até porque já não havia mais público. E lá fomos nós de novo, o único carro que desceu aquela ladeira duas vezes.
Mas o carro não era mais o mesmo. A quebra de uma barra de direção me fez perder o controle após uma chicane e o carro rodou. Saí do carro, empurrei, soltei a carroceria que prendia os pneus e segui mesmo sem embalo e sem poder virar muito o volante para não rodar novamente. Na aterrisagem seguinte, até a lateral da asa traseira escapou.
Mas o carro chegou até o fim. Nas duas vezes. É claro que poderia ter sido melhor, mas quem sabe numa próxima?
Quem competiu foi avaliados em três critérios: design dos carrinhos, velocidade e a performance da equipe na apresentação antes da descida. Venceu a equipe do Pão de Queijo Recheado, de Ipatinga (MG). Confira a galeria de fotos dos participantes: