Não é mistério que a crise mundial de semicondutores somada à pandemia do COVID-19 atrapalhou, e muito, os planos das grandes montadoras. Algumas das maiores empresas no ramo, como a Volkswagen, estão praticamente voltando ao passado em termos de produção.
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Somando os três primeiros trimestres deste ano, segundo o jornal alemão Die Zeits, a principal fábrica da VW do mundo, localizada em Wolfsburg, na Alemanha, produziu pouco mais de 300.000 veículos. A planta não tinha um número tão baixo desde 1958, quando o Fusca era o principal produto fabricado ali.
Já no ano passado, a produção em Wolfsburg não passou de meio milhão de unidades, algo que não acontecia desde 1960. Em 2018, antes de todas as crises, a Volkswagen chegou a anunciar oficialmente aumentaria a capacidade de produção da fábrica para um milhão de carros por ano. Não à toa, é a maior fábrica de automóveis do mundo
A Volks atribui os baixos números de produção exclusivamente às crises. “As distorções globais em termos de produção e demanda por semicondutores como resultado da pandemia e outras circunstâncias externas simplesmente não eram previsíveis”, explica um porta-voz da empresa ao Die Zeits.
Porém, há quem discorde. Daniela Cavallo, presidente do conselho de fábrica e do grupo de trabalhadores da VW, diz que “os tempos de parada de produção obviamente não são uma lei da natureza”. Para ela, os problemas na produção devem-se, principalmente, à falta de preparo dos gestores no controle de crises. “Pode-se esperar que a administração de uma corporação global seja capaz de organizar as compras de forma que os carros possam ser fabricados de forma confiável”, conta a presidente ao jornal alemão.
Para recuperar o atraso, Cavallo conta que, em julho, a Volks contratou cerca de 1.800 trabalhadores, que estavam de férias, para a produção de 10.000 Golfs. Em seguida, a diretoria teria solicitado que os funcionários fizessem hora extra a partir do mês de setembro. “Apenas um milagre para atingirmos a mesma produção do ano passado neste ano”, diz uma fonte anônima à publicação alemã.
Cavallo ainda cita que outras duas montadoras, BMW e Toyota, não foram tão afetadas pela escassez de chips quanto a Volkswagen. No caso da conterrânea, a situação pode ter sido amenizada devido à experiência com o acidente nuclear na usina de Fukushima, no Japão. Nesta ocasião, uma das principais fornecedoras de tinta da BMW foi afetada, tendo que fechar por algumas semanas.
Após o episódio, a montadora organizou um esquema de força-tarefa para monitorar toda a sua cadeia de suprimentos, antecipando assim a crise de semicondutores. Mesmo afetada, a falta de chips não foi tão avassaladora para a BMW, como foi para a VW.
Sobre a atual situação da VW, outro jornal alemão, o Handelsblatt, informou que Herbert Diess, CEO da Volkswagen, teria dito ao conselho fiscal que a empresa pode perder cerca de 30.000 funcionários ainda este ano. “No primeiro semestre do ano tivemos um lucro recorde e agora especula-se a perda de milhares de empregos. Essas especulações são absurdas, temos segurança no emprego até 2029”, rebate Cavallo.
Para acertar as pontas soltas, a presidente do conselho convidou o Diess para uma reunião de trabalho na fábrica de Wolfsburg, algo que não ocorre há dois anos. Marcada para o dia 4 de novembro, o CEO já anunciou que não poderá comparecer, devido à uma viagem marcada para Estados Unidos, onde visitará uma fábrica no Tennessee e se encontrará com investidores em Nova Iorque
“Nada mudará nos planos de viagem. O convite do conselho de trabalhadores era simplesmente de curto prazo.” explicou um porta-voz de Diess ao Die Zeit.