Piloto automático urbano da Tesla bate 285.000 usuários. Isso é perigoso?
Confiança excessiva e marketing ambíguo vêm causando preocupações de autoridades nos EUA, por mais que sistema impressione
Já existem mais de 285.000 motoristas que, nos Estados Unidos, utilizam o nível máximo de automação veicular da Tesla, informou a marca via Twitter. Mas, ao mesmo tempo que a fabricante tem motivos para se orgulhar, a quantidade de usuários do seu “piloto automático” gera preocupação em diferentes setores da sociedade norte-americana.
Esse novo sistema de pilotagem automatizada, o Full Self-Driving (FSD, direção totalmente autônoma, na tradução livre) é capaz de realizar funções muito mais avançadas que o que vemos no Brasil, como assistentes de permanência em faixa e controle de cruzeiro adaptativo.
Os elétricos da Tesla conseguem trocar de faixa, tomar alças de acesso e, agora, se movimentar em vias urbanas, fazendo curvas, respeitando semáforos e desviando de obstáculos que inexistem em rodovias, como pedestres e ciclistas. É um sistema impressionante, mas que, apontam evidências, acaba tendo suas falhas maquiadas pelo marketing pesado de Elon Musk — que, desde 2014, vem prometendo carros completamente autônomos “no ano que vem”.
Uma evidência que reforça a distância do FSD para sistemas realmente autônomos é a métrica de quilômetros por desacoplamento: ou seja, em média quantos quilômetros o carro percorre comandado pelo computador até que uma intervenção humana seja necessária.
A ação do motorista pode acontecer por incapacidade do software em prosseguir no comando dado algum bug, cenário inesperado, más condições climáticas etc. A Tesla se recusa a fornecer dados oficiais sobre isso, mas um grupo de proprietários participa de uma contagem colaborativa que até agora constatou média estimada de 111 km/desacoplamento do sistema.
Em comparação, a Cruise (uma das líderes no desenvolvimento de automação veicular) reporta taxa de 66.750 km/desacoplamento, enquanto os números da Zoox, subsidiária da Amazon, superam impressionantes 80.000 km/desacoplamento. Tais resultados se devem, entre outros motivos, a veículos que trazem muito mais equipamentos de monitoramento do ambiente que um carro de série, obviamente tornando-os extremamente caros.
As autoridades da Califórnia estão irritadas com Musk e, a partir de 2023, a Tesla está proibida de anunciar o Full Self-Driving com esse nome no estado. Os legisladores concluíram se tratar de um termo enganoso, que pode levar os consumidores a negligenciar a atenção ao trânsito.
Dito e feito: há poucos dias, na região de São Francisco, um veículo da marca sob comando do FSD realizou um desacoplamento abrupto em plena via expressa. Com o condutor provavelmente desatento por confiar demais no sistema, o Tesla parado causou um engavetamento com outros sete carros.
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A evolução dos algoritmos e redes neurais que comandam as decisões do computador da Tesla também é crucial para a melhoria do FSD. Com quase 300.000 usuários “educando” o sistema e fornecendo dados à montadora constantemente, a tendência é que o Full Self-Driving apresente melhoras significativas com o passar do tempo, ainda que os carros que atualmente saem das fábricas da Tesla tendam a jamais ser autônomos de verdade.