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Pai e filho criam Gol BX três-cilindros e Up! TSI 2p que a VW não lançou

O projeto de um Up! duas portas com motor 1.0 TSI acabou rendendo, também, um Gol da primeira geração com o mesmo motor dos últimos Gol fabricados

Por Leonardo França
Atualizado em 28 jan 2023, 14h16 - Publicado em 28 jan 2023, 12h15
gol com motor up
 (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)
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O Volkswagen Gol foi um sucesso incontestável. Lançado em 15 de maio de 1980, teve mais de 8.500.000 unidades vendidas no Brasil e em outros países até deixar de ser produzido oficialmente em 23 de dezembro.

Mas foi um dos carros que tentou substituí-lo ao longo dos últimos 42 anos, o Volkswagen Up!, quem emprestou o motor para este Gol BX 1985 que se tornou a conexão perfeita entre o passado e o presente. De quebra, ainda fizeram o Up TSI duas portas que a Volkswagen nunca teve a coragem de lançar.

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Tudo começou com o Volkswagen Up mais barato que era possível comprar (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)
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Cross Up! TSI serviu de doador de peças (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

As duas criações são de Élcio Vasconcelos, funcionário público de Belo Horizonte (MG). Tudo começou após ter presenteado seu filho Alexandre, em 2018, com um VW Take Up duas portas 2014/2015. Era a versão mais básica na época, apenas com rodas aro 13, limpador e desembaçador traseiro, airbags e freio ABS. Essa carroceria só foi vendida com o motor três-cilindros 1.0 12V aspirado, que rendia até 82 cv e 10 kgfm.

Alexandre, apaixonado por carros da Volkswagen, queria fazer um projeto exclusivo transformando seu Up! 2015 no modelo 2018, que não existiu oficialmente. Graças a um amigo da família, dono de um ferro-velho, a ideia ganhou corpo e pouco tempo comprou a sucata de um Cross Up! TSI 2018 com apenas 14.000 km batido de traseira. Como a dianteira e todos seus periféricos estavam intactos, Élcio e Alexandre decidiram que esse carro cederia componentes para o projeto.

De Take a Fake

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Todo o conjunto mecânico e subchassi foi levado para o Up 2p (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)
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Élcio migrou toda a mecânica do Cross Up!, que a partir daquele 2018 passou a ser vendido apenas com o motor TSI. Mais potente, seu 1.0 turbo com injeção direta entregava até 105cv e 16,8 kgfm. Acabou criando o Up TSI duas portas que a Volkswagen nunca teve coragem de lançar.

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Painel completo é do Cross Up (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Agora o Up! Fake, como é carinhosamente chamado, passou a ter todos os componentes mecânicos do Cross Up!, inclusive direção elétrica, computador de bordo, ar-condicionado, faróis com máscara escurecida e moldura cromada, faróis de neblina, relógio digital, sistema de som com tela colorida, travamento elétrico das portas, vidros dianteiros elétricos, volante multifuncional em couro e controle de tração (M-ABS). Os bancos são os mesmos do Take originais, e receberam forração inspirada no Up! GTi europeu.

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Bancos seguem o padrão do Up GTI europeu (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

A mecânica foi migrada de um carro para o outro sem a necessidade de adaptação. A instalação incluiu a troca do agregado do motor, sistema de freios, amortecedores, além de todo o chicote elétrico, painel, entre outros componentes.

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Resultado: o Up! TSI duas portas que a VW se negou a vender no Brasil (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Posteriormente o Up! Fake recebeu a famosa tampa preta com abertura elétrica por botão, de outro Up! TSI doador (agora um Pepper) e, enfim, foi devidamente documentado via despachante, constando em seu documento o número do motor e potência corretos.

E o motor 1.0 aspirado? 

Passado um tempo, Élcio cogitou vender a mecânica original do Up! Take, que estava em um canto de seu quintal. Após algumas tentativas de venda sem sucesso, devido à baixa procura, seu filho o incentivou a montar um projeto diferente. Surgiu então a ideia de “dar um Up” em um Gol quadrado.

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Gol BX 1985 abandonou o motor 1.6 a ar (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Começaram, então, uma busca por um Gol da primeira geração que tivesse boa estrutura. A escolha se deu por um Gol BX 1985 e foi estratégica: a maioria dos carros refrigerados a ar têm longarina e túnel do motor sem rachaduras, comuns aos demais modelos refrigerados a água.

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O carro, que trazia motor boxer 1.6 a etanol de 51cv e 10,5 kgfm, estava com a estrutura excelente, bastante alinhado e original, mas com reparos a serem feitos na carroceria e com o motor “cansado”. Isso não seria um problema, pois esse motor logo seria aposentado.

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Motor 1.0 aspirado pronto para ser colocado no Gol (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Instalar o um motor moderno em um carro tão antigo foi mais complicado. Foi necessário um flange para acoplar o motor ao câmbio original do Gol BX. A flange foi encontrada no mercado de peças, uma vez que existem buggys que já utilizam o motor três cilindros 1.0 com o câmbio do Fusca.

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Câmbio original do Gol, com quatro marchas, foi mantido (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)
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Interior estava bem surrado quando o carro foi comprado (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

O painel frontal recebeu uma barra auxiliar para que o motor fosse calçado usando os coxins originais do Up!. Além disso, foram fabricados outros suportes dianteiros, para o radiador e para o reservatório do líquido de arrefecimento, instalados à direita.

O motor 1.0 continua sendo controlado pela central original, que foi instalada no painel corta-fogo próximo ao número do chassi, e funciona perfeitamente. O capô fecha perfeitamente, mas foi preciso trocar a tampa do óleo e fazer uma adaptação na vareta de óleo. Ainda adaptaram o coletor de ar do Ford Ka com um filtro cônico esportivo.

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Adaptação do motor três cilindros 1.0 foi facilitada por flange de buggys (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)
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(Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)
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O chicote elétrico original do Up! Take foi totalmente reaproveitado, com direito a manter a mesma caixa de fusíveis e o velocímetro original, instalado no porta-luvas. O comutador de ignição também é o mesmo do Up!, com o codificador, e foi instalado local original do Gol. O velocímetro original do Gol BX continua operante, fornecendo as demais informações do carro. Os bancos dianteiros  são de um Gol 2007 2 portas, e as rodas aro 13, de um Passat TS.

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(Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

As modernizações seguiram. Tentaram aproveitar ao máximo o sistema de freios original do Up!, inclusive com o sistema ABS. Para o Gol BX poder receber os rolamentos magnéticos (de um Gol 2018), para ter sinal das rodas, foi necessário adaptar as torres dos amortecedores dianteiros do Gol 2001, mais espaçosas. As pinças de freio e os discos dianteiros de 239 mm também são do Gol 2001. Na traseira estão os tambores de freio do Up! MPI e o cilindro mestre foi trocado pelo da Saveiro 2018.

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Agora os bancos são de um Gol mais moderno (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Embora o freio ABS funcione perfeitamente, de acordo com o proprietário, seu acionamento é duro. A falta de espaço no cofre do motor não permitiu que o hidrovácuo fosse instalado.

Mesmo que tenha mais eletrônica e um motor completamente diferente, este Gol BX 1.0 pesa cerca de 770 kg. E todas as extensas adaptações não impedem seu uso diário, até porque o carro está documentado e tem laudo emitido pelo Inmetro. O proprietário conta que já rodou mais de 20.000 km depois da troca dos motores e que o BX é frugal: faz média mista de 12 km/l quando com etanol.

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Ainda há detalhes de funilaria por fazer, mas o carro é usado diariamente (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Élcio conta que o desempenho do seu Gol, agora com 31 cv a mais, é instigante e mesmo que o câmbio seja o original do BX, com 4 marchas, o carro ganha velocidade rapidamente e não perde velocidade nas subidas. Conta, ainda, que é comum atingir 120 km/h em terceira marcha.

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Todo o chicote do Up! foi aproveitado (Élcio Vasconcelos/Acervo pessoal)

Ainda há mais modificações por vir, como a adoção de direção elétrica e ar-condicionado. Mas a reforma da carroceria ainda está na fila de prioridades. Mas o mais interessante ainda é o fato de este ser um Gol da primeira geração equipado com o mesmo motor que equipou o último Gol fabricado. Seria este o verdadeiro carro “neoclássico”?

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