O encontro do icônico Chevrolet Opala com o “Cruze” V8 da atual Stock Car
Para comemorar os 40 anos da maior categoria do Brasil, convidamos Chico e Daniel Serra para dar uma voltinha com o velho e o atual Stock Car
![Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/dscf4340.dng_-e1569260979662.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Foi por mera coincidência que eu e o editor de arte/fotógrafo Fernando Pires chegamos ao autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), de modo sincrônico a Chico Serra.
O tricampeão de 1999, 2000 e 2001 da Stock Car ainda nem nos conhecia, mas nós o reconhecemos subindo a ladeira que leva do estacionamento aos boxes logo à nossa frente. Sobre o ombro direito, as alças de uma mala de mão branca, onde ele armazenara seu macacão.
Serra caminhava a passos tranquilos rumo ao posto da equipe Eurofarma RC – administrada por Rosinei Campos, o Meinha –, onde o filho e atual bicampeão do certame, Daniel, já se encontrava.
Era o início dos preparativos para a Corrida do Milhão, etapa mais importante de uma temporada em que a principal categoria do automobilismo brasileiro completa 40 anos de vida.
Serra, o filho, precisava se concentrar na luta pela vitória e na defesa da liderança no campeonato. Ainda assim, topou dedicar algum tempo do fim de semana para aceitar um desafio proposto por QUATRO RODAS.
![Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/dscf4798.dng_-e1569261875841.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Dar algumas voltinhas ao lado do pai acelerando os dois carros mais icônicos das quatro décadas de Stock Car: o de 2019, que utiliza uma bolha do Chevrolet Cruze, e o velho Opala que deu origem a tudo.
Para tornar a ação mais interessante, sugerimos uma inversão: Chico conduziria o Stock #29 do filho, enquanto a Daniel caberia guiar o Opala #6 da Old Stock Race, competição que homenageia as origens da Stock Car com Opalas originais preparados (e que preparação!).
Para Serra pai, nenhuma novidade, visto que o veterano chegou a pilotar a bolha fornecida pela JL em seus últimos anos de Stock. Já Serra filho viveria a primeira experiência a bordo de um Opalão.
![Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/dscf4975.dng_-e1569262545393.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Falemos um pouco mais sobre as grandes estrelas desta reportagem. Desculpem, Chico e Daniel, mas estamos falando do Cruze bolha e do Opala.
Afinal, enquanto este serviu à Stock por 15 anos (com carroceria original de 79 a 86; carenagem sobre o chassi de Opala de 87 a 89; monobloco a partir da mecânica do cupê de 90 a 93), aquele vem sendo utilizado e atualizado pela categoria desde 2001.
Ao fim desta temporada, gozará enfim de merecida aposentadoria, dando lugar a outro carro/chassi, ainda em desenvolvimento.
Um senhor de respeito
![Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/dscf4493.dng_-e1569262497714.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
O primeiro Opala que serviu à Stock Car, em 1979, tinha como base a configuração 250-S.
Nela, o cultuado motor seis-cilindros em linha de 4,1 litros gerava 171 cv de potência e 32,5 mkgf de torque, sendo gerenciado por câmbio manual de quatro marchas.
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Pasmem: esse motor serviu à Stock até 2002, com atualizações que o levaram a aproximadamente 250 cv.
Na Old Stock Race, o seis-canecos ainda resguarda o bloco original e o carburador de corpo duplo, mas recebe uma dose extra de preparação em distribuição, ignição, bobinas, comando de válvulas e escapamento (com duas saídas).
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O câmbio de cinco marchas é herança da picape D-20. Tudo para atingir 340 cv e 220 km/h no fim da reta de Interlagos. Ah, e ele bebe etanol, usando um tanque de 85 litros do Opala Comodoro.
Chassi e carroceria são originais, incluindo suspensões (independente com braços sobrepostos na dianteira; eixo rígido com molas helicoidais na traseira) e diferencial, mas as rodas de fábrica dão lugar a um jogo de liga leve aro 16 do Honda New Civic, calçado por pneus radiais.
![Pic By Fernando Pires / www.flpires.com.br](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2019/09/dscf5085.dng_-e1569262845730.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Além disso, o para-brisa usa vidro laminado, não mais temperado, enquanto as demais janelas (exceto a do motorista, aberta para facilitar a entrada e a saída do piloto) são vedadas por um composto de policarbonato que lembra acrílico.
Os freios usam disco ventilados nas quatro rodas. Com todas essas especificações, o Opalão da Old Stock pesa 1.200 kg e vira na casa de 1min58s no traçado de 4.309 metros de extensão de Interlagos.
Cruze com resquícios de Camaro
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Já o chassi tubular atual da Stock é fabricado pela JL. Pesa 1.325 kg em ordem de marcha, incluindo piloto a bordo.
Sua estrutura tubular é composta de treliças de molibdênio e chapas de alumínio, enquanto a carenagem é de fibra de vidro. E se faróis e grade dianteira são meros decalques, as lanternas traseiras funcionam de verdade.
As suspensões são independentes com braços duplo A nos dois eixos. Os freios, a disco ventilado e perfurado, contêm pinças de seis pistões na dianteira e quatro na traseira. As rodas, 305/660 R18, são vestidas por pneus Pirelli PZero.
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O motor, desde 2010, é um V8 naturalmente aspirado de 6,8 litros desenvolvido pela preparadora americana Mast. Ele aproveita o bloco de alumínio da família GM LS3, o mesmo utilizado pelo Camaro SS de penúltima geração.
Já o cabeçote vem da linhagem LS7, que faz parte do antigo Corvette C5R. Assim como o Opalão da Old Stock, o combustível usado no tanque é etanol.
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Com a abertura da borboleta do acelerador sempre restrita a 60% ou 70%, a potência do atual Stock fica na casa de 450 cv em um circuito tipo Interlagos, saltando para 500 cv quando acionado o botão de ultrapassagem.
O torque passa de 70 mkgf e a caixa de câmbio, fornecida pela XTrac (mesma fornecedora da Fórmula Indy), é automatizada de seis marchas com dupla embreagem, sendo as trocas realizadas pelo piloto através de borboletas no volante.
Serras aceleram
Macacões e capacetes vestidos, lá partiram os Serra para duas voltas no circuito. Nosso fotógrafo, Fernando Pires, acompanhou tudo bem de perto num carro de apoio, a fim de registrar as imagens que ilustram esta reportagem.
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Em alguns momentos, pediu que os pilotos se aproximassem o máximo que pudessem da câmera. Enquanto Chico, no Stock atual, manobrava com confiança, Daniel hesitava.
Ao fim da experiência, Serra filho explicou: “Em alguns momentos, parecia que os freios não iriam funcionar. A resposta é muito mais lenta, assim como a da direção. É difícil de acostumar”.
E seguiu: “O câmbio também é bem longo, então é tudo muito diferente”. Mas há algo do qual ele gostou mais em relação ao Stock atual: “A posição de dirigir é mais alta, então a visibilidade é melhor”.
Chico, que pilotou profissionalmente os dois carros, concordou com as observações do filho: “Não tem comparação o quanto as respostas desse carro [apontando para a bolha do Cruze] são mais diretas e precisas. E também mais rápidas. A aderência é muito maior”, resumiu.
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Perguntado sobre qual carro é o mais divertido de pilotar numa corrida, Serra pai deixou a nostalgia de lado e foi enfático: “O atual, sem dúvida nenhuma”.
Mas coube a Serra filho fazer a ponderação final: “Hoje, a gente acha algumas soluções deste carro [o Opala] estranhas, mas na época ele tinha o que de mais moderno era possível colocar num carro de corridas brasileiro.
Com esse outro vai ser a mesma coisa. Agora ele é considerado moderno, mas, daqui a 30, 40 anos, quem pilotá-lo talvez vá sentir uma estranheza semelhante à que eu senti hoje com o Opala. É um ciclo”.
Daniel tem razão: o relógio é inexorável para todos. Mas é preciso reconhecer o brilho de quem soube fazer história a seu tempo.
Opala Old Stock Car | Cruze Bolha V8 2019 | |
Motor: | Etanol, longitudinal, dianteiro, 6 cilindros em linha, 4.093 cm³, 98,4 x 89,7 cm, 12V, 340 cv (rpm n/d), torque n/d | Etanol, longitudinal, dianteiro, V8, 6.805 cm³, 103,3 cm x 101,5 cm, 32V, 450 cv (a 6.200 rpm), 70 mkgf (rpm n/d) |
Câmbio: | Manual, 5 marchas, tração traseira | Automatizado, 6 marchas, tração traseira |
Suspensão: | Braços sobrepostos (diant.), eixo rígido (tras.) | Duplo A (dianteira e traseira) |
Freios: | Disco ventilado (dianteira e traseira) | Disco ventilado perfurado (dianteira e traseira) |
Direção: | Hidráulica | Hidráulica |
Pneus: | 205/55 R16 | 305/660 R18 |
Dimensões: | Comprimento, 467,1 cm; largura, 175,8 cm; altura, n/d, entre-eixos, 266,7 cm; peso, cerca de 1.200 kg (incluindo piloto); tanque de combustível, 85 litros | Comprimento, 525 cm; largura, 190 cm; altura, 127 cm, entre-eixos, 280 cm, peso, 1.325 kg (incluindo piloto); tanque de combustível, 100 litros, de fibra de carbono |