R$ 240 mil? Entenda o sistema que cobra multas astronômicas na Finlândia
Buscando maior igualdade entre as punições para ricos e pobres, o sistema chamado "day fine", criado em 1920, é utilizado principalmente em países europeus
![Fiscalização-por-radar Policial com pistola medidora de velocidade](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2017/11/fiscalizac3a7c3a3o-por-radar-e1588701007605.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Imagine ser multado por ultrapassar o limite de velocidade de uma via e a cobrança recebida ser de, aproximadamente, R$ 242.000. Parece erro de digitação, mas existe um sistema que torna essas multas altíssimas algo real.
Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 8,90.
O sistema peculiar é utilizado pelos países nórdicos e escandinavos na Europa, entre eles a Finlândia. Lá foi aplicada o que se acredita ser a multa mais cara da história.
Em outubro de 2001 o diretor da Nokia, Anssi Vanjoki, foi pego acima do limite de velocidade. Ele estava com sua Harley Davidson a 75 km/h em uma via que tinha 50 km/h como limite. Como resultado, o diretor da empresa de telecomunicações finlandesa recebeu uma multa de € 116.000. Mas qual o motivo desse valor?
![ANSSI VANJOKI Anssi Vanjoki visto de frente](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/ANSSI-VANJOKI-feito-e1626201653754.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Como funciona o sistema de multas por renda chamado “day fine”?
Utilizando a Finlândia como exemplo, as multas de trânsito, assim como punições por furto, são calculadas com base na renda do infrator. Quanto maior a renda do indivíduo que cometeu o delito, maior o valor da multa. Essa decisão serve para tornar a punição proporcional e justa para ricos e pobres.
No caso do diretor da Nokia, o sistema utilizou como base o último dado de renda disponível que apontava que Anssi Vanjoki tinha € 14 milhões em conta. O resultado foi a multa de mais de R$ 242.000 (na cotação de janeiro de 2002, o euro custava 2,09 reais).
Uma outra situação levantada pelo jornalista Joe Pinsker, do The Atlantic, é do empresário Reima Kuisla. Ele foi pego a 105 km/h em uma via que tinha 80 km/h como limite. Ele havia declarado uma renda de cerca de 6,5 milhões de euros, o que resultou na multa de mais de € 54.000.
![MULTA Reima Kuisla Multa de Reima Kuisla](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/MULTA-feito-e1626201704791.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
O cálculo que é feito é, em tese, simples. Primeiro há uma estimativa de quanto o indivíduo gasta em um dia e divide-se esse número por dois. Leva-se em conta o número de filhos dele ou dela e retira-se um valor para despesas básicas, cerca de € 255. O resultado é a quantia apropriada para a multa. Após isso, o sistema define quantos “dias” a pessoa será punida, conforme a gravidade do delito.
Então, por exemplo, um finlandês que andou cerca de 24 km/h acima do limite de velocidade será punido por 12 dias, enquanto alguém que estava 40 km/h acima do limite receberá a punição por 22 dias. Portanto, ao longo do período definido pelo sistema, o indivíduo terá uma cobrança de metade do valor que gastaria com base em sua renda.
![moritz-kindler-7TeeZqR52Yk-unsplash-feito Farol com a luz verde acesa](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/moritz-kindler-7TeeZqR52Yk-unsplash-feito.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Dito isso, mesmo com um limite de cobrança de 120 dias, não há um teto para o valor da multa, ou seja, quanto maior a renda do indivíduo, maior será o valor que ele terá que pagar. A finalidade é adotar um sistema igualitário. Se valores considerados baixos incomodam as classes menores, valores maiores devem incomodar os mais ricos a ponto de que não voltem a cometer as infrações.
![Placa de 50 mph Placa amarela de 50 milhas por hora](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/elisa-rYrawNU0wH0-unsplash-feito.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Para efeito de comparação, um cidadão que cometa a mesma infração que o empresário Reima Kuisla, mas que ganhe € 50.000 e não 6,5 milhões, e não tenha filhos pequenos, terá que pagar cerca de 345 euros.
Quais foram os desfechos das multas?
Kuisla protestou contra o alto valor em uma rede social. “Para as pessoas mais ricas e que têm maior renda, a Finlândia é um país impossível de se viver”, afirmou. Após receber a cobrança, ele fez 12 publicações com tom elevado, onde inclusive falava que, com o valor, poderia comprar uma nova Mercedes.
Quando procurado pelo The New York Times, ele disse que não daria entrevista e afirmou que “o jeito que as coisas são feitas na Finlândia não faz o menor sentido”. Antes de desligar, questionou “para o que e quem essa sociedade (finlandesa) existe”. Outro cidadão finlandês, multado em € 50.000, disse que os valores eram fruto de um “estado que não é governado constitucionalmente”.
![tapio-haaja-7uC_axjyFuw-unsplash feito Vista de Helsinque, na Finlândia](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/tapio-haaja-7uC_axjyFuw-unsplash-feito-e1626201783970.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Como explica o jornalista Joe Pinsker, quando algo gera tamanha revolta dos mais ricos significa que, provavelmente, um processo mais justo está em utilização. O próprio superintendente do Conselho Nacional de Polícia da Finlândia na época, Pasi Kemppainen, afirmou que o sistema é “antigo e cobrava multas altas, mas apenas daqueles que poderiam pagar esses valores”.
![Multa finlandesa Multa finlandesa](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/07/Mika-Vlijanen-Reproducaao-feito.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Mesmo assim, por conta de toda a repercussão das quantias, as duas multas, tanto de Reima Kuisla como de Anssi Vanjoki, foram reduzidas. Vanjoki afirmou que a multa havia sido calculada com base na sua renda em 1999, que girava em torno de € 14 milhões. Segundo ele, quando a infração foi cometida em 2001, sua renda era bem diferente.
Após apelações, ambos os empresários finlandeses conseguiram reduzir as cobranças para valores que, para eles, eram simbólicos.
E em outros lugares?
Nos Estados Unidos, o sistema chegou a ser testado em algumas regiões. A diretora executiva da ONG Justice Strategies, Judith Greene, ajudou a implementar um teste do sistema em Staten Island cerca de 30 anos atrás. Pouco tempo depois, uma iniciativa semelhante surgiu em Milwaukee.
Esse sistema não progrediu em território norte-americano porque, de acordo com as autoridades, as punições não eram severas o suficiente e “o foco era prender”, afirma Greene.
Entretanto, a questão do encarceramento em massa é discutida atualmente, o que abre espaço para uma nova chance do sistema nos EUA. “Temos um novo ambiente, em relação a atitudes públicas sobre justiça criminal e sentenças. Por que não tentar agora?”, conclui.
Por outro lado, aqui no Brasil, a multa por excesso de velocidade é dividida em três partes. Quando o infrator está a até 20% a mais que o permitido na via, quando ele está a até 50% acima do limite de velocidade e, por último, quando ele está mais de 50% acima do limite de velocidade da via.
Excesso de velocidade, até 20% a mais do permitido na via (Média) | R$ 130,16 | 4 pontos na carteira |
Excesso de velocidade, de 20% até 50% a mais do permitido na via (Grave) | R$ 195,23 | 5 pontos na carteira |
Excesso de velocidade, acima de mais de 50% do permitido (Gravíssima) | R$ 880,41 | 7 pontos na carteira |
Não pode ir à banca comprar, mas não quer perder os conteúdos exclusivos da Quatro Rodas? Clique aqui e tenha o acesso digital
![Capa de QUATRO RODAS 746 Capa de QUATRO RODAS 746](https://quatrorodas.abril.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Capa-de-QUATRO-RODAS-746.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)