Grandes Brasileiros: a beleza atemporal do VW Voyage Sport
Sóbrio e elegante, ele conciliava a pegada esportiva do Gol GTS a uma configuração mais prática e confortável
A abertura das importações na virada da década de 90 expôs a indústria automobilística a uma desagradável realidade: quase todos os carros nacionais eram caros e defasados, em comparação com os importados.
Como não podiam esperar anos para atualizar seus produtos, as montadoras tiveram que improvisar, por isso requentaram alguns modelos dos anos 80 para não perder mercado. Entre eles, estava o Voyage Sport.
Lançado em 1993, parecia uma reprise do Voyage GLS, descontinuado em 1991 para não canibalizar seu irmão da Autolatina, o VW Apollo. Com o fim do Apollo, em 1992, as portas estavam abertas a uma versão mais requintada e potente do sedã, tradição iniciada em 1985 com o Voyage Super.
Na essência, ele era uma versão mais prática e sóbria do Gol GTS, que desde 1987 figurava entre os carros mais rápidos do Brasil. Deixava de lado o aerofólio e as luzes de longo alcance, mas mantinha os faróis de neblina e as rodas de liga leve raiadas, no estilo das clássicas BBS alemãs.
No interior, o requinte ficava por conta dos bancos Recaro e portas revestidos de tecido navalhado. O clássico volante esportivo VW, de buzina com quatro botões, era revestido de couro, assim como o pomo da alavanca do câmbio.
Disponível em Preto Universal ou Prata Lunar, a pintura chegava até a parte inferior dos para-choques e aos retrovisores, elétricos, assim como vidros e travas. A decoração era finalizada com apliques cinza nos para-choques e lanternas fumês (como no Gol GTi).
Entre os opcionais, só toca-fitas, porta-fitas no console e ar-condicionado. No modelo 1994, a direção hidráulica entrou nessa lista, pondo um fim às críticas de quem sofria para esterçar os largos pneus 185/60 R14.
Sob o capô estava o aclamado motor VW AP-1800S, do Gol GTS e da Parati GLS: a diferença para o AP-1800 estava no comando de válvulas 049G e na recalibração do carburador. A maior elasticidade era comprovada pelos números: 105 cv, contra 96 cv do motor a álcool de linha.
Ágil e com só 945 kg, ia a 100 km/h em 11,75 segundos e retomava de 40 a 100 km/h em 20,59, figurando entre os dez melhores do ranking da QUATRO RODAS, na versão a álcool. A velocidade máxima foi de 171,2 km/h.
Ao volante, apresentava o mesmo comportamento neutro dos Gol esportivos: neutro, com tendência ao subesterço no limite. A crítica ia para o freio: apesar da boa modulação, sofria com o fading, devido ao disco sólido na dianteira.
A produção durou só de 1993 a 1995. Além de mais conforto aos passageiros traseiros (pela linha do teto mais alta) e mais espaço para bagagens, alguns elogiavam a rigidez do monobloco, superior pela ausência da terceira porta presente no Gol.
Esportivo sem ser beberrão e estável sem ser desconfortável, deixou saudade, e os poucos que restaram hoje estão nas mãos de cuidadosos donos, como o carro das fotos, do gerente comercial Ayrton de Negreiros Jr., de Piracicaba (SP). Aquirido em 2007, passou por uma restauração total: “Só de funilaria foram dois anos”, diz.
Descontinuado em 1996, o Voyage era só uma vaga lembrança dos brasileiros até ser reapresentado em 2008 – mas sem a mesma esportividade de um motor próprio e das duas portas.
Teste QUATRO RODAS – fevereiro de 1994
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,75 s |
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Velocidade máxima | 171,2 km/h |
Retomada de 40 a 100 km/h | 20,59 s |
Consumo médio | 8,46 km/l (com álcool) |
Motor | longitudinal, 4 cilindros em linha, 1 781 cm3, 2 válvulas por cilindro, comando de válvulas simples no cabeçote, alimentação por carburador de corpo duplo, álcool |
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Potência | 105 cv a 5 600 rpm |
Torque | 15,3 mkgf a 3 600 rpm |
Câmbio | manual de 5 marchas, tração dianteira |
Freios | disco sólido e tambor na traseira |
Pneus | 185/60 R14 |
Dimensões | comprimento, 407 cm; largura, 160 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 236 cm; peso, 945 kg |
Porta-malas | 460 litros |
Preço (outubro de 1993) | CR$ 2.260.165 |
Preço (atualizado IGP-M/FGV 2022) | R$ 222.183 |