Publicado originalmente em maio de 2014
Pode-se dizer que a história do automóvel se divide entre antes e depois de 1913. Foi nesse ano que Henry Ford inaugurou uma linha de montagem para produzir em massa seu Modelo T, que tornou o automóvel pela primeira vez um sonho possível para um enorme mercado consumidor. Com isso, a produção ficou oito vezes mais rápida.
Os 13.000 empregados da Ford montaram cerca de 300.000 exemplares do T, enquanto outros 299 fabricantes – com seus 66.350 operários – entregavam algo perto de 280.000 carros em 1914. Em 1920, um Ford T saía da fábrica a cada minuto, formando uma frota correspondente a mais da metade dos carros registrados no Estados Unidos.
Mas o T, protagonista dessa virada sem precedentes, não era novidade – embora já fosse um sucesso.
Lançado em outubro de 1908 a 850 dólares, ele já era uma pechincha, embora até o para-brisa fosse opcional. Mas não tanto quanto Henry Ford queria. Ao longo de 19 anos de mercado, esse valor cairia a ponto de um Modelo T custar menos de 300 dólares em 1922 – o equivalente a 4.620 dólares de hoje.
O Modelo T catapultou a indústria de autopeças, incentivou o governo americano a pavimentar ruas e avenidas e os trabalhadores a procurar os grandes centros na busca de empregos na indústria. Tamanha importância e carisma – sem falar na confiabilidade – renderam o apelido Tin Lizzie (empregada de lata).
Sua resistência era mérito, em grande parte, do material usado nele. O uso de aço vanádio, liga mais leve desenvolvida pela Ford para o veículo, permitia a utilização de um motor menos potente, sem reduzir a robustez do carro.
O Ford T também ajudou a fazer do volante do lado esquerdo do carro o padrão americano e de quase todo o mundo.
Para acelerar a produção em série, as várias cores oferecidas entre 1908 e 1913 passaram a se resumir a uma única, o preto, por ser rápido de secar. Essa política duraria até 1925.
Com o tempo, ele foi sendo aprimorado. A carroceria, antes de madeira, passava a ser de metal em 1919 – foi nesse ano que ele começou a ser montado em São Paulo, tornando-o o primeiro carro feito no Brasil. A fábrica instalada no centro de São Paulo era, inclusive, atração turística.
Por aqui, o Ford T era vendido desde 1908 e já tinha até apelido: Ford Bigode, por ter duas alavancas atrás do volante – uma controlava o acelerador e outra o avanço da ignição.
Partida elétrica tornou-se opcional em 1920 e pneumáticos deixaram o rodar mais suave a partir de 1924.
Porém o mundo já não era o mesmo. Apesar de Henry Ford insistir em manter características primordiais do Modelo T em produção, a concorrência já reagia. Por fim, seu filho Edsel o convenceu a investir em um carro mais moderno, o Modelo A.
Em 25 de maio de 1927, o automóvel que revolucionou o mundo no século 20 saiu de linha, após mais de 15 milhões de unidades vendidas, recorde que o Fusca só superaria em 1972. A marca que o Ford T deixou na economia, no estilo de vida e na cultura do planeta até hoje, no entanto, não foi superada.
Ficha técnica – Ford Modelo T
- Motor: 4 cilindros em linha, 2,9 litros
- Potência: 22 cv
- Câmbio: semiautomático de 2 velocidades
- Dimensões: comprimento, 340 cm; largura, 168 cm; altura, n/d; entre-eixos, 255 cm
- Carrocerias: touring, roadster, runabout, tudor, entre outras, variando de acordo com o ano
- Desempenho: 72,4 km/h de velocidade máxima
O carro mais revolucionário da história
Mini Morris, Citroën DS, VW Sedan, Porsche 911 e vários outros sucessos mundiais foram selecionados quando 126 jornalistas internacionais especializados se uniram para escolher o Carro do Século 20, em 1999. O consenso foi de que nenhum outro revolucionou mais a história que o Ford T, que ficou com o título.