Mesmo que seja a segunda marca que mais vende elétricos nos Estados Unidos, perdendo apenas para a Tesla, a Ford tomou uma decisão polêmica: anunciou que está revisando toda a sua estratégia de eletrificação. Com esta mudança, alguns carros elétricos foram cancelados para desviar o investimento para o desenvolvimento de carros híbridos.
No anúncio feito hoje (21) nos Estados Unidos, a Ford confirmou o cancelamento do SUV grande de 7 lugares elétrico que estava programado para 2026. Era uma das grandes apostas da marca por ser um modelo de maior volume em comparação ao Mustang Mach-E, mas ainda em uma faixa de preços bem lucrativa.
Outro projeto que foi cancelado é o de uma picape monobloco no mesmo segmento que a Maverick, porém 100% elétrica. Esta caminhonete “compacta”, ao menos para os padrões norte-americanos”, deveria ter sido o primeiro veículo a usar a nova plataforma de baixo custo para carros elétricos.
Ao invés disso, o que virá é uma picape média, definição que a própria Ford usa para a Ranger inclusive nos Estados Unidos. Os executivos da marca não confirmam o tamanho exato além destas definições mais abrangentes. Está sendo desenvolvida na Califórnia e a fabricante se recusa a divulgar qualquer outro detalhe como faixa de preço, onde será produzida ou quando será lançada.
Estas escolhas afetam a empresa de outras formas. Apenas esta alteração na linha de produtos levará a um custo adicional de US$ 1,9 bilhão (R$ 10,4 bilhões) e a Ford não tem mais planos de lançar nenhum carro elétrico se não tiver certeza de que dará lucro nos primeiros 12 meses nas lojas. Por enquanto, isto afeta apenas os Estados Unidos, sem mudar a estratégia para a Europa por conta da futura proibição da venda de carros a combustão em 2035.
Os híbridos terão um papel maior dentro do portfólio da montadora, um movimento semelhante ao da General Motors. John Lawler, CFO da Ford, afirma que “diversas tecnologias híbridas estão em desenvolvimento” e que os engenheiros trabalham em outras opções de motorização. Os veículos a gasolina e diesel continuarão a ser produzidos para atender a demanda dos clientes.
O objetivo é melhorar a lucratividade da empresa, que tem sofrido com os custos altos envolvidos no investimento para desenvolver e produzir carros elétricos. De acordo com a fabricante, mesmo que seus três veículos elétricos (F-150 Lightning, Mustang Mach-E e E-Transit) estejam crescendo nas vendas e tenha comercializado 116 mil unidades em 2023, o prejuízo da sua divisão elétrica foi de US$ 4,7 bilhões (R$ 25,7 bilhões) em 2023.
Outro problema está nas baterias, ainda custosas. A Ford está investindo para começar a produzir baterias de fosfato de ferro-lítio a partir de 2026, prometendo ser a primeira empresa a fabricar este tipo de tecnologia nos Estados Unidos. Ainda há o problema de que as baterias atuais são feitas pela LG na Polônia e a parte da produção está sendo transferida para Michigan (EUA), para que possa receber os benefícios do governo.
Colocar os híbridos em evidência não será tão difícil para a Ford por ter continuado a investir na tecnologia nos últimos anos. Ao contrário da GM, a montadora oferece carros como Maverick e F-150 com uma motorização híbrida, ambos com um bom resultado de vendas nos Estados Unidos.