O novo sempre vem, já dizia Belchior em uma canção imortalizada na voz de Elis Regina. Na indústria automotiva isso é fato mais que comprovado. As tecnologias chegam e o mercado acompanha e se adapta, para atender as novas necessidades que surgem na sequência, como fará com os carros elétricos e híbridos.
Este é o caso das oficinas de reparação. Só que a leva de veículos eletrificados que vai bater à porta de oficinas independentes, passada a cobertura original de fábrica, traz complexidade maior para o pós-venda. Bem maior, diga-se de passagem.
Ao contrário de algumas transformações na história do automóvel – como a adoção da injeção eletrônica e eletrônica embarcada, para citar as recentes –, cuidar de modelos que usam baterias de alta- -tensão demanda infraestrutura e conhecimento.
O dono de um elétrico ou híbrido (leve, pleno e plug-in) que quiser recorrer a uma mecânica fora das concessionárias vai precisar observar alguns pontos ao deixar seu carro. Nesses casos, a primeira impressão é a que fica: a loja tem de ter um espaço dedicado a esse tipo de veículo.
“Não é uma manutenção que um mecânico vai, faz um pouquinho aqui e depois retoma. Tem que ter área isolada, porque o serviço tem de ter começo, meio e fim, como se fosse uma linha de produção, para que os processos sejam feitos na ordem correta e sejam testados sempre”, explica Fernanda Giacon, gerente sênior de excelência comercial, clientes e estratégia da ZF América do Sul.
Ninguém entra, ninguém sai
Ou seja, a oficina tem de ter uma área exclusiva, sinalizada e isolada por cones, com piso adequado. Além disso, todos os equipamentos necessários devem estar neste ambiente seletivo.
“Durante o serviço, nada do que está fora entra, nada do que está dentro sai. Não pode nem entrar com copo de café naquela área. Nada que não for pertinente à manutenção pode entrar na área de exclusão. Não pode ter parte viva que possa promover curto-circuito”, reforça o engenheiro Wanderlei Marinho, do comitê de veículos elétricos e híbridos da SAE Brasil.
Alguns equipamentos também são específicos para o reparo de veículos eletrificados. São necessários aparelhos para medir tensões elevadas, de 300 V a 800 V, chamados HV Tester. Medidores de tensão das baterias, alicates de correntes – espécie de alicate que abraça o fio e faz a medição de corrente – e osciloscópios são outros itens fundamentais.
Antes de iniciar um serviço, a primeira coisa a ser feita é desligar os sistemas elétricos. “O profissional desliga a tensão do carro, mas após desligar precisa medir e confirmar se está sem tensão”, ressalta Rafael Galperin, diretor de vendas e desenvolvimento de negócios da Valeo para a América do Sul.
Além disso, já existem elevadores específicos para carros híbridos e elétricos, muitas vezes identificados com um adesivo “high volt”. Assim como elevadores especiais para as pesadas baterias são comuns em oficinas que hoje cuidam deste segmento de veículos no pós-venda.
Descarga eletrostática
Mesmo as bancadas precisam ter uma atenção especial. Materiais não condutores e que evitem a chamada ESD (sigla para electrostatic discharge, ou descarga eletrostática) são fundamentais. Isso, claro, se estende aos profissionais que vão fazer o serviço – sempre dois, no mínimo. Os mecânicos devem ter os famosos Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs): óculos, luvas e sapatos de proteção específicos para alta tensão.
E, claro, a qualificação desses funcionários é imprescindível para evitar acidentes. Então, na hora de consertar o carro elétrico ou híbrido, veja se o estabelecimento exibe orgulhosamente certificações na parede nesta área de reparação automotiva de carros elétricos e híbridos – e onde ele obteve as qualificações.
“Da mesma forma que você vai ao médico e vê os diplomas e certificados, é mais um ponto visual para o cliente observar. O mecânico não consegue fazer esse tipo de manutenção se não for certificado”, destaca Fernanda Giacon, da ZF.
Nessas qualificações, os funcionários entendem os processos necessários, especialmente pela própria segurança.
“O funcionário precisa checar se o sistema foi corretamente desligado e ter o esquemático do carro para entender qual circuito que ele vai interromper para fazer o serviço. Um ponto importante é ter esse bom procedimento de desmontagem”, reforça Rafael Galperin, da Valeo.