Instabilidade na conexão sem (ou com) fio. Consumo excessivo de bateria. Bugs nos aplicativos. GPS atrasado.
Quem lida com esses problemas comuns a Android Auto e Apple CarPlay não é apenas este escriba cinquentenário, cujo primeiro videogame foi o Atari e o contato inicial com computador foi com um Microdigital TK85.
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São queixas frequentes de gente jovem, geeks e expoentes da geração gadget. Pois é, mesmo a turma sub-30 reclama que as duas principais plataformas de conectividade com centrais multimídias automotivas estão longe de ser eficientes.
Nos testes dos carros da seção Longa Duração da revista, volta e meia uma dessas queixas aparece por lá. Entre os leitores, os depoimentos também são parecidos – e frequentes.
Importante frisar que as reclamações não recaem sobre um dispositivo específico de uma determinada marca. Em centrais como VW Play, Uconnect (da Fiat e Jeep) e MyLink (Chevrolet), entre outras, a tecnologia tem jogado contra.
Fato é que, para muitos – e para a nossa equipe especialmente –, a possibilidade de conexão, em especial sem fio, já deixou de ser uma vantagem em um modelo de automóvel. Mas por que toda essa modernidade não funciona quando a gente mais precisa? Calma, não é para sentir saudade do toca-fitas. O problema pode ser o… celular.
“O terminal multimídia apenas ‘espelha’. A conectividade e o processamento estão concentrados no smartphone. Se o seu celular está ruim, lento ou travando, quando fizer o pareamento vai ficar pior”, explica Ricardo Takahira, vice-coordenador do Comitê de Veículos Elétricos da SAE Brasil.
Sistemas sobrecarregados
Em outras palavras, celular com 2.413 fotos, vídeos inúteis do WhatsApp, aplicativos pesados sempre abertos e memória disponível limitada vai funcionar com lentidão em condições normais. Essa lentidão acontece até mesmo com aparelhos mais potentes, de última geração.
Ao se conectar com a central, o aparelho estará processando várias coisas ao mesmo tempo e a tendência é de que ele não funcione 100%, seja Android ou IOS. A primeira dica é justamente “aliviar” o seu smartphone. Sempre mantê-lo limpo, apagar fotos e vídeos desnecessários e aplicativos que você usa raramente.
Outra opção é salvar boa parte destas imagens no cartão externo e deixar os apps inativos na nuvem. Aproveite e vá nas configurações do seu aparelho e clique na opção “otimizar”, e mantenha o antivírus atualizado.
Antes de parear o celular com a central multimídia, é importante também verificar alguns detalhes. Feche todas as janelas e apps que não serão usados durante a movimentação do veículo e não deixe aplicativos com opções de funcionamento em background, pois eles irão usar a memória – nem mesmo o antivírus deve estar em operação. Isso vai liberar uma maior capacidade de processamento do Android Auto e do Apple CarPlay.
Além disso, a conexão sem fio é mais complexa porque demanda ainda maior capacidade de processamento e de transmissão de dados. Ou seja, as plataformas estão mais suscetíveis a travar ou funcionar com lentidão.
GPS atrasado
Não há coisa mais irritante que você depender do Waze ou do Google Maps para rodar por aquela região que você não conhece e perder a rua que era para dobrar à esquerda porque o sistema está com delay.
Aquela sobrecarga de memória já citada pode interferir nos navegadores, mas os dados móveis da operadora também pesam muito na performance e precisão do GPS. Até mesmo muitas pessoas operando seus respectivos celulares dentro do mesmo carro pode afetar o funcionamento pleno do localizador. Além de consumir bem mais bateria.
“Tudo que é sem fio tem um transmissor e receptor. No caso do celular, ele executa os dois papéis. Então, se o sinal estiver ruim, vai haver um aumento da demanda por energia para conseguir mandar o sinal para a rede do celular. Desta forma, o sistema consome mais memória, processamento e energia”, explica Takahira.
Bateria no osso
Não tem jeito. Foi ligar o localizador do celular e usar o navegador na central multimídia que o dispositivo sorve a bateria com uma sede absurda. Isso vale para conexões com necessidade de cabeamento via USB ou via wireless.
Conforme o número de aplicativos e funções que é usado no smartphone, mesmo com conexão com fio, pode ser que o sistema de carregamento por cabo não seja suficiente para acompanhar a demanda por energia do aparelho.
Ou seja, o celular pode descarregar mesmo que em uma velocidade menor. A dica é usar cabos originais – ou compatíveis com os do smartphone – e com os plugues limpos. Eles devem também estar organizados, sem dobras ou mesmo muito esticados, para não interferir no contato com a porta USB. Esse mau contato, inclusive, pode fazer a conexão com o Android Auto e Apple CarPlay cair sucessivamente.
Já no modo sem fio, como o engenheiro da SAE Brasil explicou, tudo que é via wireless demanda mais energia para operar. Dessa forma, o processo de recarga nos carregadores por indução que se propagam entre os carros tende a ser ainda mais lento – ou mesmo nulo.
“Verifique se o adaptador ligado ao cabo do celular ou o hotspot wireless charging esteja na máxima corrente recomendada de recarga, e não limitada a um ampere. Smartphones novos e carregadores apropriados costumam resolver essa situação de descarga maior que recarga”, destaca Takahira.
Tá quente!
O superaquecimento do smartphone também é uma reclamação comum quando emparelhado com a central multimídia do veículo. Trata–se da mesma questão: é o celular que faz o processamento, e não o equipamento do carro.
Então, quanto mais plataformas e apps ele operar, mais energia vai consumir e as baterias vão esquentar “naturalmente”. “A sugestão é posicionar, se possível, o aparelho perto de uma das saídas do ar-condicionado, de forma a melhorar a refrigeração do smartphone. E evitar deixar o telefone próximo a áreas quentes ou expostas ao calor do sol”, ressalta o engenheiro.
O Jeep Renegade 2022 passou a trazer carregamento sem fio para smartphones e sua base carregadora tem saídas do ar-condicionado dedicadas a esfriar o smartphone. Isso permite que o aparelho não limite a potência da recarga.
Além disso, a indústria de smartphones e ferramentas digitais está em um ritmo frenético. E nem sempre, nem os fabricantes de smartphone nem os sistemas multimídia desenvolvidos pelas montadoras em parceria com fornecedores conseguem acompanhar.
Novos aplicativos são desenvolvidos a todo momento. E tendem a demandar ainda mais capacidade de processamento dos próprios telefones, com reflexos diretos no funcionamento através das centrais dos automóveis.
“A quantidade e a velocidade dos aplicativos é muito rápida. Há uma variedade enorme de apps desenvolvidos por diferentes startups, que necessitariam de recertificação. As atualizações de versões dos IOS e Android nem sempre conseguem acompanhar”, observa Ricardo Takahira.