Como ladrões estão abrindo carros em postos de rodovias sem deixar rastros
Furto que viola os sinais eletrônicos dos carros vem fazendo vitimas nas estradas do interior de São Paulo; saiba como se precaver
Mesmo uma rápida parada em postos na beira da estrada para ir ao banheiro pode se transformar dor de cabeça. Uma quadrilha especializada em furtar pertences deixados nos carros vem agindo há alguns meses em postos de gasolina no interior de São Paulo. Muitas vítimas só descobrem que seus carros foram violados horas depois.
Foi o que aconteceu com uma vítima ouvida por QUATRO RODAS, mas que não quis se identificar, no último dia 29/10. Morador de São Paulo, ele estava retornando para casa quando parou no Graal 56, na Rodovia dos Bandeirantes, por volta das 20:30.
Após utilizar o banheiro, o motorista entrou em seu automóvel e foi para sua casa. Somente em casa, percebeu que seus pertences pessoais, uma mochila e uma mala com roupas que estavam no porta-malas do carro, haviam sido furtados. Não havia sinais de arrombamento no carro.
A vítima entrou em contato com o Graal 56: “Fui informado que têm ocorrido casos frequentes de furtos realizados por uma quadrilha que utiliza um dispositivo conhecido como “chapolim ou Flipper”, que serve para desbloquear as portas dos carros. Quando o proprietário se afasta, os ladrões entram rapidamente no carro e levam o que estiver dentro dele.”
O equipamento, semelhante a um controle remoto, embaralha os sinais eletromagnéticos do alarme e impede que o veículo seja trancado. Alguns modelos conseguem, inclusive, copiar o código de segurança da chave. Quando o proprietário se afasta, os ladrões entram rapidamente no carro e levam o que estiver dentro dele.”
No site Reclame Aqui, encontramos outra vítima que teve objetos furtados no dia 22/8 fez o seguinte relato:
“Ontem, 22/08/24, por volta das 15:20 parei meu veículo bem em frente à porta da saída do estabelecimento (ao lado do carro da fachada do NYC Burger) do Graal 56. Peguei uma troca de roupa na bolsa de viagem e fechei o carro. Após uns 5 ou 10 minutos, retornei para o carro e segui viagem. Quando cheguei em casa percebi que minha mochila com Notebook e documentos de trabalho, bem como a bolsa de viagem com meus pertences pessoais haviam sido furtados. Desesperador, tive furtado não somente um Notebook, mas arquivos de anos de trabalho, documentos de clientes. Tentei contato telefônico na rede, porém sem êxito. Entrei em contato no ‘fale conosco’ solicitando as imagens da câmera de segurança para as devidas providências do ato [Editado pelo Reclame Aqui], porém não recebi sequer um número de protocolo.”
Houve um caso, relatado pelo Jornal da Região, no qual um policial aposentado prendeu em flagrante um ladrão de 28 anos que estava furtando os pertences de um Volkswagen T-Cross estacionado no mesmo Graal 56. Ele teria suspeitado do comportamento do bandido, que portava um bloqueador de sinais ( popularmente conhecido como “chapolin”) quando a vítima saía do carro.
Procuramos a Rede Graal para se pronunciar e comentar as ocorrências nas suas dependências, mas a empresa não quis se pronunciar.
Como agem os ladrões?
Responsável pelo canal Penegui, especializado em segurança da informação, Davi Mikael nos ajudou a esclarecer como os ladrões estão destrancando carros sem deixar rastros.
“A tecnologia da segurança empregada nos automóveis está em constante evolução e é considerada muito confiável, porém há algumas maneiras de conseguir abrir um automóvel utilizando recursos tecnológicos”, diz Davi, que faz estudos em diversos hardwares a fim de melhorar a segurança.
A primeira e mais tradicional forma de se furtar um automóvel é, provavelmente, com técnica utilizada nos casos citados nesta reportagem: usando um bloqueador de sinais.
Os sistemas de travamento remoto dos carros, que ativa o alarme, trabalham com a emissão do sinal de fechamento das portas em uma determinada faixa de frequência de ondas de rádio. Um aparelho chamado jammer é usado para que esse sinal não seja transmitido no momento que a vítima aciona a chave para trancar seu carro.
O Jammer “suja” o sinal em determinada frequência escolhida pelo usuário, impedindo que qualquer tipo de comunicação entre aparelhos que utilizem a mesma frequência. É o tipo de aparelho utilizado para bloquear sinais 4g/5g em penitenciárias, por exemplo. Hoje, são poucos os automóveis com sistema de segurança capaz de identificar o uso do Jammer, tocando o alarme.
Outro método é copiando o código da chave do carro. Isso é possível porque as chaves dos automóveis utilizam um sistema de criptografia chamado Rolling Code. Com ele, chave e carro utilizam códigos diferentes em cada comunicação. A chave, por sua vez envia, um novo código de uso único a cada vez que é acionada, o que, em teoria, impede que este código seja copiado.
Se o seu automóvel é dos anos 1990, tome cuidado: a tecnologia de código único começou a ser difundida a partir de 1990, mas somente nos anos 2000 que virou um padrão de segurança global em todas as fabricantes de automóveis do planeta.
Mas, se o bandido tiver acesso à chave do seu carro e ela estiver distante o suficiente do seu automóvel para não haver comunicação entre os dois, o bandido poderá interceptar e copiar o código único ainda não utilizado. Feito isso, ele terá conseguirá abrir aquele automóvel em um segundo momento.
“Ao estacionar em locais públicos ou com risco de furto ou roubo do automóvel, o ideal é fechá-lo e confirmar que o mesmo realmente trancou suas portas. Outra dica é manter a chave em sua posse o tempo todo. Se você deixar seus pertences em cima de uma mesa de lanchonete por exemplo, em poucos segundos e utilizando equipamentos simples será possível copiar aquele código único ainda não utilizado e acessar seu automóvel”, explica Davi.
O que é o tal Flipper?
Flipper é uma ferramenta eletrônica de baixo custo utilizada por profissionais de segurança da informação para estudar e desenvolver tecnologias cada vez mais seguras evitando tais fraudes.
Por ser um aparelho de fácil utilização até determinado nível, é comum você ver videos com pessoas utilizando ele para realizar pegadinhas em aparelhos que possuem baixa ou nenhum nível de segurança, como alguns modelos de portões eletrônicos, sistemas de fila de espera a distância em restaurantes, entre outros.
O Flipper também pode ser utilizado para praticar delitos mais tecnológicos, mas há outros diversos aparelhos até mais baratos e mais acessíveis que o Flipper que também realizaram tal façanha.