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O que saber antes de comprar um carro elétrico no Brasil

Pode rebocar? É possível encarar alagamento? Dá para consertar a bateria? Como são os carros elétricos na rotina do dia a dia

Por Fernando Miragaya
Atualizado em 14 abr 2024, 20h06 - Publicado em 14 abr 2024, 07h00
carros elétricos
(Fernando Pires/Quatro Rodas)

Mesmo com a pandemia, o Brasil anotou 36.090 eletrificados no primeiro trimestre de 2024, um crescimento de 145% frente ao mesmo período de 2023, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Apesar desse avanço, ainda existem muitas dúvidas em relação ao uso desse tipo de veículo.

Se ele der problema no meio da rua, o que o motorista deve fazer? Como saber se as baterias estão boas? E se ele ficar parado muito tempo, pode estragar? A seguir, reunimos algumas respostas para essas e outras dúvidas a respeito do assunto.

O que acontece se acabar a energia da bateria?

Se o seu carro totalmente elétrico ficou sem carga, aja como se fosse um carro normal a combustão. Como eles são veículos automáticos, destrave o câmbio e empurre-o até um local seguro e ponha o triângulo na pista se esse local for a via ou o acostamento.

carros elétricos
Carregar os carros elétricos é um processo muito seguro, mas nem sempre tão rápido (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)

O desbloqueio da transmissão ou do diferencial geralmente é feito com câmbio em neutro, destravando o freio de estacionamento, ou através de uma fenda ao lado da base da alavanca, onde é possível introduzir uma chave. Na dúvida, consulte o Manual do Proprietário.

A bateria do carro elétrico fica viciada?

Isso é coisa de celular das antigas. As baterias de íon de lítio dos carros não têm mais o chamado efeito memória que fazia a bateria ficar viciada. O que acontece é que um banco de baterias é composto de vários módulos. Se um estiver “menos eficiente” ou mais “envelhecido” que o outro, o sistema vai balancear as células e equilibrar essa carga, pois uma parte pode demorar mais para carregar que a outra.

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Por essa razão, os carros costumam chegar rapidamente aos 80% de carga. A partir daí, o processo para chegar a 100% é mais “demorado”, justamente para que esse balanceamento aconteça.

Qual a vida útil da bateria de um carro elétrico?

Baterias de carros elétricos costumam ter garantia de 8 anos, mas isso não quer dizer que a bateria só vá durar 8 anos. Isso depende muito mais dos ciclos de recarga. Hoje, há baterias que podem suportar mais de 3.000 ciclos. Logo, se o carro roda 300 km por carga, a bateria duraria o suficiente para percorrer 900.000 km – coisa que poucos carros a combustão fazem.

ORA x Dolphin
As versões de entrada têm diferenças mais significativas em desenho e conteúdo (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Essa estimativa de quilometragem, claro, não considera a degradação natural da bateria. Carro elétrico está sujeito ao mesmo problema do seu smartphone: perde capacidade de carga com o passar do tempo.

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Uma informação interessante passada pelos engenheiros da GM no laboratório de testes de baterias da empresa, em Warren (Michigan) é que os Chevrolet Bolt que alcançaram os 160.000 km rodados (100.000 milhas) ainda têm 94% da capacidade original das baterias, uma perda de apenas 6%. É menos do que os 80% que a empresa estimava.

Como saber se as baterias do carro elétrico estão boas?

Bateria elétrica
Bateria de carro elétrico pode ser consertada (Reprodução/Internet)

As concessionárias – e algumas oficinas independentes – já têm um equipamento que faz uma análise das baterias. O aparelho realiza uma diagnose e puxa parâmetros do estado das peças, que podem direcionar para uma eventual manutenção.

Para quem pensa em comprar um elétrico híbrido ou seminovo, essa pode ser uma solução para se ter mais segurança antes de fechar o negócio.

Como fazer a bateria do carro elétrico durar mais?

Para aumentar a vida útil da bateria, deve-se atentar para o modo de dirigir. A energia demandada nos elétricos é muito maior em acelerações e frenagens. Por isso, evite arrancadas e paradas bruscas. Viu o semáforo vermelho? Tire o pé do acelerador com antecedência, até porque essa desaceleração ajuda a recuperar energia.

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A utilização recorrente de recarga rápida (DC) também tende a acelerar a degradação das células das baterias. Há fabricantes que, inclusive, recomendam que seja feita uma recarga lenta (AC) semanalmente.

Outra estratégia importante é evitar que a bateria permaneça por muito tempo com carga completa. Então, quem usa 20% da carga por dia não precisa recarregar o carro todos os dias, nem deve. A não ser que precise de mais autonomia no dia seguinte.

Também não se deve deixar a bateria com carga muito baixa. No caso dos BYD, os carros elétricos perdem a garantia se ficarem com carga abaixo dos 5% por mais de 14 dias.

E se o carro elétrico ficar parado muito tempo?

208
Peugeot 208 elétrico chega em 2021 (Fernando Pires/Quatro Rodas)
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“Carro elétrico não é feito para ficar parado. É para ficar o tempo todo sendo usado, sob pena de prejudicar a saúde das baterias”, adverte o engenheiro  Ricardo Takahira. Ele lembra que os componentes eletrônicos devem ficar constantemente energizados. Por isso, a recomendação é de que ele não só seja ligado como ande pelo menos uma ou duas vezes na semana.

Caso o carro fique parado por muito tempo com baixa carga, há risco de sulfatação da bateria.

Mas se o carro elétrico precisar ficar parado…

O ideal é que, se for ficar com o carro elétrico parado, estacione-o com pouca carga. A energia acumulada e parada vai afetar as baterias – lembra do que acontece quando você esquece as pilhas do brinquedo do seu filho dentro do compartimento… E, apesar de os plugues terem sistemas avançados de segurança, não deixe o veículo na tomada sem necessidade.

O manual dos BYD recomenda que, para preparar o carro para um longo período parado, a bateria seja completamente recarregada e em seguida seja descarregada à faixa entre 60 e 40% por meio da utilização do ar-condicionado. Se o período se estender por mais de três meses, o Manual recomenda recarregar a bateria mensalmente – mas não diz se o procedimento de descarregamento precisa ser repetido.

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Esqueci a luz interna e os faróis acesos. E agora?

nissan leaf
O Nissan Leaf foi um dos primeiros carros elétricos vendidos no Brasil (Alexandre Battibugli/Quatro Rodas)

Esses itens geralmente são alimentados por uma bateria normal, de 12 V, que é responsável pelos periféricos do automóvel. Mas aqui vale um alerta: nada de fazer a chupeta de híbridos e elétricos em veículos a combustão. A bateria de 12 V dos eletrificados não costuma ter capacidade para alimentar o motor de arranque do outro veículo.

Dá para encarar enchente com carro elétrico?

Sim. A dica de evitar trechos onde a água esteja acima da metade da roda vale para todos os veículos, inclusive os eletrificados. Mesmo assim, o elétrico leva vantagem, pois não tem escapamento, então não aspira água. Mas tenha certeza de que o carro não vai dar choque nem entrar em curto-circuito por causa da chuva.

O conjunto de baterias é selado e à prova de infiltrações. Além disso, há um dispositivo de segurança que corta a corrente em caso de acidentes ou se o sistema perceber a entrada de água. Outros equipamentos são vulneráveis a alagamentos como em qualquer carro…

Pode carregar o carro se estiver chovendo? Ou perto de crianças?

Sim, o sistema é bastante seguro. Os cabos do carregador e os demais componentes são preparados para proteger o usuário de um choque elétrico e até resistem a um jato de água direcionado – e em qualquer condição meteorológica.

Esqueci o conector ligado e arranquei com o carro. E aí?

Abre Teste Desafio Autonomia Elétricos

Na verdade, essa situação é praticamente impossível. O sistema de carregamento trava o carro e nenhum elétrico consegue sair do lugar se ainda estiver na tomada. Geralmente, é preciso destravar o soquete de dentro da cabine do veículo ou pela chave – até como segurança para evitar que alguém furte o carregador.

Sabe o meme do carro elétrico sendo recarregado em movimento por um gerador a gasolina? É fake, justamente porque não é possível andar com o carro enquanto está recarregando.

Dá para consertar o conjunto de baterias?

Como as baterias têm níveis de desgaste distintos, até é possível fazer um rearranjo das células que melhore a performance do conjunto. Ou seja, se redistribui os componentes para equilibrar as forças e ganhar mais metade da vida útil das baterias, o que financeiramente já seria vantajoso – lembre-se que um banco novo de baterias pode custar mais que o preço do carro usado.

“As células envelhecem de maneira diferente. É possível reagrupá-las de uma forma que melhore a performance por agrupamento”, explica Takahira. Porém, isso só pode ser feito em oficinas especializadas e por profissionais capacitados.

Outra questão é que nem todas as baterias têm módulos que podem ser rearranjados ou trocados, como as baterias Blade da BYD. Estas e algumas baterias da Tesla não podem ter suas células substituídas.

E quando a bateria dos carros híbridos plug-in acaba?

Híbridos plug-in são os que têm bateria de maior capacidade e que podem ser recarregadas externamente e não apenas pelo motor a combustão e pela regeneração de energia. Quando essa bateria chega ao seu limite, dá para continuar rodando com o motor a combustão.

Acontece que a potência e aceleração máxima desses carros só é obtida com a bateria carregada. Então o veículo vai funcionar como um HEV, ou seja, gerenciando cerca de 3% da carga da bateria para que o motor elétrico dê suporte ao motor a combustão em momentos mais críticos, como arrancadas, ou em velocidade de cruzeiro.

A questão é que a eficiência do carro vai ladeira abaixo… Isso porque, além de não ter o apoio do propulsor elétrico, o automóvel continua com o peso extra (e considerável) das baterias. Fica ainda pior se for acionado o modo onde o motor a combustão recarrega a bateria. Aí, torna-se um carro a combustão com o peso extra e só com o desempenho do motor a combustão.

O que acontece com a bateria quando chega ao fim da vida útil?

A legislação hoje estipula que a montadora ou o importador assumem automaticamente a responsabilidade pelo descarte das baterias, algo de extrema preocupação ambiental. Geralmente, as empresas pagam a outras para que deem uma destinação correta.

É possível reciclar os metais usados nas baterias, que podem ser reaproveitados. Antes disso, as baterias ainda podem ter uma segunda vida (e há testes com terceira vida) como bancos de bateria para, por exemplo, armazenar energia obtida por placas solares ao longo do dia para que seja reutilizada à noite.

Carro elétrico pode ser rebocado? 

O carro elétrico sem energia deve ser rebocado por prancha e pessoal especializado, sem que nenhuma das rodas do veículo toque o chão. Carros elétricos com tração nos dois eixos são comuns.

Logo, também não se pode usar outro carro para puxar um carro elétrico por um longo percurso. O Neutro do seletor de marcha só serve para desconectar os freios para permitir que o veículo seja empurrado por alguns metros.

Há quem use outro carro para rebocar o carro elétrico para que o sistema de regeneração recarregue a bateria, mas os fabricantes não recomendam sob pena de sobrecarregar os sistemas do carro. Afinal, no uso normal a regeneração não atua por longos quilômetros com constância, mesmo em descidas de serra.

Os fabricantes também costumam proibir a instalação de reboques em carros elétricos, sob pena de perder a garantia.

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