*Reportagem originalmente publicada em outubro de 2015
O Up! patinou na largada: caro demais na época de seu lançamento, no início de 2014, acabou servindo de escada para o Fox.
O consumidor ia até uma concessionária Volks e fazia o test-drive no Up!. Voltava para a concessionária e fechava a compra de um Fox, velho conhecido e, principalmente, maior.
Nem as 5 estrelas do Up! no teste de impacto conseguiam convencer a clientela a investir na novidade, menor e mais cara que a concorrência.
Depois de mexer nos preços e na configuração do conteúdo das versões, o Up!, enfim, começou a ser visto com maior frequência nas ruas.
Faltava ainda saber como ele reagiria a outro teste: o desmonte completo depois de rodar 60.000 km no Longa Duração de QUATRO RODAS. Não falta mais.
Motor três-cilindros, central de mídia inédita, carroceria com materiais de construção típica de modelos mais caros e a missão de se enfiar no meio de Gol e Fox.
O Up! era uma compra praticamente obrigatória para o Longa Duração. Optamos pela versão High, com os opcionais Maps & More, ar-condicionado e a cor especial Amarelo Saturno, pela qual pagamos R$ 37.098.
Do pedido à chegada do automóvel, foram longos 81 dias de espera.
Logo de cara, uma entrega demorada e atrevida da Amazon: teve até pedido explícito de caixinha após um atraso de quase duas horas.
O vidro dianteiro esquerdo passou a movimentar com dificuldade. Pouco tempo depois era a água do lavador que pingava no vidro traseiro.
Mas o problema que mais incomodou os 29 motoristas do Up! surgiu logo no início da jornada: a tela do Maps & More travava e ficava inoperante.
E seguiu travando sem explicação até a revisão dos 50.000 km, quando a autorizada Frankfurt finalmente providenciou a troca do equipamento.
No geral, a rede VW prestou serviços melhores do que no Golf: apenas a Toriba tentou cobrar um preço abusivo pela revisão, aos 30.000 km.
Mas o deslize mais grave partiu da Frankfurt, que não condenou os pneus na revisão dos 50.000 km.
“Dois deles chegaram ao final do teste com alguns pontos da banda de rodagem com sulcos rasos demais. A Frankfurt deveria, no mínimo, ter recomendado um acompanhamento especial do desgaste, pois aos 50 000 km eles já davam sinais de que poderiam não suportar a rodagem até a revisão seguinte, como de fato aconteceu”, diz Fabio Fukuda, responsável técnico pelos desmontes.
O desmonte
Desmembrado, o Up! teve suas peças criteriosamente analisadas. E o que se viu, em linhas gerais, foram componentes com estado de conservação muito próximo do de um novo – e, por consequência, muito aquém dos parâmetros mínimos tolerados pela fábrica.
A média da medição de pressão de compressão dos cilindros 1, 2 e 3 foi de, respectivamente, 12,3, 12,1 e 12,3 bar. O manual técnico VW indica como valor mínimo 6,7 bar, com tolerância de até 3,0 bar de diferença entre os cilindros.
A abertura do cabeçote e do bloco deu sequência à boa avaliação. “Todos os números extraídos estavam distantes dos valores tolerados no manual da fábrica. Na verdade, nem parecia um motor com 60 000 km rodados”, diz Fukuda.
Formação excessiva de material carbonizado na cabeça dos pistões e nas válvulas de admissão são uma característica negativa constantemente vista nos desmontes. Mas não no Up!.
“Retentores de válvulas e sistema de circulação de vapores trabalharam com uma eficiência acima da média. A partida a frio sem tanquinho de gasolina também colaborou para a ausência de carvão nas câmaras de combustão”, diz Fukuda.
No conjunto de ignição, outra prova da alta qualidade do motor três-cilindros da família EA211: as velas, com folga de entre-pontas de 0,8 milímetro sofreram um desgaste mínimo.
O câmbio se mostrou em plena forma no desmonte: rolamentos e engrenagens isentos de qualquer sinal de funcionamento irregular e anéis sincronizadores e garfos e luvas de engate com indicações mínimas de desgaste.
Apesar de a VW não indicar a menor altura tolerável do disco de embreagem, aferimos 1 mm de espessura. “Para esse componente, isso é muito. Tanto que aos 60.000 km ela não dava nem sinal de patinar nas arrancadas”, avalia Fukuda.
A fonte do ruído na dianteira, reclamado por alguns usuários, foi desvendada no desmonte. Era o amortecedor dianteiro direito, com rolamento do batente superior com folga excessiva.
Os demais componentes venceram os 60.000 km em ordem, assim como os sistemas de direção e elétrica. A carroceria bem vedada e os acabamentos com grampos e presilhas de alta pressão também foram elogiados por Fukuda.
Comemore, Up!: você sai de cena aprovado como o melhor 1.0 já avaliado pelo teste de Longa Duração.
APROVADAS
Carroceria, além de segura, é bem vedada contra água e poeira
Motor sem contaminação
A concepção moderna deu ao bloco três-cilindros da família de motores EA211 uma performance invejável no desmonte.
Tanto a cabeça dos pistões como as válvulas de admissão atravessaram os 60 000 km com baixíssimo índice de acúmulo de material carbonizado.
Como tem de ser
Pó e água ficaram do lado correto da carroceria: o de fora. Carpetes retirados e praticamente não se via sinal de poeira. Presilhas e travas de alta pressão dão ao Up! um nível de acabamento acima da média.
Caixa econômica
Diferente da assistência hidráulica, a elétrica não consome energia diretamente do motor. E isso se traduz em economia de combustível. No Up!, todo o conjunto encerrou o teste intacto, com a caixa sem folgas e sem ruídos.
Pedras no caminho
No início da jornada do Up! no teste de Longa Duração, pedras se alojaram no coxim inferior, causando muito barulho nas arrancadas. No desmonte, todos os suportes estavam em perfeito estado, sem trinca na borracha.
Juiz de futebol
Dizem que um bom árbitro de futebol é aquele que mal é notado em campo. Aplicada a máxima ao Up!, o câmbio é o juiz.
O funcionamento justo, silencioso e preciso foi sua marca ao longo dos 60 000 km. Garfos e luvas de engate e engrenagens estavam como novos.
Alimentação e digestão
Bicos injetores e velas de ignição em bom estado e corpo de borboleta com reduzido índice de sujeira na zona móvel colaboraram para o bom funcionamento do motor três-cilindros.
ATENÇÃO
Os pneus não receberam a atenção devida da rede autorizada.
Extensão máxima
Ao atingir sua extensão máxima com uma frequência acima do normal, o amortecedor dianteiro direito teve seu batente superior rompido.
O trabalho forçado ainda prejudicou o rolamento, que apresentou uma folga excessiva no desmonte. “Na verdade, era ele o responsável pelo aumento do peso da direção e não o próprio sistema de direção”, diz Fukuda.
No limite
O limite de desgaste foi atingido em alguns pontos da banda de rodagem de dois pneus. Erro da autorizada que fez a revisão dos 50 000 km: ela deveria ter, no mínimo, recomendado atenção especial a esses dois pneus.
VEREDICTO
A exemplo do que mostrou durante a passagem do Golf pelo Longa Duração, a rede VW vacilou com o Up! e tem o que melhorar. Mas é preciso ser justo: notamos uma evolução na qualidade geral do atendimento.
Quanto ao projeto, o Up! demonstrou no desmonte ser muito mais do que um carro extremamente seguro.
Motor e câmbio em estado de novos e boa qualidade de acabamento, materiais e montagem ajudaram o carro a se sagrar como o melhor 1.0 já avaliado pelo Longa Duração.
Principais ocorrências
183 km: | Após o uso, esguichador deixa água escorrer no vidro traseiro |
722 km: | Vidro dianteiro esquerdo se movimenta com dificuldade |
4.088 km: | Travamento súbito da tela do Maps & More |
18.244 km: | Pedra alojada no coxim inferior gera trepidação nas arrancadas |
50.008 km: | Central de mídia Maps & More trocada em garantia |
52.089 km: | Direção pesada nas manobras |
Folha corrida
Preço de compra: | R$ 37.098 (maio de 2014) |
Quilometragem total: | 60.231 km (42.594 km / 70,7% rodoviário; 17.637 km / 29,3% urbano) |
Litros de etanol consumidos: | 5.840,4 |
Custo: | R$ 12.123,82 |
Consumo médio: | 10,3 km/l |
Revisões
10.000 km: | R$ 233 (Brasilwagen) |
20.000 km: | R$ 236 (Auto Green) |
30.000 km: | R$ 464 (Toriba) |
40.000 km: | R$ 488 (Carrera) |
50.000 km: | R$ 387 (Frankfurt) |
Peças extras às revisões: | Alinham., balanc. e rodízio – R$ 620; funilaria – R$ 700; borracharia – R$ 110; pastilha de freio – R$ 412; |
Custo por 1.000 km: | R$ 261,89 |
Testes
1.008 km | 60.006 km | Diferença | |
Aceleração | |||
0 a 100 km/h | 14,5 s | 14,2 s | 2,07% |
0 a 1000 m | 36,1 s / 140,1 km/h | 35,8 s / 142,7 km/h | 0,83/1,86% |
Retomadas | |||
3ª 40 a 80 km/h | 8,9 s | 8,5 s | 4,49% |
4ª 60 a 100 km/h | 14,8 s | 13,1 s | 11,49% |
5ª 80 a 120 km/h | 26,1 s | 21,8 s | 16,48% |
Frenagens | |||
60/80/120 km/h a 0 | 16,4 / 27,6 / 67 m | 17,6 / 30 / 67,8 m | 7,32% / 8,7% / 1,19% |
Consumo | |||
Urbano | 9,5 km/l | 10 km/l | 5,26% |
Rodoviário | 11,4 km/l | 12,5 km/l | 9,65% |
Ruído interno | |||
PM / RPM máx. | 40,9 / 70,4 dBA | 40,4 / 70,3 dBA | 1,22 / 0,14% |
80 / 120 km/h | 63,8/69,8 dBA | 64,7 / 70,8 dBA | 1,41% / 1,43% |