Mercedes EQS SUV é o elétrico que os alemães demoraram para fazer
Com mais personalidade que o sedã homônimo, Mercedes EQS SUV é o melhor elétrico da marca – até agora
Não dá para negar: o primeiro SUV elétrico da Mercedes, o EQC, não cumpriu o que se esperava da marca alemã quando foi lançado, em 2019.
A plataforma do GLC a combustão limitou seu conforto e sua mecânica. Isso mudou com o sedã EQS, concebido em uma plataforma dedicada aos elétricos. Mas é agora, com o EQS SUV, que a Mercedes passa a ter um bom carro elétrico que também tem personalidade. E ele será lançado no Brasil ainda em 2023.
A verdade é que a nova geração do Classe S ofuscou o sedã EQS, com sua frente extremamente estreita e baixa, ao que pode ser creditada a excelente aerodinâmica de 0,20 cx (recorde).
Os 0,26 cx do novo SUV são bons apenas para esse tipo de carroceria, mas é muito mais atraente com a frente mais volumosa e uma silhueta facilmente reconhecível como a de um SUV.
O SUV elétrico mantém o mesmo entre-eixos (3,21 m) do sedã, mas é 9 cm mais curto por ter balanços menores e ainda é 20 cm mais alto. Não parece um monovolume ou algo mais difícil de definir, especialmente quando falamos de um carro com sete lugares – a terceira fila é opcional.
O responsável pelo design exterior, Thomas Sälzle, explica o efeito obtido: “Para isso foi determinante a pintura preta na parte final da coluna traseira, que disfarça esse perfil tradicional, parecendo ter o caimento de cupê na área mais clara da coluna”.
Na cabine, é difícil não perder a atenção com a central MBUX Hy-perscreen, com três telas que somam 1,41 m de área do painel, mas que na Europa é um opcional de 8.000 euros (cerca de R$ 41.300). Na verdade, há uma integração entre as 12,3 polegadas do quadro de instrumentos, as 17,7 polegadas da tela central e as 12,3” à frente do carona.
É claro que há muita informação acessível, mas esse número de telas, desconsiderando o head-up display, também atrapalha pelo excesso e pela redundância de algumas informações. Acaba sendo cansativo: melhor preferir a configuração básica, com uma tela central menor destacada, semelhante à do novo Classe C.
O acabamento é feito com materiais de alta qualidade, com direito a combinação de madeira e alumínio (e estrelas de alumínio incrustadas na madeira). Mas a parte traseira dos bancos está forrada com plástico e não com couro, e as duas telas (que podem estar fixadas atrás dos encostos de cabeça dianteiros) são de um plástico que deixa a desejar em qualidade.
Há três carregadores sem fio para smartphones, estando um deles dentro do descanso de braço da segunda fila. O EQS SUV também tem um tablet portátil acoplado ao apoio de braço central-traseiro.
Esta segunda fila ainda tem ajuste elétrico longitudinal (a variação é de 13 cm) e para reclinar, aumentando o conforto da terceira fila. Também por isso a capacidade do porta–malas varia de 645 a 880 litros.
Se o cliente optar por comprar a opcional terceira fila com dois bancos individuais, ainda terá 195 litros quando estiverem armados. E, se rebatidos, serão de 800 a 2.020 litros para bagagem em um piso nivelado.
Quem vai na segunda fila do Mercedes EQS SUV pode alternar entre o espaço enorme e o suficiente para um passageiro de 1,80 m. Na terceira fileira viajam com conforto passageiros com até 1,75 m.
O que vale destacar é que a turma do fundão ainda conta com ajuste de temperatura do ar-condicionado, porta-copos e portas USB-C independentes.
A oferta de combinações mecânicas são as mesmas do sedã EQS, três opções: 450+, com 360 cv; 450 4Matic, também com 360 cv; e o 580 4Matic, com 544 cv contra 523 cv do sedã.
Ou seja, a potência dos EQS 450 será sempre a mesma, com tração traseira ou integral, pois o rendimento máximo dos dois motores é limitado, na verdade, pelas baterias.
O EQS usa um sistema de 400 V, e não de 800 V como outros elétricos de luxo, como os Audi e Porsche. Isso influi tanto no rendimento dos motores quanto na potência de recarga.
Eixo traseiro direcional
Por sinal, a capacidade da bateria é de 107,8 kWh e a maior autonomia é da versão com tração traseira, que dirigimos, de 671 km. No sedã, seriam 743 km. A recarga pode ser feita a até 200 kW, quando o EQS SUV recupera 250 km de autonomia em cerca de 15 minutos.
Ao volante do Mercedes EQS SUV 450+, que custará a partir de 125.000 euros na Europa (R$ 645.000), notamos como o acerto de chassi e suspensão são similares ao do sedã.
Há ajustes, claro, nos conjuntos duplo A dianteiro e multilink traseiro, para se adequar às proporções de um SUV. Também preservaram a suspensão pneumática Airmatic e os amortecedores eletrônicos, que permitem ajustes entre os modos Eco, Comfort, Sport e Individual (os 4×4 ainda têm modo Off-road).
O eixo traseiro direcional é de série, mas com rotação de apenas 4,5 graus. A Mercedes cobra a mais para chegar aos 10 graus máximos e o pagamento extra pode ser feito depois que o carro já estiver com o proprietário.
A direção bastante direta permite sentir bem a estrada nos arredores de Denver, no Colorado (EUA), onde nosso test-drive aconteceu. E também ficará mais pesada no modo Sport, quando a carroceria também passa a transferir todas as imperfeições que o modo Comfort é capaz de filtrar.
A constantes 120 km/h quase nada se escuta. Se a Mercedes já era capaz de fazer um bom isolamento acústico com carros a combustão, trabalhou ainda melhor para um carro com motor silencioso incapaz de esconder certos barulhos.
Os efeitos sonoros virtuais é que poderiam ser dispensados, pois têm frequências que variam entre naves espaciais (Silver Waves e Vivid Flux) e os de um mamífero de grande porte sofrendo de problemas gastrointestinais (Roaring Pulse).
Se a tração integral fez falta nesse primeiro contato? Por mais que o test-drive tenha sido em uma região montanhosa, o motor traseiro demonstrou ser mais do que suficiente e não pareceu inseguro.
É um carro capaz de chegar aos 100 km/h em 6,7 segundos e aos 210 km/h de máxima, de acordo com a Mercedes. É o desempenho típico de um SUV desse porte com motor a combustão. Irônico é ser um SUV sem modo off-road, por não ter tração integral.
Também é irônico que as borboletas atrás do volante sirvam para alternar os níveis da frenagem regenerativa (D+, D e D-), que também pode ser ajustada automaticamente pelo carro. Pelo menos o EQS SUV é um veículo que nasceu elétrico e não uma adaptação, não finge ser o que não é.
Veredicto – O EQS oferece luxo, conforto, espaço interno e segurança em um projeto bem executado
Ficha Técnica – Mercedes EQS SUV 450+
Motor: elétrico, traseiro, 369 cv, 59,6 kgfm; baterias de íons de lítio, 107,8 kWh
Câmbio: automático, 1 marcha + ré, tração traseira
Direção: elétrica
Suspensão: ind., pneumática, multibraços, nos dois eixos
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Pneus: n/d
Dimensões: comprimento, 512,5 cm; largura, 195,9 cm; altura, 171,8 cm; entre-eixos, 321 cm; peso, 2.620 kg; porta-malas, 645 l (195 l com sete lugares)
Desempenho*: 0 a 100 km/h, 6,7 s; velocidade máxima de 210 km/h
Recarga: AC (11 kW/22 kW): 10/5 horas; DC (200 kW): 31 min; autonomia até 671 km