Harley-Davidson Softail Rocker C
A Rocker parece uma moto customizada, mas é a H-D com roupa de festa
Se a ideia do projeto da Harley-Davidson Rocker C nasceu de um exercício do departamento de estilo, os designers da marca norteamericana pode se considerar recompensados. Bonita, o que ela chama atenção não é brincadeira. A “roqueira” é uma chopper original de fábrica com apelo visual digno da grife de customizadoras renomadas, como a Orange County – a mesma do seriado American Choppers – ou a Arlen Ness. Seu visual alongado inclui pintura discreta, nem por isso menos atraente, com chamas decorativas em ambos os lados. As bengalas enormes da suspensão dianteira têm ângulo de cáster avantajado e mantêm a roda lá na frente. O guidão com formato em V, que avança sobre o tanque em direção ao piloto, e o banco único compõem o visual roqueiro, inspirado nos rebeldes anos 50 da turma de James Dean e Elvis Presley.
Graças ao assento, aliás, ela tem aparência de monoposto, mas não é: o assento do garupa é levemente camuflado. O enorme para-lama traseiro cobre um gigantesco pneu de 24 cm de largura, um dos maiores já montados em motos de série. Pelo visual, parece tratar-se de uma rabo-duro (motos sem suspensão traseira, típicas dos anos 50), mas o sistema de suspensão batizado de Rockertail está lá, e tem ótimo funcionamento.
BANCO FLUTUANTE Exceto pelo chassi, os dois para-lamas, o tanque e as laterais, quase tudo mais na Rocker C testada é cromado ou polido, o que faz do brilho e seus reflexos a característica mais exuberante do modelo. O excelente acabamento e a alta qualidade de seu cromo se destacam – no guidão, é possível ver o reflexo do piloto em seu vértice, de tão perfeito que é seu polimento. As rodas de liga leve polidas dão certo ar esportivo (se é que se pode dizer assim) a essa criação, bem mais do que sua pilotagem proporciona. O banco parece flutuar sobre o enorme para-lama traseiro, que não tem nenhuma fixação aparente, solução que deixa visualmente leve a retaguarda desta chopper.
A posição de pilotagem inicialmente passa a impressão de ser relaxada. Mas essa sensação dura pouco. O banco duro se mostra cansativo para viagens mais longas e o assento do garupa, que vem embutido sob o do piloto, é minúsculo, comprometendo um passeio ligeiramente mais prolongado com acompanhante. A posição avançada das pedaleiras deixa as pernas apenas apoiadas e bem abertas, tornando necessário que o piloto fique constantemente fazendo força contra o vento para mantê-las próximas do tanque – esforço que vira um incômodo em uso rodoviário, em que geralmente a velocidade é maior. Depois de algumas horas na estrada, essa postura tensa pode ser bastante sacrificante, principalmente se o preparo físico do piloto não estiver em dia.
Os comandos dos punhos têm posição desfavorável para acionamento da buzina e mudança de farol, retardando movimentos importantes para a segurança na condução. O painel minimalista, apesar de completo nas informações, obriga o condutor a baixar a cabeça para efetuar a leitura, em função do posicionamento sobre o tanque. Seu pequeno farol contrasta com a imponência de seu porte, mas ilumina bem e permite viajar à noite.
MANOBRA DE PESO As características técnicas da Rocker C, infelizmente, não confirmam a expectativa criada pelo apelo visual quando chega a hora de pilotar. Uma vez o piloto instalado na motocicleta, ainda parada, basta tentar virar o guidão para se assustar com a força necessária para realizar a operação. Nas manobras em baixa velocidade, ela exige treino e certa habilidade do piloto. Seu peso se faz presente de forma bastante incômoda, demandando força para a execução de movimentos simples como virar uma esquina ou desviar de um buraco. Em compensação, ao ganhar velocidade, é muito mais fácil fazê-la mudar de direção sob os comandos do guidão. Na estrada, a Rocker C mostrou que é obediente e “lisa” para contornar curvas. É bem verdade que curvas mais fechadas vão exigir atenção redobrada, já que o limite de inclinação é pequeno e as pedaleiras tocam o chão com muita facilidade, inclusive raspando o escape de um lado e o descanso lateral do outro.
Diferentemente das queixas tradicionais dos modelos custom ou chopper acerca das pancadas vindas diretamente da suspensão para as costas, na Rocker a traseira com duplo amortecimento – são dois amortecedores instalados sob o motor -, batizada de Rockertail, é muito macia, absorvendo as imperfeições encontradas no pavimento, sem causar essa dor incômoda. A suspensão dianteira também assimila bem as irregularidades do asfalto, mas em determinadas situações tende a quicar, sendo vencida pelos “bumps”. Em curvas, essa reação é bem desagradável e até perigosa.
Se a ciclística tem características próprias em função de sua geometria exclusiva, o motor é um velho conhecido. O V-twin de 1584 cc com excelente torque de 13,4 mkgf a 3000 rpm – a potência não é declarada – tem respostas convincentes desde as baixas rotações, apesar de seus vultosos 320 kg em ordem de marcha. A vibração do propulsor faz parte do DNA da marca, apesar de ter melhorado desde que suas novas versões de motor – 96 e 96B – receberam balanceiros e a sexta marcha alongada. Mesmo em overdrive – a sexta marcha serve para manter a velocidade de cruzeiro em estradas – a vibração existe, e aumenta se for preciso acelerar para ganhar velocidade. O câmbio de seis marchas é um pouco duro e ríspido, mas tem bom escalonamento. O neutro é difícil de ser encontrado, principalmente com a moto parada. Todas essas características são comuns aos modelos chopper, que primam pela identidade visual e pela exclusividade, muitas vezes abrindo mão de conforto e dirigibilidade.
A Harley-Davidson Softail Rocker C tem atributos de sobra para encher os olhos de qualquer mortal, e os amantes da marca americana não vão precisar gastar nem um tostão em customização para ter uma moto bem exclusiva. Outras opções de cores estão disponíveis, todas elas muito chamativas. Sem dúvida, uma boa escolha para quem ama o segmento e quer viver o estilo de vida Harley.
TOCADA Seu habitat é estradeiro e suas curvas são as abertas: as pedaleiras raspam facilmente. A posição é cansativa, mas a suspensão traseira ajuda.
★★
DIA A DIA Definitivamente não foi feita para uso diário. Suas dimensões dificultam manobras em baixa velocidade e não raro as pedaleiras batem nas rodas dos carros na tentativa de andar pelos corredores.
★★
ESTILO Esbanja beleza, e sua aparência de moto customizada salta aos olhos e chama atenção pelas linhas e pela quantidade de cromados aparentes.
★★★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO O motor tem a pegada característica da disposição em V, com bom torque em baixas rotações e muita vibração em quase todas as faixas de giro. O câmbio é ríspido nos engates e dificulta achar o neutro.
★★★★
SEGURANÇA Seu longo entre-eixos e o ângulo de cáster enorme a tornam pesada em baixa velocidade e ineficaz nas curvas fechadas. Em contrapartida, o sistema ABS ajuda bastante nas frenagens.
★★★
MERCADO Uma motocicleta que tem público específico, disposto a pagar sem pestanejar. Já na hora da revenda, o processo deve ser dificultado pela exclusividade.
★★★
VEREDICTO
É uma moto de série com algumas das características que marcam as customizadas, sem perder tanto o valor de revenda como as personalizadas.