Há dez anos já se falava que os carros automáticos iriam dominar o mercado no Brasil, assim como acontecia nos EUA e na Europa. E a profecia se confirmou: atualmente são eles os mais vendidos em nosso país.
Segundo a consultoria Jato, 57,6% dos zero-km comercializados no Brasil eram automáticos. E a expectativa é de que eles representem cerca de 90% das vendas de automóveis, até o final da década, segundo a consultoria Bright Consulting.
De olho nessa supremacia dos automáticos, a Toyota aposentou o câmbio manual na linha 2023 do compacto Yaris (equipado com câmbio CVT). E a Fiat, por sua vez, tratou de equipar o Argo com o conhecido conjunto de sua linha composto pelo motor 1.3 Firefly combinado com a transmissão CVT (de Strada, Pulse e Cronos), devolvendo ao modelo a versão automática que ele perdeu com a aposentadoria do motor 1.8, há cerca de um ano e meio.
Aqui, alinhamos essas duas novidades do segmento que, por acaso, usam o mesmo câmbio CVT com simulação de sete marchas da japonesa Aisin.
A comodidade de se livrar do ato de trocar as marchas combinada com um bom conteúdo, desempenho satisfatório e consumo de combustível digno de modelos híbridos faz com que esses dois compactos se destaquem pelo custo/benefício (embora não seja possível afirmar que eles custem pouco).
Com a redução dos preços pelo programa de incentivos do Governo Federal, o Fiat Argo teve seu preço reduzido de R$ 92.990 para R$ 87.990. Já o Toyota Yaris viu seu preço baixar dos R$ 97.990 para R$ 94.990.
Com os requisitos de conforto e preço satisfeitos, outro aspecto importante é o equilíbrio entre performance satisfatória e economia de combustível. E, nesse caso, o Fiat larga na frente, neste comparativo.
O Argo CVT conseguiu em nossa pista 13,2 km/l, no ciclo urbano, e 17 km/l no rodoviário – foi mais econômico que a versão manual, que fez respectivos 13 km/l e 16,6 km/l.
E esse feito pode ser atribuído ao bem-resolvido conjunto mecânico, o qual sendo utilizado em larga escala pela Fiat já foi testado e retestado, calibrado e recalibrado à exaustão. Com esses números de consumo, o Argo CVT se consagra como o automático mais econômico, em nosso teste.
O desempenho é satisfatório por estar dentro da média do segmento, mas não existe milagre com 107 cv e 13,7 kgfm (98 cv e 13,2 kgfm, com gasolina). Uma retomada mais exigente exibe as limitações de um carro que, para ir de 0 a 100 km/h, levou 13,1 s.
O motor 1.5 Dual VVT-i de 110 cv e 14,9 kgfm (105 cv e 14,3 kgfm, com gasolina) que equipa o Yaris ganha vantagem por ser mais potente e forte que o tricilíndrico do Argo e mostra isso em pista. No 0 a 100 km/h o Yaris foi 1,6 s mais rápido, cravando o tempo em 11,5 s. E as retomadas também foram superiores às do rival e a maior diferença foi na de 80 a 120 km/h, a qual cumpriu em 8,4 s, enquanto o Argo levou lentos 10,2 s.
O reverso da medalha veio nas medições do consumo, nas quais o hatch nipônico não levou a pior, com médias de 12,5 km/l na cidade e 15,9 km/l na estrada.
Nas provas de frenagens o Argo voltou a se destacar. Vindo a 120 km/h, ele gastou 58,8 metros até a parada, enquanto o Yaris percorreu 62 metros. Os dois são equipados com discos ventilados, no eixo dianteiro, e tambores, no traseiro.
Convivência harmoniosa Nesse segmento de hatches de entrada é esperado que boa parte da rodagem se concentre na cidade e, nessa condição, o desempenho de ambos é satisfatório, as acelerações são progressivas e o conjunto da suspensão cumpre bem a árdua tarefa de manter a carroceria estável no asfalto irregular e esburacado das grandes cidades.
Já na estrada o comportamento muda; como o máximo de torque só é entregue aos 4.000 rpm e o máximo de potência perto dos 6.000 rpm, em qualquer retomada ou ultrapassagem é necessário subir bem o giro – consequentemente há uma invasão do ruído do motor na cabine, o que nessa condição não agrada.
O Yaris mostrou-se mais silencioso em nosso teste, em rotação máxima medimos 69,5 decibéis, diante do Argo que chegou a 71,5 decibéis. A 100 km/h observamos que enquanto o motor do Toyota estava a 1.700 rpm o do Argo já girava a 2.100 rpm. E isso pode ser atribuído ao fato de o Yaris ser ligeiramente mais potente.
Ambos são equipados com transmissões CVT com sete marchas simuladas e as trocas são suaves e sem trancos. Em comum, os dois têm modo Sport e é perceptível que o pedal do acelerador fica mais responsivo e as trocas de marchas são feitas em rotações mais altas, um comportamento típico de uma tocada esportiva.
Nem de longe, porém, os hatches automáticos têm vocação para a esportividade e o modo Sport poderia ser facilmente dispensável, considerando que nessa condição o consumo de combustível irá aumentar, contrariando as expectativas dos compradores.
A Toyota não esconde que a estratégia para o Yaris é adotar um público-alvo parecido com o do Corolla: pais na casa dos 35 anos – cerca de uma geração antes de buscarem o segmento dos sedãs.
Com esse apelo familiar, o Yaris é o que traz maior espaço para pernas no banco traseiro com 97 cm, enquanto o Argo oferece 90 cm. Os mais altos também se acomodam melhor a bordo do Toyota. O Argo oferece mais conforto na primeira fileira, sendo mais largo e com melhor espaço para pernas: 101 cm, contra 95,5 cm no Yaris.
A vida a bordo de quem viaja no Argo é mais conveniente graças a um acabamento mais moderno e uma central multimídia com operação intuitiva. Apesar da predominância do plástico rígido, o tratamento das peças internas do Fiat tornam o toque agradável. E a aplicação de cromados nas molduras do ar-condicionado, de texturas nos painéis das portas e a presença do volante herdado do Pulse deixam a cabine com um aspecto de modelo premium.
Ao entrar no Yaris, a impressão é de uma volta aos anos 2000, afinal o acabamento de toda a extensão do painel é de plástico rígido com um visual poroso – bem comum nos chamados carros populares da época.
Tanto Argo quanto Yaris trazem a central multimídia de 7” com conexão com Apple CarPlay e Android Auto por cabo. A diferença é que a operação é beneficiada por um touch mais responsivo na Fiat Uconnect, que exibe grafismos mais modernos.
Consideramos para esse comparativo as versões de entrada, portanto o Argo CVT e o Yaris Hatch XL. Porém, a versão do Toyota que aparece nas fotos é a intermediária XS, pois a marca não possuía o carro na frota.
Em termos de conteúdo, há consistência entre os dois, pois trazem controle de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa e ar–condicionado manual. Mas o Argo deixa a desejar ao ser equipado com airbag duplo, exigido por lei, enquanto o Yaris ostenta sete airbags. O Toyota levaria mais vantagem se fosse equipado com sistema de pré-colisão e alerta de saída de faixa, disponíveis na XS – que custa R$ 12.860 extras.
Há menos de um mês, a Toyota reajustou seus preços e o Yaris encareceu R$ 2.500, ao mesmo tempo que ele teve redução de preços muito modesta com os incentivos do Governo, de apenas R$ 3.000. O Fiat Argo, por sua vez, teve redução de R$ 5.000, aumentando ainda mais sua vantagem no preço. A diferença que era de R$ 5.000 aumentou para R$ 7.000.
Tendo em vista que o Argo CVT é mais econômico, (bem) mais barato e tão bem equipado, além de ser mais moderno e ter desempenho satisfatório, ele vence o comparativo.
O Yaris traz vantagens como desempenho ligeiramente superior, cabine mais silenciosa e espaçosa e é mais seguro graças aos sete airbags. Mas cobra R$ 5.000 extras e não é tão econômico quanto se esperava.
Veredicto Quatro Rodas
O Fiat Argo vence o comparativo por custar menos e entregar praticamente o mesmo conteúdo com um consumo melhor e desempenho aceitável.
Ficha Técnica – Fiat Argo Drive 1.3 CVT
Motor: flex., diant., trans., 4 cil. em linha, 8V, 1.332 cm³; 107/98 cv a 6.000/6.250 rpm, 13,7/13,2 kgfm a 4.250/4.000 rpm
Câmbio: CVT, 7 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 185/60 R15
Peso: 1.150 kg
Dimensões: comprimento, 403,1 cm; largura, 198 cm; altura, 156,8 cm; entre-eixos, 252,1 cm; porta-malas, 300 l; tanque, 47 l
Ficha Técnica – Toyota Yaris XL 1.5 CVT
Motor: 1.5 Dual VVT-i, flex, diant., transv., 4 cil., 16V, 110/105 cv a 5.600 rpm, 14,9/14,3 kgfm a 4.000 rpm
Câmbio: CVT, 7 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira)
e eixo de torção (traseira)
Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
Pneus: 185/60 R15
Peso: 1.125 kg
Dimensões: comprimento, 414,5 cm; largura, 173 cm; altura, 149 cm; entre-eixos, 255 cm; porta-malas, 310 l; tanque, 45 l
Teste de desempenho e consumo Quatro Rodas
Aceleração | Argo 1.3 CVT | Toyota Yaris 1.5 CVT |
0 a 100 km/h | 13,1 s | 11,5 s |
0 a 1.000 m | 35 s – 147,3 km/h | 33,3 s – 156,3 km/h |
Velocidade máxima | n/d | n/d |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 5,5 s | 4,6 s |
D 60 a 100 km/h | 7,2 s | 6,5 s |
D 80 a 120 km/h | 10,2 s | 8,4 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 14,5/25,8/58,8 m | 15,2/27,6/62 m |
Consumo | ||
Urbano | 13,2 km/l | 12,5 km/l |
Rodoviário | 17 km/l | 15,9 km/l |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | 45,8/71,5 dBA | 43,9/69,5 dBA |
80/120 km/h | 65,1/71,1 dBA | 62,6/71,8 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 98 km/h | 95 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em 5a marcha | 2.100 rpm | 1.700 rpm |
Volante | 2,7 voltas | 3,2 voltas |
SEU Bolso | ||
Preço | R$92.990 | R$97.990 |
Concessionárias | 520 | 216 |
Garantia | 3 anos | 5 anos |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 26/25 °C; umid. relat.., 32/30%; press., 7.653/7.646 mmHg