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Dirigimos o McLaren Senna, um carro de corrida feito para as ruas

Hiperesportivo de 800 cv leva 2,8 segundos para chegar aos 100 km/h

Por Ulisses Cavalcante, de Cascais (Portugal)
Atualizado em 3 set 2018, 10h58 - Publicado em 3 set 2018, 10h57
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  • McLaren Senna
    Hipercarro inglês terá 500 unidades produzidas e apenas duas virão ao Brasil (Divulgação/McLaren)

    São 2,8 segundos. É o que o bólido inglês leva para ir da inércia aos 100 km/h. Ou 6,8 s, se você mantiver o pé cravado no acelerador até os 200 km/h.

    Igualmente surpreendente é a capacidade de frenagem: 200 a 0 em meros 100 metros. São números dignos de carro de corrida, ainda que o McLaren Senna seja na teoria um carro de rua. Mas não dá para disfarçar: ele é um carro de corrida.

    McLaren Senna
    O McLaren Senna é o único carro a ostentar a marca “Senna”e , por acordo comercial, permanecerá com a exclusividade da grife no setor automotivo (Divulgação/McLaren)

    Na prática, o que diferencia as máquinas que só podem rodar em circuitos fechados daquelas que conseguem levar você de casa ao escritório é a homologação. Para rodar em autódromos não é necessário ter airbags, controle de estabilidade, sensores de estacionamento ou faróis de led com iluminação diurna.

    McLaren Senna
    As portas se abrem para cima e não tem comandos elétricos para reduzir o peso total (Divulgação/McLaren)

    Também não é preciso atender a programas de emissão de poluentes, nem passar por testes de colisão. O carro que você vê nas fotos conta com os equipamentos citados e atendeu às exigências que o credenciam (pelo menos legalmente) para rodar em vias públicas.

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    Isso não quer dizer que o Senna consiga rodar tranquilo pelas ruas do bairro, nem que seja uma boa escolha para levar a sogra à missa de domingo ou ir ao velório do seu primo. Isso seria pior do que comprar um SUV de 2 toneladas e tração integral para ir almoçar no shopping ou buscar as crianças na escola (oh, wait!).

    McLaren Senna
    Motor traseiro central ajuda a manter distribuição de peso em 50/50 (Divulgação/McLaren)

    Esse carro de corrida que paga IPVA foi projetado para descolar a alma do seu corpo toda vez que você provoca o V8 4.0 biturbo de 800 cv posicionado a dois palmos atrás dos assentos (são só dois). O motor M840TR é uma variante mais potente do propulsor que equipa o 720S e está conectado a uma transmissão de dupla embreagem e sete marchas.

    Dirigimos o McLaren Senna, um carro de corrida feito para as ruas
    O V8 4.0 gera 800 cv. Há freios de cerâmica nas quatro rodas e aerofólio ativo (Divulgação/McLaren)

    Quando está ligado, e girando a até 7.250 rpm, você sente a vibração pulsante atravessando toda a carroceria de fibra de carbono como se os coxins não tivessem borracha, só adamantium. Na pista, a sensação de pilotagem é visceral. Não há isolantes acústicos na cabine para camuflar o ronco das saídas centrais localizadas entre as lanternas traseiras.

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    A falta proposital de acabamento atende a dois requisitos. Em primeiro lugar, mais material no interior resulta em aumento de peso. Vazio, o Senna tem 1.198 kg, o que faz dele o carro de rua mais leve já criado pela marca.

    McLaren Senna
    Troca de marcha é feita por alavancas atrás do volante (Divulgação/McLaren)

    Outra ideia era deixar à mostra a fibra de carbono para ressaltar o cockpit feito totalmente com esse material mais forte que o aço. Trata-se de uma verdadeira célula de sobrevivência ultraleve (tem 94 kg).

    McLaren Senna
    Painel com botões do câmbio vai preso ao assento (Divulgação)

    Aliás, poucos carros fazem uso tão maciço de elementos nobres da haute cuisine automotiva: discos de freio de cerâmica, pneus com composto exclusivo, carroceria de fibra de carbono, longarinas de alumínio, Alcantara, titânio, tudo. É mais ostentação do que comer caviar de colher, direto da lata. 

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    McLaren Senna
    Quadro de instrumentos é rebatível (Divulgação/McLaren)

    Os discos são enormes: 390 mm em ambos os eixos, o que equivale a uma roda de 15 polegadas. Outra comparação: um carro compacto de baixo custo costuma usar peças de 240 mm. Nem os calçados Pirelli PZero Trofeo R escapam da exclusividade.

    Feitos sob medida, têm compostos específicos para abuso em circuito fechado. Durante o test drive, foi possível notar pedaços de borracha virando chiclete para ajudar o carro a permanecer grudado no asfalto.

    McLaren Senna
    Banco de fibra de carbono tem acolchoamento parcial para pesar apenas 3,36 kg (Divulgação/McLaren)

    Conforto é uma palavra que parece não constar no projeto desse McLaren – mesmo caso do Chevrolet Celta. O chefe de produto da empresa me disse, sem rodeios, que essa não era a prioridade dos engenheiros.

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    Ainda assim, o McLaren Senna tem ar-condicionado, o sistema de som é da grife Bowers & Wilkins, a direção tem assistência eletro-hidráulica e o volante foi recoberto com Alcantara.

    Talvez você não esteja convencido quanto ao visual. Veja só: mesmo dentro da McLaren os traços não são unanimidade. Mais uma vez, com pura sinceridade britânica, o pessoal da empresa diz que a função veio antes da forma. Não há traço sem razão nem entrada de ar sem necessidade.

    McLaren Senna
    Spoiler traseiro aumenta downforce e ajuda em frenagens fortes (Divulgação/McLaren)

    Eficiência aerodinâmica são palavras de ordem no modelo britânico. E isso nos leva aos flaps dianteiros em frente às caixas de roda e ao aerofólio traseiro ativo.

    A asa pesa míseros 4,8 kg (eu levantei uma com minhas próprias mãos), mas suporta até 100 vezes o próprio peso em pressão de ar – quase 500 kg (gostou, Plymouth Superbird?). Contabilizando a aerodinâmica da carroceria e ajustes eletrônicos, são 800 kg de downforce a 250 km/h – a velocidade máxima é de 335 km/h.

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    McLaren Senna
    Cintos são de cinco pontos (Divulgação/McLaren)

    Minha aventura atrás do volante do Senna foi no autódromo de Estoril, em Portugal, onde Ayrton Senna venceu sua primeira corrida na Fórmula 1. O controle de estabilidade ajustável (Comfort, Sport, Track e Race) estava regulado para Track e, nesse modo, a calibração é bem diferente do que se encontra nos BMW, Porsche ou Mercedes.

    Um pai Liberal

    Nessas marcas, as coleiras eletrônicas de fato tentam impedir o motorista de se matar e corrigem eventuais erros ao volante.

    O ESP da McLaren é como um assistente que não se preocupa muito com o chefe, nem tenta esconder as bobagens que ele faz. Está mais para um pai liberal que deixa o namorado da filha adolescente dormir no quarto dela (e com a porta fechada).

    McLaren Senna
    Spoiler traseiro aumenta downforce e ajuda em frenagens fortes (Divulgação/McLaren)

    Senti isso na pele idiotamente tentando corrigir saídas de traseira que eu provoquei por absoluta incompetência. Lutei para domar tanta força –um torque indecente de 81,6 mkgf. É um carro cuja relação peso/potência não passa de 1,5 kg/cv.

    No entanto, é possível dosar a letalidade do ESP pelo recurso Variable Drift Control. Ele permite que a traseira tente ultrapassar a dianteira ou corta o acelerador ao menor sinal de derrapagem, conforme ajustes que o motorista realiza na tela touch no painel.

    McLaren Senna
    Cockpit é uma célula de sobrevivência. Porta tem um vidro na parte inferior (Divulgação/McLaren)

    Apenas 500 unidades serão produzidas e todas já têm dono. Essa estratégia de tiragens limitadas é comum aos modelos da marca e leva modelos exclusivos a valores astronômicos no “mercado de usados”. Em 2015, um McLaren F1 1998 mudou de mãos por US$ 10 milhões.

    McLaren Senna
    O longo balanço dianteiro não colabora em desníveis de vias públicas (Divulgação/McLaren)

    Somente duas unidades do Senna estão destinadas ao Brasil. Outros 40% da produção irão para os EUA e 30% ficarão na Europa. Com dois carros produzidos por dia, a expectativa da empresa é finalizar as entregas dentro de um ano.

    Veredicto

    Faz jus ao nome: é uma máquina para os fortes e não aceita mimimi de quem estiver ao volante. Mas custa uma fortuna e… quem vai arriscá-lo na pista?

    Ficha técnica – McLaren Senna

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