O Salão de Pequim deste ano deixa claro que as fabricantes chinesas vivem um momento de autoafirmação no mercado global.
Boa parte das marcas trabalharam o design e a qualidade de seus carros ao longo da última década.
Contudo, enquanto algumas empresas investem em uma identidade própria e coesa em sua linha, outras ainda apelam para a – prepare-se para as aspas aéreas – “inspiração” em carros e nomes já renomados e conhecidos.
Sim, marcas. O logotipo da ilustre desconhecida Hanteng tem moldura cromada e fundo vermelho idênticos ao logo da Fiat, mas em vez do nome da marca tem um cavalo saltando – e não empinando, como na Ferrari, ou correndo, como no logo do Ford Mustang.
Vale o adendo: a Hanteng coloca logo com fundo azul em seus elétricos.
O pequeno elétrico ORA R1, da Great Wall, parte de uma nova submarca de carros elétricos acessíveis, é resultado de uma busca por elétricos de baixo custo.
A coluna C, o para-lamas traseiro e o teto pintado de branco dão o aspecto de um Smart ForTwo de nova geração, mas a frente chata com faróis redondos vem do Honda Urban EV concept.
O Dongfeng Aeolus A9 tem linhas limpas com muito a ver com os sedãs da Volkswagen, em especial o antigo Passat.
Mas, na prática, é uma leitura da própria marca do Citroën C5: ele usa a mesma plataforma, PF3, pois compartilha a linha de montagem com o sedã francês.
Afinal, a Dongfeng é a maior parceira e até investidora da Citröen na China.
A Porsche já sofreu com clones mais descarados. Hoje, é a disposição e grafia dos seus logos que são homenageados pelas fabricantes chinesas. É o que se vê no belo Roewe Marvel X e no SUV elétrico T300EV da Zotye Auto.
O Changan CS95 mistura duas famílias de carros da Land Rover. Os faróis, o capô longo, o porte e caimento do teto remetem ao Range Rover Sport, mas a coluna C inclinada para a frente é traço marcante da atual família Discovery.
Esta não é a primeira vez que a Changan copia um Land Rover.
Mais ousada ainda foi a BAIC. Pôs lado a lado o BJ40L, sua interpretação do Jeep Wrangler, e o BJ80 6X6, cópia fiel do Mercedes Classe G 63 6X6.
Não foi só no design interno e externo, e no esquema de tração nos três eixos que copiaram: o barulho metálico do fechamento das portas é idêntico.
O conjunto mecânico é muito diferente. A picape é híbrida: tem motor 2.3 turbo a gasolina aproveitado da SAAB (que teve seu capital intelectual comprado pela BAIC) com 250 cv e 35,7 mkgf de torque e um motor elétrico sem potência especificada.
Ainda assim, ficará bem distante do V8 de 5,5 litros biturbo de 544 cavalos e 77,5 mkgf do modelo original.
A melhor parte da história: a BAIC é parceira da Mercedes na China desde 2005 e seu stand estava bem de frente para o da fabricante alemã.