Chamar a atenção em um evento como um salão de automóvel é uma das coisas mais difíceis do mundo, porque não faltam atrações nessas ocasiões. No Salão de São Paulo de 2012, a Audi estava lançando o R8 GT Spyder, que era um superesportivo atraente (conversível equipado com um V10 5.2 de 560 cv), mas não era páreo para novidades que marcas como Ferrari e Porsche também apresentavam. Por isso, meu desafio era fazer o Spyder se destacar.
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Com o título “A maior atração do Salão deste ano vai estar do lado de fora”, distribuí um release para a imprensa, avisando que, além do R8 GT Spyder estático no estande, a Audi deixaria uma unidade do carro do lado de fora para que os visitantes pudessem dar uma ou duas voltas com ele pelas ruas externas do Pavilhão de Exposições do Anhembi.
Enviei o material e, não demorou, recebi uma ligação da jornalista Cleide Silva, do Estadão. Ela estava espantada com a ousadia da Audi de passar um carro, que na época custava R$ 1,2 milhão, para qualquer visitante dirigir. Ela queria saber se não havia erro naquela informação.
Expliquei que a pessoa não iria sozinha, que haveria um técnico da marca, o Lothar Werninghaus, que todos os jornalistas conheciam, que além de controlar o motorista poderia apresentar os principais detalhes do carro.
A jornalista continuou achando loucura, mas deu destaque no caderno de Economia do Estadão, no dia seguinte, assim como fez a maioria dos veículos de comunicação que receberam o texto.
Senti que a estratégia tinha dado certo e, para incrementar aquela ação, na semana que antecedia o Salão, convidei os principais veículos especializados em automóveis para fazer um teste de Impressões ao Dirigir do R8 GT Spyder em um trecho da antiga Rodovia Caminho do Mar (SP-148), imortalizada pelo rei Roberto Carlos na canção As Curvas da Estrada de Santos, explicando que o Spyder não seria o único modelo à disposição dos visitantes do Salão.
Em frente ao Hotel Holiday Inn Anhembi, que fica ao lado do Pavilhão das Exposições, num espaço que alugamos para os test-drives, haveria também um TTS Coupé e um S5 Cabriolet.
O test-drive do R8 passou a ser a principal notícia do Salão, mas ainda faltava a tacada final, que provavelmente chamaria a atenção não só da mídia especializada: fazer uma celebridade andar no carro.
Eu sabia que o Neymar, o jogador mais famoso do país, passaria uma noite hospedado no Holiday Inn, patrocinado pela VW, porque no dia seguinte visitaria o estande da marca para o lançamento do novo Gol e que, por conta de uma exigência contratual dele, Neymar já estaria utilizando um Audi R8 Coupé, em sua estadia na cidade. Minha aposta, portanto, era convencê-lo a dar uma volta na versão conversível do mesmo carro.
A tentativa falhou. O convite foi feito, mas o jogador educadamente respondeu que não podia porque o seu patrocinador naquele evento era a VW. Uma pena, pensei. Mas quando Neymar retornou ao hotel para ir embora do Anhembi, ainda antes do horário do almoço, ele não resistiu e, curioso, se aproximou dos nossos carros ali parados.
Para minha sorte, o motorista Antônio Lucas, do presidente da Audi do Brasil na época, Leandro Radomile, também sabendo da importância do Neymar andar no R8 GT, se aproximou e perguntou ao jogador se ele queria dar uma volta no carro. Neymar respondeu que sim, mas com uma condição: que o deixassem ir até sua casa em Santos e fôssemos buscar o conversível no dia seguinte. O motorista consultou o presidente, que imediatamente deu a autorização. E assim foi feito.
Neymar largou seu R8 cupê no hotel e partiu com o Spyder, deixando o número do seu celular com o motorista da Audi. O momento foi registrado pelo fotógrafo da Audi, que estava ali para fotografar os visitantes. E também pelo cinegrafista da Band, que estava ali acompanhando o repórter Paulo Bogado, do programa Band Motores, de Porto Alegre (RS).
Até hoje agradeço ao motorista, que foi bem cara de pau naquele dia. A reportagem do Paulo Bogado acabou saindo no Jornal da Band, em rede nacional, e a notícia circulou por alguns dias, primeiro porque alguns jornalista polemizaram o fato de o jogador fazer o lançamento do novo Gol e voltar para casa de R8 Spyder, segundo porque, no dia seguinte, Neymar não atendia o celular e o funcionário da Audi encarregado de fazer as ligações, sem saber da presença de jornalistas por perto, reclamou em voz alta para um colega que daquele jeito Neymar não devolveria o carro conforme o combinado.
No mesmo dia, a principal chamada do site G1 dava a entender que Neymar havia desaparecido com o R8. O que já estava bom ficou ainda melhor, porque grande parte da imprensa passou a só registrar o sumiço do R8. A ponto de uma rádio debater o assunto por mais de meia hora em um programa de debates sobre futebol em que os apresentadores discutiam se Neymar devolveria o carro para o público andar, sendo que àquela altura nós já havíamos retirado o carro na casa do jogador, conforme o combinado.
O barulho foi tanto que, mais à noite, o empresário do Neymar conseguiu o número do meu celular e pediu que eu tentasse tirar aquela matéria do G1 de circulação porque estava ruim para a imagem do atleta. Respondi que tentaria. Mas confesso que não me esforcei.
Nos dias seguintes, os test-drives do Salão fizeram grande sucesso, com visitantes de todo o país querendo dirigir “o carro do Neymar”. E o estande da Audi nunca ficou tão cheio como naquele ano.
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