Stellantis cria seu próprio desmanche para reciclar carros e vender peças usadas
Unidade em Osasco tem capacidade para desmontar até 8.000 veículos por ano, com peças rastreadas e certificadas para revenda

A Stellantis inaugurou seu primeiro Centro de Desmontagem Veicular Circular AutoPeças na América do Sul. Fica em Osasco (SP) e é a segunda do grupo no mundo – a primeira foi inaugurada em Turim, na Itália – e seus objetivos incluem desde viabilizar o reaproveitamento de algumas peças até o descarte ambiental adequado para alguns materiais.
O investimento inicial no projeto chegou a R$ 13 milhões e faz parte de uma estratégia global de economia circular, e ainda pode gerar até 150 empregos. A capacidade de processamento é de até 8.000 carros por ano, todos adquiridos por meio de leilões e classificados como perda total ou em fim de vida útil.
Em vez de restringirem o serviço apenas a carros de marcas da Stellatis, como Fiat, Jeep, Peugeot e Citroën, eles comprarão carros de qualquer marca. No futuro, ainda poderão aceitar carros de pessoas físicas que queiram se desfazer dos seus veículos por algum motivo.

O processo é feito por etapas. Assim que o veículo chega ao centro ele passa por uma descontaminação, com retirada de fluidos como óleo, combustível e líquido de arrefecimento.
Na sequência, o carro é levado para linha de desmontagem onde técnicos avaliam a condição de cada componente. As peças consideradas reaproveitáveis passam por limpeza com produtos biodegradáveis e recebem etiqueta de rastreamento emitida pelo Detran, contendo dados de origem e classificação — com uma escala entre 0 e 10, em que abaixo de 5 não estão aptas para comercialização.

Os componentes aptos para serem reutilizados uso serão vendidos ao público em loja física instalada no próprio centro, em lojas DPaschoal (que pertence à Stellantis) e também em canais digitais. Inicialmente, a comercialização será feita no Mercado Livre, com previsão de abertura de e-commerce próprio.
Os materiais que não puderem ser reaproveitados são separados e enviados a empresas especializadas em reciclagem, permitindo, de acordo com a Stellantis, o aproveitamento de 100% dos itens dos veículos.
A estimativa feita pela montadora é que a iniciativa evite a emissão anual de até 30.000 toneladas de CO₂. A operação se integra a estratégia global da marca baseada nos 4R (Remanufatura, Reparo, Reuso e Reciclagem) e se soma ao Centro de Recondicionamento de Veículos em Betim (MG), criado para restaurar modelos usados e recolocá-los no mercado com padrões semelhantes aos de seminovos certificados.

Estima-se que a frota brasileira atual seja de 48 milhões de veículos, e que aproximadamente 2 milhões sejam retirados de circulação a cada ano. Destes, apenas cerca de 1,5% recebem destinação ambientalmente correta, índice distante de países como o Japão, que já recicla 95% dos seus carros.
Outra iniciativa que já funciona no Brasil
Apesar de este centro Circular Autopeças ser o primeiro de uma fabricante de automóveis no Brasil, já há uma iniciativa semelhante no Grupo Porto, a Renova, que na desmontagem e reaproveitamento de veículos há 12 anos. Até maio deste ano, a Renova já processou mais de 30 mil automóveis, reutilizou 37 mil toneladas de aço e destinou corretamente 11 mil baterias e 24 mil pneus.

Com estoque de cerca de 25 mil peças certificadas pelo Detran, a empresa atua em um mercado ainda pouco explorado, mas com potencial estimado de até R$ 2 bilhões anuais. As peças são vendidas em loja física, site e canais de atendimento online, com rastreabilidade e garantia de procedência.
No cenário atual, a entrada de fabricantes como a Stellantis nesse mercado pode contribuir para ampliar a escala, aumentar a oferta de peças usadas certificadas e estimular a formalização do setor.