Saab 9000, o sedã turbo que levou Ayrton Senna ao pódio em vitória no Brasil
Rápido e seguro, o Saab 9000 CD Turbo mudou o padrão do segmento, mesclando a esportividade italiana com a eficiência sueca, mas encalhou no Brasil
A Saab começou fabricando aviões em 1937, mas a partir dos anos 40 se destacou pelos carros velozes, seguros e robustos, forjados pelas condições adversas do rigoroso inverno escandinavo.
Sem muitos recursos, a pequena fabricante sueca precisou se associar à gigante Fiat em 1978 para desenvolver o modelo que ficou conhecido como Saab 9000, sua primeira incursão no segmento de luxo.
Compartilhando plataforma com Fiat Croma, Lancia Thema e Alfa Romeo 164, ele surgiu como hatch (denominado CS), com cinco portas e design de Giorgetto Giugiaro. Foi uma grande evolução sobre o Saab 900, que mantinha o desenho do fim dos anos 60. O motor era o mesmo quatro-cilindros com 16 válvulas, turbo e intercooler, mas agora transversal.
O temperamento era dócil: seus 175 cv eram entregues de forma linear, lembrando o desempenho de um seis-cilindros. Ia de 0 a 100 km/h em 7,9 segundos e chegava aos 222 km/h. O bom coeficiente aerodinâmico (0,34) proporcionava um consumo excelente para seus 1.315 kg: 14,5 km/l na estrada e 9 km/l na cidade.
Além dos primos italianos, brigava com o patrício Volvo 760 e os franceses Renault 25 e Citroën CX. Entre os alemães, superava o Audi 200 e dava trabalho a BMW 535i e Mercedes 300E.
A revista alemã Auto Motor und Sport até o elegeu o melhor importado de 1986, quando os freios a disco nas quatro rodas receberam o ABS.
O preço elevado justificava-se pela alta demanda: mais de 3/4 da produção era exportada, tendo os EUA como principal mercado. Além do desempenho, todos elogiavam a construção sólida, o generoso espaço interno e o acabamento refinado. O conforto de rodagem e o comportamento neutro em curvas eram mérito de suspensões bem acertadas e simples: McPherson na frente e eixo rígido atrás, com barra Panhard.
Em 1989 surgiu o sedã, chamado CD: os 10 cm a mais no balanço traseiro pronunciavam o terceiro volume, e o vidro não acompanhava mais a tampa do porta-malas. No ano seguinte chegaram os novos motores: 2.0 aspirado e 2.3 turbo. Este gerava 200 cv, potência suficiente para levá-lo a 100 km/h em menos de 7 segundos, com máxima de 237 km/h.
Foi nessa configuração que o Saab 9000 CD chegou ao Brasil em 1991: detentora de 50% das ações da Saab, a GM trouxe 50 sedãs, e um deles foi para a pista de QUATRO RODAS.
No teste de julho de 1991, foi possível apreciar todo o desempenho, o requinte e a segurança do sueco que encantou o mundo. Com câmbio automático, ele levou apenas 8,26 segundos no 0 a 100 km/h e chegou aos 204,9 km/h de velocidade máxima. Seu desempenho levou mais de um ano para sair do ranking QUATRO RODAS, superado quase sempre por esportivos.
O preço também era recordista: US$ 123 000, justificáveis segundo o colecionador Felipe Ienne de Oliveira, fã da marca: “Ele trazia airbag para o motorista, ABS, piloto automático, ar digital e bancos elétricos de couro escocês. E as respostas do acelerador são imediatas”.
Aqueles 50 carros foram os únicos Saab importados oficialmente pela General Motors. Conta-se que a empresa só conseguiu vender 34 destes carros no Brasil e os outros foram devolvidos para a Suécia.
A reestilização do hatch 9000 veio em 1992, seguido pela do sedã dois anos depois e a adoção do V6 3.0 de 211 cv. O airbag duplo veio em 1996, pouco antes de o sedã deixar de ser produzido. No total, 503.097 carros saíram da fábrica de Trollhättan de 1984 a 1998. O 9000 envelheceu com dignidade e passou o bastão para o 9-5 em 1997, que teve mais trabalho para repetir o mesmo sucesso. A GM desistiu da Saab em 2009, quando deixou de injetar dinheiro na empresa, que pediu concordata.
Um dia inesquecível em Interlagos
Quem tem mais de 40 anos não se esquece do dia 24 de março de 1991 (veja o vídeo aqui). Ayrton Senna era o centro da atenção no grid do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1.Ele já era bicampeão, mas corria por uma glória inédita: vencer no Brasil.
Exatamente 1h38min28s após a largada, Senna cruzou a linha de chegada em primeiro. Subiu ao pódio com fortes dores no corpo, resultado da tensão de quem passara as últimas voltas só com a sexta marcha. O piloto teve dificuldades até para erguer seu trofeu.
Antes disso, porém, ele precisou ser resgatado de dentro do carro, devido aos espasmos musculares nos ombros e pescoço.
Foi o médico Sid Watkins quem ajudou Ayrton Senna a sair do carro e o transportou até o paddock. Como a Chevrolet patrocinava aquela corrida, os carros de resgate eram duas Chevrolet Ipanema e o Pace Car de Watkins era o recém-lançado Saab 9000 CD Turbo – no qual Senna completou sua última volta naquele dia.
Mais tarde, num depoimento à QUATRO RODAS, Senna diria que aquela não fora a parte mais dura do dia: “Foi uma missão quase impossível entrar em casa”, escreveu Senna, lembrando a multidão que o aguardava.
Motor | 4 cilindros em linha, 2 300 cm3, turbo, 200 cv a 5 000 rpm, 34 mkgf a 2 000 rpm |
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Câmbio | automático, 4 marchas |
Dimensões | comprimento, 478 cm; largura, 176,4 cm; altura, 142 cm; entre-eixos, 267,2 cm; |
Peso | 1 445 kg |
0 a 100 km/h | 8,26 s |
Velocidade máxima | 204,9 km/h |