A invasão da Ucrânia pela Rússia gerou uma imensa reação internacional, que obviamente atingiu a globalizada indústria automobilística. Com fortes sanções impostas, problemas logísticos e até questões éticas e morais sendo levantadas, várias montadoras anunciaram a suspensão de negócios no país, causando corrida às compras e inflação.
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Com liderança absoluta da conterrânea Lada, o mercado russo até teria motivos para relativa calma. Afinal de contas, as duas outras marcas que completam o top-3 de vendas — Kia e Hyundai — seguem com planos de atividades oficialmente normais no país.
Ainda que a Coreia do Sul tenha aderido às sanções sobre o país de Vladimir Putin, “celulares, carros e outros bens de consumo” não se aplicam ao embargo, disse um ministro do país asiático na última terça-feira.
Isso, porém, não resolve todos os problemas, já que qualquer prestadora de serviço norte-americana pode ser penalizada por ajudar Kia e Hyundai a enviar carros à Rússia. Desse modo, pretende-se criar autorizações para fretes específicos, com atualizações à medida que o conflito prossegue, disse a agência Yanhap.
China na jogada
Sem que Beijing tenha aderido às sanções, montadoras chinesas seguem com operação normal na China, ao menos no discurso. Na prática, a realidade é bem mais complicada: a exclusão da Rússia do sistema SWIFT tende a complicar a reposição de estoques, pagamentos e outras minúcias da operação de uma indústria dessa complexidade.
De acordo com o site Avto Reviu, a Chery até anunciou nesta quinta-feira (3) novidades locais, com a chegada de novos SUVs da submarca de luxo Exeed ao país. Ao mesmo tempo, não foram informados os preços e mesmo os valores de modelos já à venda sumiram dos sites da fabricante.
Vendedores desorientados
Com uma guerra que mal acabou de sair da cabeça de Putin para o mundo, não surpreende que quase ninguém saiba o que será do mercado automotivo russo.
Na cidade de Ufa, com mais de um milhão de habitantes, o jornal Komsomoliskaya Pravda reportou que as lojas locais suspenderam vendas ou agora reservam carros sem preço, à espera de uma calmaria mínima para completar as transações.
A suspensão de vendas ocorreu, por exemplo, com o Grupo Volkswagen, que parou as fábricas de Kaluga e Nizhny Novgorod citando violações da lei internacional por parte de Moscou. As marcas da VW incluem também Skoda, Audi, Porsche, Lamborghini e Bentley.
Mesmo os carros já em estoque em Ufa, porém, seguem guardados, dada a vertiginosa desvalorização do rublo. “Agora temos todos esses carros no estoque, mas não consigo te dar uma ideia de preço. Os veículos estão quase todos reservados”, disse um revendedor da VW local.
Desespero por usados
Com o início da “operação especial” na Ucrânia, logo ficou claro que os preços decolariam e, segundo o portal Gazeta, praticamente todos os carros usados à venda na Rússia entre 25 e 28 de fevereiro foram adquiridos.
Seja para usar os carros como reserva de dinheiro, por especulação ou medo de que os preços aumentem mais, a corrida às revendas fez justamente com que eles disparassem em média 13%, conforme analistas do Drom.ru.
De acordo com a Forbes russa, um Mercedes-Benz Classe C já está um milhão de rublos mais caro desde a semana passada — equivalente a entre 30% do valor e cerca de R$ 45.000 e R$ 80.000, a depender da cotação do último mês. A Mercedes também paralisou suas atividades locais.
Um concessionário da BMW — que também suspendeu operações na Rússia — disse que os consumidores estão comprando o que há disponível, sem ousar escolher versões ou opcionais. “Clientes chegam para comprar o carro na hora e em dinheiro”, relatou.
A extensa lista de fabricantes que suspenderam, por diversos motivos, as operações na Rússia ainda inclui Volvo, Jaguar Land Rover, Toyota, Mitsubishi, General Motors e Volvo.
Um vendedor de Ufa acrescentou à Pravda local: “o próximo fim de semana será decisivo para vermos o quanto os carros realmente se manterão nesse patamar”.