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Rede da Ford terá de encolher e EcoSport e Ka tendem a desvalorizar

Especialistas afirmam que 322 concessionárias da Ford são incompatíveis com a nova operação da marca e que a confiança do consumidor pode ser abalada

Por Isadora Carvalho Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 jan 2021, 23h43 - Publicado em 12 jan 2021, 21h27
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    O anúncio do fechamento das fábricas da Ford no Brasil da decisão de descontinuar dois modelos de alto volume, Ka e o EcoSport, não era esperado. Até mesmo a rede de concessionárias da marca foi pega de surpresa.

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    Passado o primeiro momento e, com a ciência de que esse fato já poderia ter ocorrido há pelo menos 20 anos e que a marca, que tinha fábrica no Brasil há quase 102 anos, se tornará uma importadora de modelos premium  com alto valor agregado, procuramos especialistas do mercado e da indústria pra tentar saber quais serão os próximos capítulos.

    Primeiramente, é importante entender quais foram os fatos que contribuíram pra essa decisão da extinção da fabricação no país e qual o objetivo principal da marca americana com esse movimento.

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    “Mais do que custos menores de produção, o que toda empresa quer é previsibilidade de gastos. E já faz tempo que o Brasil deixou de oferecer isso, graças a volatilidade política e fiscal”, afirma Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford, entre 1987 a 1992, fase inicial da Autolatina.

    “Ao analisarmos esses custos, a Argentina sai na frente pois a sua estrutura tributária é mais amigável e menor.” Ainda de acordo com Mello, ao se colocar no lugar da direção da empresa o movimento que foi feito lhe parece lógico, pois Argentina e Brasil, do ponto de vista de produção e consumo, formam um mercado só devido ao acordo do Mercosul.

    “Não há tempo para ter tempo e nas condições que a Ford se encontrava no Brasil, essa foi uma solução necessária e que possibilitará a sobrevivência da marca, inclusive fortalecida, aqui no Brasil”, afirma Mello. 

    Funcionário da Ford por 20 anos, João Marcos Ramos, lamentou a decisão, mas concorda com Mello de que concentrar a operação no país vizinho é lógico do ponto de vista de custos.

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    “Mesmo com todo o incentivo fiscal brasileiro a carga tributária continua sendo muita alta e esse ‘custo Brasil’ sempre foi visto pela diretoria da marca como um grande problema”, conta Ramos.

    João endossou que a Ford quase fechou as portas em definitivo no Brasil em 2000, mas que se recuperou graças a investimentos em novos produtos como os, então inéditos, Ford Fiesta e a primeira geração do SUV compacto EcoSport.

    “A Ford chegou a dar mais lucro que a matriz entre 2003 e 2014, mas após esse período, começou a depender da ajuda dos EUA”, conta Ramos.

    E daqui pra frente?

    Os dois ex-funcionários da Ford são unânimes em dizer que a rede de concessionárias como existe hoje, com 322 revendas, não deverá se manter. “Apenas o pós-venda e a negociação de modelos zero km mais caros e novatos não serão suficientes para manter toda rede. Nesse caso, uma parcela significativa deve migrar por conta própria pra outras marcas”, afirma Mello.

    Ford Clean concessionárias
    (Divulgação/Ford)
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    Consultamos a ABRADIF, associação brasileira de distribuidores Ford, mas a entidade preferiu não se manifestar no momento. 

    Com uma rede menor e modelos de volume descontinuados, a Ford pode abalar a confiança do consumidor brasileiro em sua marca. O consultor automotivo Milad Neto, da Jato Dynamics, afirma que a desvalorização dos modelos que saíram de linha é inevitável, mas que a confiança pode ser restabelecida com a chegada de modelos com qualidade percebida, assim como, a inalterada qualidade do pós-venda. 

    A KBB Brasil, empresa de pesquisas especializada na avaliação de automóveis, considera como consequência direta da decisão da interrupção da produção, a redução dos preços da linha Ka e EcoSport.

    “A companhia certamente oferecerá bônus ou condições especiais à sua rede para agilizar o esgotamento de estoque destes carros. Isso tende a trazer os preços desses veículos para baixo e esta redução provocará um efeito em cascata nos preços praticados pelos modelos seminovos e usados, que serão forçados a serem reduzidos para atrair o consumidor”, diz a empresa.

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    Outro fator que deve ser levado em conta é o abalo da confiança do consumidor brasileiro na marca americana.

    “Embora a Ford vá permanecer no Brasil, a marca como o consumidor a conhece está virtualmente encerrada e isto provoca uma série de incertezas. Os proprietários de modelos Ford podem querer se desfazer do bem de maneira mais rápida, preocupados em evitar problemas futuros ou maior desvalorização, e isso pode contribuir para a queda dos preços deles no mercado, uma vez que haverá maior oferta disponível, mas a demanda não vai acompanhar, já que a notícia também abala que estava interessado em um Ford”, conclui a nota da KBB.

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