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Por que aprender a dirigir ficou ainda mais difícil durante a pandemia?

Em tempos de Covid-19, conseguir o direito de dirigir se tornou uma maratona ainda mais desafiadora para os candidatos

Por João Vitor Ferreira
Atualizado em 16 fev 2022, 17h13 - Publicado em 16 fev 2022, 10h11
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 (Lucas Storalic/Quatro Rodas)
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Se tirar a carteira de motorista é um desafio para os jovens, ainda sem experiência ao volante, conseguir a licença, nestes tempos de pandemia, ficou ainda mais complicado.

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Além de ter que conhecer o carro, fazer aulas práticas, aprender sobre leis e como se portar no trânsito, os candidatos precisam se adaptar aos novos procedimentos impostos pelas circunstâncias. Neste momento, em que a contaminação caiu no país, embora cuidados ainda sejam necessários, a demora no processo é de cerca de dez dias. Mas já chegou a um mês.

Segundo o diretor da Autoescola Pinheiros, de São Paulo (SP), Luiz Fonseca, normalmente a maratona do jovem motorista leva 60 dias, mas já chegou a 90 e, atualmente, está ao redor de 70.

O pior momento aconteceu em agosto de 2020, depois da primeira onda da Covid-19, quando as autoescolas do Brasil, assim como os cursos dos Centros de Formação de Condutores (CFC), começaram a retomar as atividades, que haviam sido totalmente paralisadas.

Como todos que voltaram a trabalhar, o retorno exigiu mudanças de hábito de todos, com o uso de álcool em gel, máscaras e distanciamento social. As aulas teóricas, quando não ministradas para turmas reduzidas, passaram a acontecer online. Um primeiro obstáculo, já que o sistema adotado pelos Detrans do país era novo e os instrutores tiveram que se adaptar ao formato.

Com as diversas novidades e o tempo curto para adaptação, foi difícil engrenar e as reclamações começaram a surgir. A principal delas é a demora para marcar as aulas práticas. “Pesquisei em algumas autoescolas e o prazo era de um mês ou mais”, reclama a professora Mariana Pires, de São Paulo.

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“Como o cadastro era feito presencialmente – estávamos na fase roxa, se não me engano –, eu paguei e não consegui iniciar o processo”, afirma a estudante de direito Laís Fernandes, de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.

Em São Vicente, na Baixada Santista, a estudante de administração Mariana Santana relata os mesmos problemas, mas por motivos diferentes. “Foi mais demorado do que o normal devido às limitações da própria autoescola.”

A causa da demora, de acordo com a estudante, seria o acúmulo de alunos. Com o início da pandemia, muitos processos foram congelados e quem tinha planos de começar as aulas precisou esperar a reabertura das autoescolas. E esse tipo de fila ainda existe, dependendo da autoescola.

Presença rastreada

De acordo com os candidatos, uma vez iniciado o processo, o desafio era encarar as aulas teóricas, principalmente quando ministradas online. Um dos motivos é que o método escolhido para confirmar a presença dos alunos é uma espécie de escaneamento aleatório.

Em qualquer momento da aula, a plataforma tira uma foto da tela para detectar a presença dos futuros motoristas: quem não estivesse visível para a câmera ficava com falta. Os alunos reclamam que esse método prende as pessoas à aula, impedindo que elas se ausentassem por um minuto que fosse.

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(Detran RJ/Reprodução)

“Em determinado momento, uma tela abre e você tem cinco segundos para se posicionar e se enquadrar na foto. Entendo que seja necessário essa checagem, porém não é possível se ausentar nem para ir ao banheiro”, conta Mariana Pires.

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A professora relata que, em algumas situações, a biometria facial não funciona direito. E, além disso, no caso dela, o sistema do Detran-SP apresentou problemas que a impossibilitaram de assistir a algumas aulas. “Às vezes não era permitido abrir as aulas por conta de falhas no sistema: não abria ou travava no meio.”

Falta de cuidados

Somada aos problemas técnicos, ainda há a falta de interesse que surgiu com as aulas online. Os alunos contam que o modelo, em alguns casos, é maçante e pouco dinâmico. As autoescolas, por sua vez, também sentem essa dificuldade, no despreparo dos alunos: “A carga de informação que eles mantiveram agora com os cursos online é bem pior se comparada com as aulas presenciais”, afirma o diretor Luiz Fonseca.

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Segundo ele, o que mais preocupa é a falta de conhecimento sobre legislação. Ele explica que, quando um motorista novato não tem conhecimento das leis, isso gera uma série de dúvidas para interpretar as situações de trânsito, afetando negativamente sua forma de dirigir.

E, por falar em dirigir, as aulas práticas quando acontecem também têm seus percalços, principalmente no que diz respeito à higiene.

Luiz conta que as autoescolas são obrigadas a higienizar o veículo (principalmente volante e manopla de câmbio), além de disponibilizar álcool em gel aos alunos e ministrar as aulas sempre com os vidros abertos, com instrutor e aluno usando máscara o tempo todo.

Na prática, porém, nem sempre todos os requisitos são cumpridos, conforme os alunos. Mariana afirma que alguns instrutores seguiam o básico, como uso de máscara e álcool em gel, mas que os carros, na autoescola que frequentou, não eram higienizados:

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“O carro não passava por nenhum tipo de limpeza, apenas dispunham de álcool em gel para uso dos ocupantes”. Já a xará Mariana Santana teve problemas mais sérios: “Nas aulas práticas, meu professor não usava máscara, o que me incomodava um pouco, mas nunca tive a ‘coragem’ de pedir para que colocasse, por medo de ser mal interpretada”, comenta a estudante.

Como diretor, Luiz reconhece a importância das medidas impostas. “Em um primeiro momento, particularmente, eu achei as restrições exageradas. Mas, pensando com maturidade sobre a questão da saúde, acho que elas são válidas, até porque ainda não sabemos qual a real dinâmica de contágio do vírus”, comenta o profissional.

Novo normal

Pensando no novo normal, mesmo sem a ameaça da Covid-19, que ninguém sabe quanto tempo vai durar, sobretudo depois do aparecimento da nova variante ômicron, nada será como antes.

Sobre as aulas online se tornarem padrão, as opiniões divergem. “Eu acho que presencialmente seria mais fácil registrar a presença do aluno”, diz Laís. “E também tem aquela coisa de você estar na frente no instrutor”, afirma.

Já o diretor da Autoescola Pinheiros tem uma visão diferente: “Eu achei positiva a experiência do ensino online para quem aprende. É uma tendência”, diz.

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