Navio encalhado no Egito pode encarecer ainda mais o combustível no Brasil
Um dos maiores navios de contêineres do mundo encalhou no canal do Suez e está interrompendo mais de 10% do transporte marítimo mundial
Não duvide mais da possibilidade de ver coisas inusitadas acontecendo em 2021. Uma corrente de ventos de aproximadamente 74 km/h acompanhada de tempestade de areia fez um dos maiores navios cargueiros do mundo, o Ever Given, encalhar no canal de Suez, no Egito, na manhã da última terça-feira. Ele pode ficar ali, atrapalhando a passagem de outros grandes navios, por algumas semanas e fazer o preço da gasolina no Brasil subir (de novo).
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Suez é um canal artificial e foi inaugurado em 1869 para ligar o Mar Vermelho ao Mar Mediterrâneo. Ele evita que as embarcações precisem contornar o continente africano — onde há ocorrência de piratas — e oferece rota cerca de 7.000 km mais curta. Por isso é especialmente crucial para o comércio entre Europa e Ásia.
Por dia, mais de 50 embarcações cruzam os mais de 193 km (com 205 m de largura) do canal, o que representa mais de 10% do tráfego marítimo mundial. Mais de 150 dessas já estariam aguardando para passar pelo canal. Entre eles, um grande número de petroleiros com óleo do Oriente Médio.
O Ever Given pertence à empresa taiwanesa Evergreen, mas tem bandeira panamenha. Tem 400 m de comprimento, 59 m de largura, 220.000 toneladas e capacidade para transportar até 20.000 contêineres de 6 m.
A embarcação saiu da China com destino ao porto de Rotterdam, nos Países Baixos. Mas uma forte corrente de ventos teria jogado o navio contra uma das margens — que não são tão fundas. O bulbo da frente acabou encalhado.
Usar o motor com mais de 80.000 cavalos da embarcação para se mover é inútil nessa condição. Os esforços para soltar o Ever Given incluem desde usar uma escavadeira para soltar o bulbo da margem e até mesmo puxar o navio com uma flotilha com oito dos maiores rebocadores do Suez. Mas os vários puxões ainda não tiveram o efeito desejado.
Ao jornal britânico “The Guardian”, Peter Berdowski, CEO da empresa especializada em dragagem Boskalis, que enviou equipe ao local, disse que não só a proa como também a popa da embarcação estão levantadas nas duas margens do canal e que pode ser necessário retirar boa parte dos contêineres para forçar a flutuação do navio, levando até semanas de trabalho.
Este bloqueio pode ter um grande impacto na economia mundial. Não só pelo fato de 30% do tráfego mundial de contêineres passar pelo canal de Suez mas também pelo trânsito de navios petroleiros por ali. Por dia, quatro milhões de barris de petróleo precedentes do Oriente Médio cruzam o canal.
Não à toa, o preço do barril do petróleo Brent subiu 5,95% nesta quinta-feira, mas hoje opera com queda de 4% com a expectativa de que a demanda por petróleo demore um pouco mais a voltar à normalidade. O principal motivador teria sido um novo lockdown na Alemanha.
Com o bloqueio se estendendo por mais tempo, embarcações impedidas de seguir do Índico ao Atlântico podem ser obrigadas a contornar a África, o que aumentaria o tempo do transporte e os custos significativamente.
Como isso pode afetar o preço do combustível no Brasil?
Desde 2016 a Petrobras faz reajuste nos preços dos combustíveis no Brasil de acordo com a política do Preço de Paridade Internacional (PPI), um mecanismo que deixa o preço cobrado pela empresa nas refinarias sujeito ao valor do petróleo no mercado internacional (em dólar) e também um cálculo que considera riscos da atividade.
Desta forma, os reajustes no preço da gasolina e do diesel estão sujeitos ao valor do real frente ao dólar e também à volatilidade da cotação do barril do petróleo no mercado internacional.
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