Latin NCAP dificultará cinco estrelas em 2026 e já prevê carro com bafômetro
Destrinchamos o novo protocolo para avaliação da segurança dos carros da América Latina - e está mais rigoroso do que nunca

Em geral, a cada quatro anos o Latin NCAP, entidade baseada no Uruguai que avalia a segurança dos carros vendidos na América Latina, adota um novo protocolo para os seus testes de segurança. O próximo protocolo entra em vigor em 2026 e tornará ainda mais valiosa a nota máxima de cinco estrelas, mas tende a deixar os carros mais caros.
Este novo protocolo foi divulgado em fevereiro sem alarde por parte da entidade, que disse que esclareceria os novos critérios a partir de julho. O tempo passou, nada aconteceu. Procuramos o Latin NCAP, que disse que só começará a comunicar o novo protocolo a partir de novembro.
Diante disso, estudamos todos os protocolos de todos os quesitos avaliados. Destrinchamos, a partir de agora, as principais mudanças que mais importam ao consumidor – sob o nosso ponto de vista, pelo menos.
Quer cinco estrelas? Melhore a segurança
Na prática, o protocolo do Latin NCAP representa o conjunto de cinco regulamentos distintos, com critérios para a proteção de adultos, crianças, pedestres, para os sistemas assistentes de segurança e ainda as regras de pontuação, que estabelecem os critérios para que sejam dadas notas de uma a cinco estrelas.

A partir de 2026, para um carro obter cinco estrelas, deverá alcançar uma pontuação ainda mais alta nos testes de colisão (pontuação esta que aumentará ano a ano, inclusive) e os equipamentos de segurança precisarão ser mais acessíveis e presentes em um percentual ainda maior de carros vendidos.
Para conseguir cinco estrelas a partir de 2026, os carros ainda precisarão atender a um desempenho percentual maior em cada área avaliada. As maiores ajustes estão na proteção de pedestres e nos sistemas eletrônicos que evitam acidentes.
Pontuações mínimas para as notas
Período | Estrelas | Proteção de Adultos | Proteção de Crianças | Proteção de Pedestres |
Assistência de Segurança
|
2026-2027 | ⭐⭐⭐⭐⭐ | 80% | 75% | 65% | 85% |
⭐⭐⭐⭐ | 75% | 65% | 60% | 75% | |
⭐⭐⭐ | 65% | 55% | 50% | 65% | |
⭐⭐ | 50% | 30% | 25% | 50% | |
⭐ | 40% | 15% | 10% | 50% | |
2028-2029 | ⭐⭐⭐⭐⭐ | 85% | 80% | 70% | 85% |
⭐⭐⭐⭐ | 75% | 70% | 65% | 75% | |
⭐⭐⭐ | 65% | 60% | 50% | 70% | |
⭐⭐ | 50% | 30% | 25% | 50% | |
⭐ | 40% | 15% | 10% | 50% |
Equipamentos obrigatórios para um carro receber cinco estrelas em 2026
O protocolo exige que as seguintes tecnologias sejam instaladas como equipamento de série em todas as versões dos carros testados:
- Controle Eletrônico de Estabilidade (ESC)
- Aviso de Cinto de Segurança (SBR)
- Detecção de Ponto Cego (BSD)
- Assistente Manual de Velocidade (piloto automático)
Equipamentos essenciais

Para alcançar a alta pontuação de 85% em Assistência de Segurança, exigida a partir de 2028, por exemplo, será praticamente indispensável que o veículo pontue com os sistemas abaixo. Para serem elegíveis, os carros avaliados precisam cumprir as seguintes taxas mínimas de instalação:
- Frenagem Autônoma de Emergência (AEB) Carro a Carro e para Pedestres/Ciclistas: Deve estar presente em 70% do volume total de vendas e ser oferecido como um opcional individual.
- Sistemas de Suporte de Faixa (LSS): Deve estar presente em 70% do volume total de vendas e ser oferecido como opcional individual.
- Assistente Inteligente de Velocidade (ISA): Deve estar presente em 50% do volume total de vendas.
- Detecção de Presença de Criança (CPD): Deve estar presente em 50% do volume total de vendas.
- Monitoramento do Motorista (DMS): Deve estar presente em 50% do volume total de vendas.
- Sistemas eCall (chamada de emergência): Deve estar presente em 30% do volume total de vendas e ser oferecido como opcional individual.
Sem cumprir essas regras, nem o carro mais seguro do mundo poderá obter cinco estrelas no Latin NCAP.

Por isso, uma nota 5 estrelas em testes do Latin NCAP realizados a partir de 2026 significará um nível de segurança (para todos os ocupantes) imensamente superior ao de um carro que obteve a mesma nota em anos anteriores.
O novo protocolo poderá ser interpretado de duas maneiras pelas fabricantes: ou forçará a popularização de tecnologias realmente eficazes e a construir carros estruturalmente mais seguros, ou o regramento sugerido pelo Latin NCAP será solenemente ignorado por elas, pois atender a todos esses critérios terá um custo altíssimo. E quem vai pagar a conta não será o fabricante, mas o cliente final.
É importante saber, inclusive, que o Latin NCAP é um órgão independente. Ele não tem poder de regulamentação para impor mudanças na regulamentação dos países latino-americanos. No entanto, fornece informações aos consumidores e pressiona fabricantes a oferecer carros mais seguros. Ao mesmo tempo, os fabricantes podem patrocinar os testes, aproveitando os bons resultados na divulgação dos seus carros.
Novo protocolo é mais rigoroso nos testes

Proteção de adultos tem maior rigor
A proteção dos adultos dentro do carro foi reavaliada com critérios mais severos. São eles:
- Impacto lateral mais realista: O “boneco” de teste (dummy) foi trocado por um modelo muito mais moderno e com sensores de maior sensibilidade.
- Proteção no banco de trás: Agora a fabricante do carro precisará provar que os passageiros do banco de trás estão bem protegidos em uma batida frontal.
- Segurança pós-acidente: O carro ganhará pontos se as portas destravam sozinhas, se liga para a emergência (eCall) e se não há risco de choque em carros elétricos após a colisão. Se não atendem a algum destes critérios, perdem pontos.

Proteção infantil contempla crianças maiores
A segurança dos pequenos passageiros também tem mudanças na avaliação.
- Foco em crianças maiores: Os testes de impacto lateral e frontal agora usa um “boneco” de 10 anos posicionado em um assento de elevação (booster) e um de 3 anos em cadeirinha. Até então, usava-se dummys representando um bebê de 6 meses e uma criança de 3 anos.
- Tecnologia contra o esquecimento: O teste agora avalia o Sistema de Detecção de Presença Infantil (CPD).
- Instalação de cadeirinhas mais seguras: O protocolo incentiva o padrão i-Size, uma evolução mais segura e simples de instalar do que o ISOFIX.

Proteção de pedestres e ciclistas
Estes critérios evoluíram do conceito de “machucar menos o pedestre” para “evitar o atropelamento”. Para isso, o sistema de frenagem autônoma de emergência (AEB) também deverá ser capaz de reconhecer pedestres e ciclistas, e não apenas veículos.
Além disso, o AEB passará a ser testado exaustivamente em múltiplos cenários, incluindo à noite, com crianças atravessando a rua e com ciclistas.
Assistentes de segurança precisam funcionar a contento
A partir de 2026, os critérios do Latin NCAP também ficarão mais rigorosos na avaliação dos sistemas eletrônicos embarcados no carro. Muitos sistemas contavam pontos só pelo fato de equiparem o carro testado, mas agora deverão cumprir critérios mais rígidos nas avaliações. Quanto mais completos, mais pontos soma. Os sistemas são:
Controle de estabilidade (ESC): antes o carro ganhava pontos se tivesse o sistema e atendesse a testes técnicos e só passou a perder pontos com mau desempenho no “teste do alce” a partir de 2023.
Agora, além destes testes será necessário que o carro seja capaz de ler as placas de trânsito para corrigir a velocidade do piloto automático sob a pena de perder um terço da nota relativa à avaliação do ESC. O Latin NCAP quer evitar que os motoristas passem do limite de velocidade.

Carros que apenas informam o limite de velocidade (SLIF), carros com sistema manual (MSA) e carros com sistema inteligente (ISA) recebem pontuações diferentes. O sistema inteligente, que lê as placas e ajusta a velocidade, agora vale muito mais pontos
Frenagem de emergência (AEB): os testes do sistema em cenário urbano e rodoviário passam a ser avaliados com uma única nota, pois antes o AEB urbano pontuava, na verdade, para a proteção do ocupante adulto. Agora, a nota será garantida ao evitar evitar colisões tanto nas batidas de trânsito urbano (baixa velocidade) quanto em situações de estrada (alta velocidade).
Assistentes mais inteligentes:
Antes os testes avaliavam sistemas que alertavam o motorista (Lane Departure Warning – LDW) ou que corrigiam levemente a direção para manter o carro na faixa (Lane Keep Assist – LKA). Agora, o Latin NCAP também passa a incluir o ELK, um sistema de manutenção de faixa de emergência, que também é capaz de evitar uma saída da pista em situações mais críticas, como desviar de um carro vindo na contramão ou evitar sair da estrada em uma via sem marcações.
Itens de segurança democratizados
Talvez a mudança mais importante para o consumidor seja a forma como o Latin NCAP passa a “forçar” que os fabricantes de carros ofereçam todos esses recursos nos seus carros, caso queiram que seu produto seja cinco estrelas. O percentual de carros dotados destes sistemas aumentará ano a ano entre 2026 e 2029.

Antes, para uma tecnologia contar pontos, bastava que o fabricante a produzisse em um percentual mínimo de carros com os sistemas citados mais acima. A partir de agora, porém, as regras são mais rígidas e estabelecem que estes itens estejam presentes como opcionais em toda a gama de versões e em todos os mercados onde o carro é vendido. Para isso, há dois critérios.
- Venda como opcional (Stand-alone optional): O fabricante é obrigado a oferecer as tecnologias de segurança como opcionais que podem ser comprados separadamente em 50% das versões em 2026, chegando a 80% das versões as versões dos carros. Estes opcionais só podem estar vinculados a itens relacionados no protocolo do Latin NCAP. O protocolo, inclusive, diz que poderá exigir que todas essas tecnologias sejam testadas pelo Latin NCAP às custas do fabricante para que sejam validadas para serem vendidas juntas.
- Percentual de vendas: Não adianta só fabricar; é preciso que um percentual mínimo dos carros efetivamente vendidos na América Latina já saia com essas tecnologias. Em todos os mercados, pelo menos duas versões deverão ter tais itens como equipamentos de série.
Hoje, por exemplo, o Volkswagen Tera é cinco estrelas porque todas as versões à venda no Brasil têm AEB, mas este sistema não está presente em todas as versões nos outros países para onde é exportado. Isso porque o item só precisa estar presente em 30% dos carros vendidos na América Latina.

A partir de 2026, o AEB (inclusive para pedestres) e o assistente de faixa (LSS) deverão estar em 70% dos carros vendidos na América Latina, aumentando em 10% por ano até chegar aos 100% em 2029. Para assistente de velocidade, a exigência vai de 50% em 2026 a 80% em 2029. Para detector de criança e monitoramento do motorista, vai de 50% a 95% dos carros em 2029 e o eCall deverá estar em 30% dos carros em 2026 e em 75% dos carros em 2029.
Carros prontos para ter bafômetro?
O Latin NCAP ainda criou uma nova área que premia tecnologias focadas em quem está dirigindo. O carro pode ganhar um ponto extra se tiver uma das seguintes tecnologias:
- Monitoramento do Motorista: Câmeras e sensores que detectam se o motorista está com sono, cansado ou distraído (olhando para o celular, por exemplo) e emitem um alerta.
- Alerta de Cinto de Segurança “antitruque”: Um sistema inteligente que consegue identificar se o motorista está tentando enganar o alarme de cinto de segurança, como quando alguém se senta sobre o cinto já afivelado.
- Facilidade para Instalação de bafômetro (Alcoolímetro): Carro que saírem de fábrica com preparação ou uma interface padronizada que facilite a instalação de um dispositivo que impede o carro de ligar se o motorista tiver ingerido álcool também terá pontuação extra.
Como era e como ficaram os critérios do Latin NCAP para 2026:
Característica | Protocolo Antigo (2020-2025) | Protocolo Novo (a partir de 2026) |
---|---|---|
Foco Principal | Proteger ocupantes em colisões. | Proteger a todos, evitar a colisão e garantir a segurança pós-acidente. |
Assistências (ESC) | Apenas verificava a presença do sistema. | Testa o desempenho em manobras de emergência (“teste do alce”). |
Assistências (Faixa) | Avaliava sistemas de alerta (LDW) e assistência básica (LKA). | Avalia sistemas de emergência (ELK) que evitam colisões frontais e saídas de pista. |
Proteção Pedestres | Foco em reduzir lesões (passivo). AEB com testes simples. | Foco em evitar o acidente (ativo). Testes rigorosos de AEB para pedestres e ciclistas, de dia e à noite. |
Proteção Infantil | Foco em bebês (dummies de 1 e 3 anos). | Foco em crianças maiores (dummy de 10 anos) e tecnologias como Detecção de Presença Infantil (CPD). |
Novas Tecnologias | AEB básico, assistente de faixa. | Monitoramento de Fadiga (DMS), AEB avançado, eCall, CPD, Assistente de Velocidade Inteligente (ISA). |
Acesso à Tecnologia | Baseado em % de produção. | Baseado em % de vendas e obrigatoriedade de venda como opcional separado. |