Você deve ter notado que algumas pessoas começaram a usar calças rasgadas nos joelhos. Isso significa que a tradicionalíssima alfaiataria Gieves & Hawkes, da Savile Row, entrou na moda e está vendendo ternos com buracos esfarrapados nas pernas?
Não. Isso nem deve ter passado pela cabeça dos alfaiates. Eles gastaram centenas de anos cuidando da reputação e sabem que seria imprudente jogar tudo fora na busca de um dinheirinho a mais.
As pessoas deveriam fazer o que sabem. Você não vai ver o chef Gordon Ramsay fazendo programas sobre manutenção de motos ou o ator Vin Diesel interpretando Hamlet. Só que no mundo dos automóveis, as coisas são diferentes.
A moda atual são os SUVs e, em vez de ficar parados dizendo “isso não vamos fazer”, a Aston Martin, Porsche, Bentley, Jaguar, Alfa Romeo e Lamborghini resolveram deixar o bom senso de lado e pensaram: “Vamos também ter um pouco disso, obrigado”.
A Lamborghini já entrou nessa área antes, com o assustador LM002, de 1982. Com o mesmo V12 do Countach, era um monstro colossal e hilário. Uma vez tentei dirigir um, mas não deu muito certo, porque o câmbio travou em segunda.
Fui para o banco de trás e empurrei a alavanca com as pernas, enquanto um camarada musculoso sentou no painel e usou toda a sua força para puxá-la.
Suspeito que o LM002 não era uma tentativa séria para entrar no ramo de veículos militares pré-Hummer, sendo só um presente de italianos poderosos para o coronel Muamar Gaddafi, que, pelo que se diz, adorou.
Talvez a Lamborghini possa se safar com um SUV hoje em dia na sua linha de produtos porque, como sabemos, ela começou como fabricante de tratores, e todos os seus carros sempre tiveram um certo encanto estilo He-Man. Eles são construídos para andar a 15 km/h em ruas chiques, não a 150 em Nürburgring.
Mas a Aston? A Jaguar? A Alfa Romeo? A Bentley? Empresas como essas fabricando SUVs é tão estranho quanto o McDonald’s lançando um sorvete de agrião e couve. E isso antes de chegarmos à Maserati.
A Maserati fez sua fama nos anos 50 na F-1 e então, na década seguinte, impôs-se no mercado com uma sucessão de automóveis exóticos incrivelmente belos, batizados com nomes de ventos de todo o mundo. Uma empresa, enfim, à qual não caberia fazer um Land Rover pomposo. Mas foi exatamente o que ela fez.
O modelo em questão se chama Levante, nome que para um britânico soa como se fosse um tipo de sabonete para aqueles homens que dão atenção extra à aparência.
Se a Maserati tivesse feito uma reunião para decidir que carro ele deveria ser e se escolhesse enfatizar o “Sport” da sigla SUV, ele poderia ter tido uma chance. Também poderia tê-lo tornado o máximo em luxo, para fazer o Bentley Bentayga parecer um carrinho de bebê. Isso também teria funcionado. Em vez disso, ela fez uma reunião na qual deve ter dito: “Certo. Vamos fazer o carro pelo menor custo possível”.
A começar pelo relógio. Os Maserati sempre tiveram um elegante relógio oval, o tipo de coisa que você esperaria ver o David Beckham fazendo propaganda em aeroportos.
Mesmo quando a Maserati estava falida e fabricava o Biturbo, nunca desceu ao ponto de ir pelo caminho digital da Casio. No Levante, porém, há um relógio de plástico circular ordinário montado em um oval também de plástico.
Você olha e pensa: “Bom, se eles resolveram economizar nisso, onde mais os contadores se divertiram passando a tesoura?”
A resposta fica óbvia ao ligarmos o motor. Logo haverá um V6 a gasolina, mas hoje o Reino Unido só tem o diesel. O que não seria tão ruim se fosse moderno, silencioso e cheio de torque.
Em vez disso, a Maserati escolheu um motor de uma só turbina que estava disponível por aí. Ele não é silencioso, potente, econômico nem limpo.
É só uma ferramenta que cumpre uma tarefa e num Maserati de mais de 50.000 libras (R$ 210.000). Então, você começa a andar e logo o carro todo tem um ataque histérico. Ele é tão grande e largo que seus sensores de alerta de colisão sempre acham que você vai bater em algo.
E, quando estaciona, ele vai à loucura, insistindo que você pare de dar a ré mesmo que haja espaço para construir uma mansão entre você e o carro atrás.
E há outro problema com o tamanho do Levante. Ele não se traduz em espaço interno. O porta-malas não é tão grande assim, o banco de trás não é grande o suficiente para três adultos e, na frente, você se sente apertado e claustrofóbico.
Você pode imaginar que essas ninharias sumiriam ao sair da cidade e chegar a um belo trecho de estrada aberta. Nada disso. Como todos os puristas, fiquei feliz quando ouvi dizer que o Levante não seria só um Jeep forrado de couro (tanto a Chrysler, dona da Jeep, quanto a Maserati fazem parte do Grupo Fiat), mas sim um Ghibli de pernas de pau com suspensão a ar.
Mas isso não é muito melhor, porque o Ghibli é baseado no velho Chrysler 300C. O qual, por sua vez, era baseado no táxi Mercedes Classe E de 30 anos atrás. Então, o Levante é basicamente um táxi com um relógio porcaria.
Você vê evidências do reaproveitamento de peças em todo o interior. Sim, há muito couro, o que é bom, mas vários dos botões foram tirados de antigos carros americanos. Há muitas pessoas da minha idade que adorariam ter um Maserati.
Deitar na cama à noite sabendo que você tem um na garagem o deixaria feliz. Mas não o Levante.
Ele não tem o visual, não passa a sensação e nem a experiência de dirigir da imagem que você tem em mente. Para piorar, não passa a sensação e nem a experiência de dirigir tão boa quanto a dos seus rivais.
Em termos simples, BMW, Mercedes, Audi e Land Rover podem lhe oferecer algo melhor. Muito melhor.
Aposto que o novo Alfa Romeo Stelvio também é melhor. Embora seja outro carro da casa Fiat que não deveria ter sido produzido.