O setor automotivo brasileiro viveu uma invasão de marcas chinesas no princípio da década passada.
Só que a forte crise econômica dos últimos anos e, agora, a pandemia do coronavírus levaram ao cenário em que apenas uma delas segue com atuação relevante no varejo: a Chery, graças à sociedade com o grupo Caoa.
E se a Chery é um dos cinco maiores fabricantes de automóveis provenientes da China, nossa reportagem apurou que outro gigante daquele país tem um plano robusto para se instalar e enfrentá-la aqui: a Great Wall.
Isto, claro, se o coronavírus, a forte retração de nossa economia e o dólar em patamares estratosféricos não atrapalharem tudo.
Porque, acredite, já era para a Great Wall ter chegado. Desde 2018, pelo menos, os chineses vêm sondando profissionais de outras marcas para formar um corpo executivo.
O cronograma inicial previa a estreia justamente em 2020. Só que a lenta recuperação do mercado brasileiro e a forte retração do argentino em anos recentes deixaram os investidores da empresa ressabiados.
Veio, então, o coronavírus e atravancou ainda mais o planejamento, que agora está totalmente suspenso e aguardando uma reanálise estratégica por parte da matriz.
Portanto, não podemos mais esperar pela chegada do grupo no país antes de 2022. Se acontecer.
Até porque a empresa prefere ter uma filial própria no país, ou em um regime de sociedade, tal qual a Caoa Chery, a operar com uma representante terceirizada, como acontece com a JAC, por exemplo.
Mas há um um cronograma e ele é de longo prazo.
Prevê uma imersão com pelo menos dois produtos inicialmente importados: o SUV premium Haval H6, cuja nova geração está para ser lançada em agosto na China, e a picape média Série P, recentemente registrada no Brasil.
Num prazo de dez anos a meta é instalar uma fábrica no país, o que permitiria a produção local e comercialização de produtos mais baratos, como a próxima geração do SUV compacto Haval H2.
Mas se você pensou que a Great Wall negocia se instalar na antiga fábrica da Ford em São Bernardo do Campo (SP), pode descartar essa ideia.
A matriz da marca quer passar longe do ABC paulista. Em vez disso, prefere se instalar em alguma cidade mais pacata no interior paulista, mas esta cidade ainda não teria sido definida.
Sobre o H6, ele está prestes a ganhar uma terceira geração. Criado como uma espécie de cópia do Audi Q5, ganhou personalidade própria nos últimos anos, mas mantém o flerte com o mercado de luxo.
Ele medirá cerca de 4,65 m de comprimento (entre os 4,60 m do Toyota RAV4 e 4,70 m do VW Tiguan Allspace) e terá motor 1.5 turbo com injeção direta, aliado a câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas. Seis airbags são equipamentos de série, assim como a tela de 10,2 pol que cumpre a função de quadro de instrumentos e a central multimídia de 12,2 pol.
Além disso, 72% da carroceria é aço de alta resistência e também existem peças de alumínio. O resultado: é 44 kg mais leve e 10% mais rígido que o modelo anterior. E já está patenteado pela Great Wall no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
O SUV ostenta frente com faróis bem afilados e grade larga; traseira com arestas arredondadas e lanternas integradas. Vale lembrar que o atual chefe de design da Great Wall, Phil Simmons, veio da Jaguar Land Rover.
Por dentro, destaque para o painel e o console minimalistas, com quase nenhum botão e duas telas grandes de LCD. O seletor de câmbio giratório imita justamente a peça presente nos atuais Land Rover.
Além dele, está no radar a família Série P, desenvolvida para tornar a Great Wall uma das líderes em vendas de picapes no mundo todo.
Ela é construída com chassis sobre longarinas e, segundo o fabricante, oferece mais de 100 combinações entre visual, tipo de cabine e motorização.
Seu porte é um pouco maior que o de uma Toyota Hilux: 5,36 m de comprimento, 1,88 m de largura e altura, e 3,23 m de entre-eixos.
O motor é um 2.0 turbo a gasolina de 200 cv, que pode ser gerenciado por câmbio manual de seis marchas ou automático de oito. Este último, fornecido pela ZF, é o mesmo da nossa VW Amarok.
A tração é 4×4, com prioridade de entrega de torque às rodas traseiras e diferencial central blocante. Entre seus atributos off-road, constam 90 cm de capacidade de imersão.
Tudo agora depende de como o Brasil reagirá às suas crises para que a Great Wall enfim considere transponíveis as muralhas de nosso complexo mercado.
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