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Gasto com carro verde pode levar décadas para compensar

Tecnologia avançada encarece modelos híbridos e elétricos, e economia com combustível normalmente leva anos para compensar o preço mais alto

Por Priscila Yazbek, de Exame.com
Atualizado em 9 nov 2016, 12h05 - Publicado em 10 out 2012, 17h55
sustentabilidade

Apesar da economia com o combustível, a tecnologia de ponta usada para o desenvolvimento dos carros híbridos e dos carros elétricos ainda encarece muito seu valor em relação aos veículos convencionais. Para que a maior eficiência compense o gasto adicional na compra, o proprietário precisa esperar anos ou quase um século, como no caso da BMW Série 7 híbrida, para que o investimento seja recuperado. A conclusão é que o investimento nos carros sustentáveis pode valer a pena apenas por motivações ideológicas, mas a maior parte dos modelos ainda está distante de trazer vantagens econômicas.

A constatação pode ser feita a partir de dois estudos, um deles nacional, da consultoria automotiva Jato Dynamics, realizado a pedido de EXAME.com e outro americano, realizado pelo site de pesquisas automotivas TrueCar.com. Ambos comparam modelos de carros híbridos e elétricos com veículos similares, mas com motores convencionais, para avaliar em quanto tempo o investimento retorna ao bolso do comprador.

Dos carros híbridos vendidos no Brasil, a Jato Dynamics fez a comparação dos modelos Ford Fusion e BMW Série 7. O único outro modelo híbrido já vendido no país é a Mercedes Classe S, que não divulga os dados sobre consumo de combustível, por isso não foi incluída no estudo.

Abaixo podem ser observados os resultados da comparação entre carros híbridos e similares vendidos no Brasil, considerando o consumo de combustível anual oficial anunciado pelas montadoras com o valor da gasolina a 2,58 reais por litro, válido para um nível de consumo de um carro usado em grandes cidades. E para o cálculo do retorno do investimento em anos, foi assumida uma média de rodagem de 15.000 quilômetros por ano.

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Nesta segunda tabela foi reproduzido o estudo feito pelo site TrueCar, que compara carros híbridos e elétricos com similares movidos a gasolina vendidos nos Estados Unidos. Os valores e dados de consumo de combustível foram usados de acordo com padrões americanos, sendo que foi considerado o preço da gasolina a 1,41 dólar por litro. O estudo também assume uma média de 15.000 quilômetros rodados por ano.

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Pelos resultados mostrados em ambos os levantamentos é possível perceber que apenas dois carros possibilitam um retorno do investimento em um curto prazo de tempo, o Toyota Prius e o Lincoln MKZ Hybrid.

Todos os outros modelos só recompensam o maior gasto inicial após 5 anos de economia com combustível. Sendo que, em alguns casos, o retorno só ocorre depois de décadas, como no caso do Chevrolet Volt, e nos dois carros vendidos no Brasil, a BMW Série 7 e o Ford Fusion.

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Milad Kalume Neto, gerente de atendimento da Jato Dynamics e autor da comparação, atribui os custos mais elevados dos carros híbridos e elétricos principalmente ao processo de desenvolvimento tecnológico dos modelos. “Existe a necessidade de introdução de novos elementos destinados exclusivamente para os veículos híbridos. Por ser uma tecnologia recente e ainda em fase de desenvolvimento é normal verificarmos esses preços mais elevados”, explica.

De acordo com ele, o segundo fator gerador dos altos custos é o baixo volume de vendas desses veículos, que dificulta uma economia de escala. Kalume usa um exemplo hipotético para explicar o conceito: “Entre tantos outros fatores, você teria que parar uma linha de produção que produz 100.000 painéis para produzir um outro painel, específico para um híbrido ou elétrico, que venderá apenas 50 unidades. Os custos fixos da produção do painel, que poderiam ser diluídos em 100.000 painéis, deverão ser diluídos em 50 unidades apenas para os híbridos”, esclarece.

O gerente da Jato Dynamics também ressalta que, apesar de as comparações se aterem apenas aos gastos com combustível, o custo de manutenção tende a ser maior nos carros verdes, bem como a depreciação ao longo dos anos.

É por isso que , diante das desvantagens financeiras, a maior parte dos modelos híbridos e elétricos, por enquanto, compensa apenas do ponto de vista conceitual. “Um veículo híbrido traz o sentimento de estar à frente de seu tempo, por utilizar o que existe de mais moderno na indústria automotiva. É um carro ecologicamente correto por emitir menos gases tóxicos, fator muito importante nas atuais discussões que surgem em todos os lugares do mundo nos mais diferentes setores. Por fim, por ser um veículo mais caro, traz um sentimento de status que outros veículos semelhantes não possuem”, afirma Kalume.

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Alguns motoristas também acabam comprando um carro sustentável simplesmente por não fazer muitas contas, ou por superestimar a real economia de combustível dos carros mais eficientes. E ainda, alguns consumidores apenas pensam que, como o preço do veículo é pago apenas uma vez, logo o custo mais alto é esquecido, conforme avaliou Jesse Toprak, vice-presidente de inteligência de mercado da TrueCar, em entrevista ao jornal “The New York Times”.

Apesar de esses fatores contribuírem para a compra, especialistas defendem que o fator financeiro ainda pesa muito na escolha dos consumidores, e os carros ecológicos só devem ganhar espaço mais significativo quando se tornarem mais acessíveis economicamente. “Tanto no SIMEA (Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva ) quanto no Congresso da SAE (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) este tema foi muito discutido. Os custos dos veículos híbridos e elétricos deverão ser assemelhados aos dos mesmos veículos a gasolina para que exista um potencial de compra maior”, comenta Milad Kalume.

Por fim, vale ainda ressaltar que o estudo da TrueCar considerou não apenas carros elétricos e híbridos, mas também carros com motores super eficientes. Mas, mesmo no caso destes outros veículos, o investimento também demora a retornar. Um exemplo é o Ford Fiesta SFE (Super Fuel Economy), cuja própria designação do motor, em tradução livre, significa “super economia de combustível”. O modelo é 613 dólares mais barato do que o Fiesta similar, com motor convencional, mas a economia de combustível anual é de 23 dólares, portanto são 26,8 anos até que o o preço mais alto compense a economia.

Híbridos no Brasil

Além da BMW Série 7, o Ford Fusion e a Mercedes Classe S, devem embarcar no mercado nacional em breve também os híbridos Honda Civic e Toyota Prius e o veículo 100% elétrico Nissan Leaf. Segundo a Toyota, o Prius deve ser lançado no Brasil ainda neste semestre. A Honda ainda não informou oficialmente quando fará o lançamento do Civic híbrido.

E segundo a Jato Dynamics, o Nissan Leaf já vem circulando por aqui. A consultoria diz que 10 unidades do modelo, que já é produzido em grandes volumes em outros mercados, já passaram por testes na cidade de São Paulo.

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