Ford e Stellantis podem salvar a Nissan se comprarem tecnologia e-power
A tecnologia híbrida em série da Nissan, presente no Kicks e em breve no Rogue, pode ser adotada por Ford e Stellantis em novos projetos nos Estados Unidos

A Nissan vive uma de suas fases financeiras mais delicadas no cenário global. A montadora japonesa, que já teve posição de destaque na eletrificação, agora enfrenta o risco de ficar para trás em relação à concorrência. Para evitar um futuro de incertezas, a empresa aposta em um movimento ousado: negociar com Ford e Stellantis o uso de sua tecnologia e-Power, sistema híbrido em série que já equipa o Kicks em alguns mercados. Ele deve estrear nos Estados Unidos em 2026 no Nissan Rogue.
A proposta da marca é oferecer não apenas a tecnologia, mas também a própria plataforma CMF-C/D, já adaptada ao sistema, para que as concorrentes pudessem utilizá-la em seus modelos de maneira quase imediata. As conversas, segundo informações do Autonews, avançam em sigilo, mas revelam um quadro de fragilidade da marca japonesa, que busca apoio externo para manter relevância em um mercado dominado por gigantes.

O e-Power é, na prática, uma solução intermediária entre carros híbridos convencionais e veículos elétricos. Ele funciona como um REEV (Range Extended Electric Vehicle): o motor a combustão, no caso um 1.2 aspirado de três cilindros, não tem qualquer ligação mecânica com as rodas.
Sua única função é gerar energia elétrica para recarregar as baterias que alimentam os motores elétricos, estes sim responsáveis pela tração. Dessa forma, o carro mantém a experiência de condução de um elétrico, mas sem a dependência de recargas externas.

Diferente de outros híbridos de autonomia estendida, o e-Power não permite recarga plug-in. Ou seja, o condutor não pode ligar o carro na tomada para carregar as baterias. O resultado é a necessidade de usar baterias menores — variando de 1,57 kWh a 2,06 kWh — que garantem eficiência, mas limitam a autonomia elétrica.
A Ford está buscando diversificar seu portfólio eletrificado nos Estados Unidos, e a Stellantis já possui experiência semelhante nos modelos da chinesa Leapmotor, mas estaria inclinada a adotar o layout da Nissan no mercado norte-americano. A expectativa é que, no Rogue, o sistema seja redimensionado para atender às demandas de um SUV maior, com baterias mais robustas e motores elétricos de maior potência.
No Kicks vendido fora do Brasil, há uma versão de tração dianteira com 131 cv e outra integral, que adiciona um motor elétrico de 68 cv no eixo traseiro. Para o mercado norte-americano, onde SUVs médios como o Rogue enfrentam concorrência acirrada, a tendência é de que a potência aumente para acompanhar rivais que já oferecem híbridos plug-in e elétricos.

A Nissan tem tradição na eletrificação — o Leaf, por exemplo, foi um dos primeiros elétricos de massa do planeta —, mas perdeu terreno com o avanço de Tesla, BYD e até da própria Toyota no campo dos híbridos. Ao abrir sua tecnologia para concorrentes, a Nissan pode garantir fluxo de caixa e relevância de mercado, mas também corre o risco de ver suas inovações diluídas em portfólios de rivais mais fortes.