Substituir um carro de sucesso pode ser tão ou mais difícil para um fabricante do que lançar um carro e fazer com que ele venda bem. Esse é um bom problema com o qual a Volkswagen tem grande experiência. E mesmo assim precisou de 20 anos para conseguir um substituto para o Gol.
Não custa lembrar da dificuldade que a fabricante teve para acabar com o Fusca em diversos mercados. Na Europa, conseguiu fazer isso com o Golf. No Brasil, teve dificuldade e precisou de anos para conseguir isso com o Gol. E só agora, depois de 42 anos, se sentiram seguros para forçar a aposentadoria do Gol. Mas não sem antes lançar o Gol Last Edition.
Forçar, sim. Porque é uma aposentadoria compulsória: o VW Gol seguiria vendendo bem enquanto houvesse produção. Faz anos que a grande maioria dos seus compradores são frotistas e locadoras. O comprador particular já migrou para carros mais sofisticados.
Além disso, em uma conjuntura de plataformas globais, produtos globais, carros cada vez mais caros e com vendas de carros novos aquém do desejado, a Volkswagen desistiu de criar uma nova geração do Gol. Seria um produto exclusivo para o Brasil sem vendas para justificar o investimento.
Neste momento ficou difícil justificar a produção de um carro com projeto antigo (a atual geração do Gol tem 14 anos) e que não cumpre as atuais exigências de segurança da empresa. O Voyage também será extinto com esse movimento, mas a Saveiro tem sobrevida.
Isso não quer dizer que a Volkswagen não tentou tirar o Gol de linha de um jeito mais suave anteriormente. A seguir estão as cinco tentativas da Volks para tentar acabar com o carro de maior sucesso da história do mercado automotivo brasileiro.
Polo 1.0 16V
Antes do lançamento do Polo no Brasil, em maio de 2002, o Gol fazia o papel dele: tinha desde versões 1.0 com para-choques sem pintura, até versões 2.0 com itens tão raros na época quanto airbags dianteiros e freios ABS.
Então a Volkswagen tentou forçar a migração das versões mais caras do Gol para o Polo, um projeto global e muito mais moderno, que estreava no Brasil a tecnologia de soldas a laser. Mas se os Polo 1.6 e 2.0 não conseguiram isso de forma tão efetiva, em setembro de 2002 lançaram o Polo 1.0 16V, com 79 cv, para tentar conquistar os compradores dos Gol 1.0 mais completos.
O problema é que o Polo 1.0 tinha preço equivalente ao de um Gol 1.6, cerca de R$ 26.000 na época. E era tão equipado quanto um Polo 1.6, que custava menos de R$ 30.000. Não fazia o menor sentido e, por isso, saiu de linha antes de completar um ano, em setembro de 2003. E nem com as versões mais potentes do Gol o Polo conseguiu acabar.
Fox, compacto para quem vê e gigante para quem anda
Desde o final dos anos 1990 a Volkswagen trabalhava no projeto Tupi, o carro que declaradamente tinha a missão de acabar com o Gol. Sua plataforma era a mesma PQ24 do Polo, mas com uma série de limitações para conter os custos. E ainda tinha o trunfo do teto alto, que aumentava a sensação de espaço interno a um nível inédito entre os carros populares. O Gol ficaria com inveja.
Mas não foi exatamente isso o que aconteceu.
Conta-se que o Fox seria lançado com preço abaixo do pedido pelo Gol, um projeto mais antigo e que não seria atualizado profundamente tão cedo. Mas pesquisas com clientes revelaram que o consumidor estava disposto a pagar mais caro por aquele hatch com teto altinho.
O Fox ainda tinha características interessantes em um momento que as vendas de carros populares eram muito expressivas. Também tinha características interessantes, como o banco traseiro corrediço (que mais tarde motivaria recall), volante multifuncional e possibilidade de rádio integrado ao painel, o que não existia no Gol G3 vendido àquela altura.
Gol G4, o carro que ninguém gostou
Se o consumidor via o VW Fox como um carro melhor que o Gol, a Volkswagen resolveu aumentar a distância entre os dois simplificando o Gol. Os para-choques têm menos peças e a traseira tem vigia e lanternas com desenho inspirado no Gol.
Por dentro, o painel também passou a ter um plástico inteiriço na parte superior, sem divisões ou mudança de cores. O quadro de instrumentos diminuiu, passou a ser o mesmo do Fox e da Kombi, há menos botões no painel e os comandos dos vidros elétricos dianteiros eram montados no buraco das manivelas dos vidros manuais.
Era o Gol em sua essência: um carro feito para aguentar um uso pesado, mas sem inspirar ninguém. Era tão mais simples que os carros com airbags saíam de fábrica com o painel do Gol G3. Hoje, ninguém lembra com carinho desta geração. Mas o Gol sobreviveu a essa fase sombria.
Volkswagen Up!
Substituir o Gol seria apenas consequência do promissor carro compacto da Volkswagen que na Europa substituiria o Fox brasileiro. Os executivos da Volks tratavam o Up! como um Fusca moderno e esperavam um sucesso equivalente – o que nunca aconteceu.
A verdade é que a Volkswagen se empolgou com o carro e o custo de soldas a laser e aços estampados a quente que garantiram a ele 5 estrelas em segurança na época impactou diretamente no preço. O Volkswagen Up! era mais caro que os principais concorrentes no mundo inteiro. E ainda era menor.
O Up! nacional era fabricado em Taubaté (SP) e tinha porta-malas maior e vidros traseiros que descem (na Europa são basculantes), mas só conseguiu números melhores de venda quando se tornou um laboratório para o motor 1.0 TSI.
Na prática, o Up! só embolou a linha da Volkswagen, que ao longo de 2014 ainda vendia o primeiro Polo, o Fox e o Gol G5. O Up! só conseguiu substituir o Gol G4, mas saiu de linha em 2021, antes do Fox e do Gol.
O substituto do Gol
A Volkswagen voltou à agenda da simplificação dos projetos que têm nas mãos. O novo Polo Track, que já está em pré-venda e começa a ser entregue em fevereiro, tem visual mais robusto e abre mão de equipamentos como faróis de led e central multimídia para se colocar como substituto do Gol. Confira todos os detalhes e preços aqui.