F1: GP de São Paulo tem azar, batidas precoces e pódio com surpresas
À parte do domínio de Max Verstappen, GP São Paulo de Fórmula 1 tem Leclerc azarado, extremos geracionais no pódio e festa nas arquibancadas
Ao longo da cobertura do fim de semana, QUATRO RODAS fez questão de reforçar a imprevisibilidade de Interlagos. No domingo do Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1 2023, isso ficou claro já antes da largada, quando Charles Leclerc, da Ferrari, bateu na volta de apresentação.
O piloto de Mônaco sofreu uma pane hidráulica e o eixo de trás travou repentinamente, fazendo-o colidir com o muro. Lamentação de milhares fãs, principalmente jovens mulheres, que gritaram bastante sempre quando ele aparecia nos telões.
“Por que eu sou tão azarado?”
Carro de Charles Leclerc tem um problema hidráulico na volta de apresentação e deixa o GP de São Paulo.#F1naBand pic.twitter.com/ByZnMzbWM0— Esporte Na Band (@esportenaband) 5 de novembro de 2023
Com o mesmo sol de sábado e temperaturas mais amenas, a corrida principal do GP de São Paulo ocorreu sob as condições ideais para uma festa. No autódromo lotado, houve de tudo: do samba-enredo que garante o clichê brasileiro na transmissão de TV ao hino nacional cantado por Ludmilla sob o som elegante de Miguelzinho do Cavaco. Rubens Barrichello foi homenageado e os pilotos desfilaram em carros antigos diversos, entre outras ações.
No asfalto, a já tradicional Porsche Cup foi acompanhada da Fórmula 4 brasileira. A nova categoria tem homens e mulheres em seu grid e chega com a missão de facilitar a volta de pilotos do nosso país à Fórmula 1, dado que conta pontos para a superlicença obrigatória no topo do automobilismo.
Podendo correr em território nacional, os aspirantes gastam muito menos do que gastariam na F4 europeia. Na barreira econômica elevadíssima da F1, o esporte não é ferramenta de ascensão social a jovens carentes, por exemplo, mas desafio até para quem tem dinheiro.
Para quase todo mundo, entretanto, havia alguma sensação de pertencimento: Hamilton e seu ativismo social era a torcida da grande maioria de pessoas negras que conversamos. Meninas procuravam saber sobre as pilotas da F4, militares esperavam ansiosos pela apresentação dos colegas da Esquadrilha da Fumaça. Até quem foi para acompanhar o cônjuge se empolgava pelo mero charme da coisa.
Mas mesmo tão ligada ao dinheiro, transmitida só com placares em inglês e sem brasileiros competindo, a competição continua amada aqui. Logo após o acidente de Leclerc, áreas de circulação ao lado do S do Senna estavam repletas de auxiliares de limpeza, seguranças e motoristas que não apenas tinham curiosidade, mas mostravam acompanhar de perto o circo.
Sorte deles, pois foi nas curvas iniciais que a Haas de Kevin Magnussen varou a pista e levou a plateia ao delírio. Com fama de trapalhão mas sempre simpático, parecia que o dinamarquês tinha feito um gol quando saiu do carro. Talvez não tenha entendido o espírito brasileiro de rir da desgraça, pois não retribuiu a linguagem incomum de carinho.
Alex Albon, da Williams, também foi vítima no incidente — causado, de forma irônica, pelo outro piloto da Haas, Nico Hulkenberg. Ainda na reta dos boxes, o alemão fechou Albon, levando o tailandês a girar e bater em Magnussen. Com pneus pela pista e dois carros parados, a bandeira vermelha foi balançada em menos de 1 minuto de prova.
Aí muito já tinha mudado: Max Verstappen, da Red Bull, seguia líder (é claro), mas Lando Norris (McLaren) havia assumido a vice-liderança. As Aston Martin de Fernando Alonso e Lance Stroll não mantiveram a segunda fila e ainda abriram lugar para a Mercedes de Lewis Hamilton.
Na relargada, as coisas foram mais normais. Da segunda volta em diante, Verstappen pisou fundo na liderança absoluta. Norris se esforçou bravamente para segurá-lo, mas a vantagem do holandês crescia a conta-gotas e, ao fim das 71 voltas, foi de 8,2 s. O inglês, por sua vez, também não foi ameaçado por mais ninguém e só o desempenho extraterrestre de Max foi capaz de derrotá-lo.
Já a Mercedes mostrou que o espetáculo dado na corrida de Interlagos em 2021 é um passado distante. Hamilton reclamou bastante do carro e terminou em um melancólico oitavo lugar (seu companheiro George Russel abandonou na 57ª volta por superaquecimento do óleo).
Alonso foi quem completou o pódio, mostrando que 42 anos não é nada. Mesmo com carro bem inferior à Red Bull de Sergio Pérez, o espanhol segurou o mexicano na sua cola o tempo todo. Na penúltima volta, Pérez conseguiu ultrapassá-lo, mas logo tomou o troco e causou uma última explosão da torcida, sempre afeita aos bad boys do grid.
Stroll veio em quinto, garantindo um resultado espetacular para as pretensões da Aston Martin em São Paulo. Ainda na zona de pontuação, destaque para Yuki Tsunoda, da AlphaTauri, que repetiu a boa atuação da corrida Sprint de sábado. Seu companheiro Daniel Ricciardo teve o carro atingido por um pneu ainda na largada, possivelmente contribuindo para o 13º lugar, penúltimo entre os que completaram e logo à frente de Oscar Piastri, da McLaren.
Após um fim de semana volátil, não há dúvidas da dinastia Verstappen na Fórmula 1. Não se nega, ainda, o impressionante vigor da categoria, que há uma década via seu público envelhecer e perder o interesse de forma acentuada e vive o inverso agora.
Em três dias, mais de 250.000 pessoas, com diversidade de idade e gênero, curtiram uma das paixões nacionais, com direito a batidas inesperadas e calmaria temperada com tempestade. No fim das contas, uma outra certeza de Interlagos é sua incerteza nas pistas.
Resultado da corrida Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1 2023
1º | Max Verstappen | Red Bull/Holanda |
2º | Lando Norris | McLaren/Reino Unido |
3º | Fernando Alonso | Aston Martin/Espanha |
4º | Sergio Pérez | Red Bull/México |
5º | Lance Stroll | Aston Martin/Canadá |
6º | Carlos Sainz | Ferrari/Espanha |
7º | Pierre Gasly | Alpine/França |
8º | Lewis Hamilton | Mercedes/Reino Unido |
9º | Yuki Tsunoda | AlphaTauri/Japão |
10º | Esteban Ocon | Alpine/França |
11º | Logan Sargeant | Williams/Estados Unidos |
12º | Nico Hulkenberg | Hass/Alemanha |
13º | Daniel Ricciardo | AlphaTauri/Austrália |
14º | Oscar Piastri | McLaren/Austrália |
DNF | George Russel | Mercedes/Reino Unido |
DNF | Valtteri Bottas | Alfa Romeo/Finlândia |
DNF | Guanyu Zhou | Alfa Romeo/China |
DNF | Kevin Magnussen | Haas/Dinamarca |
DNF | Alex Albon | Williams/Tailândia |
Não largou | Charles Leclerc | Ferrari/Mônaco |