Se você está um pouco mais antenado nas redes sociais, em especial o X, deve ter visto uma cena inusitada nas últimas semanas: carros grávidos. Claro que o nome é apenas uma força de expressão, mas eles receberam esse apelido devido às grandes bolhas de ar que surgiram sob a camada de vinil usado no envelopamento da carroceria.
Envelopar o carro com vinil é uma alternativa mais barata e facilmente reversível para quem quer mudar a cor do carro sem repintar, mas tem suas desvantagens. Uma delas é que, em dias mais quentes, o material está sujeito à formação de bolhas de ar. Isso também pode ocorrer caso a aplicação tenha sido mal feita e, sob o sol forte, as bolhas tendem a aumentar.
Porém, as bolhas nos carros chineses estavam exageradamente grandes, mesmo considerando a forte onda de calor que passava pelo país e fazia as temperaturas subirem até os 40ºC.
Vamos pensar um pouco: nós moramos em um país tropical e quente por natureza. Neste ano, Cuiabá registrou recorde de temperatura com 42ºC. No Rio de Janeiro, as temperaturas chegaram a 41,8ºC com sensação térmica de 59ºC. E ninguém viu nenhum carro envelopado “ficar grávido” no verão, certo?
Protective films on vehicles inflated in heat wave in China
pic.twitter.com/jcCu3v9gk1— Science girl (@gunsnrosesgirl3) August 10, 2024
Indo além de uma comparação entre países com altas temperaturas, o site Autopian tirou a limpo essa história. Utilizando fórmulas e cálculos, o engenheiro e escritor do artigo mostrou que, apesar do calor fazer sim o ar expandir as bolhas, uma temperatura de 40ºC não seria o suficiente para fazê-las crescer tanto.
O engenheiro tomou como base uma bolha no vinil com aproximadamente 0,94 L de volume (ou um quarto no sistema imperial americano). Ela já é considerada bem grande e passível de mandar o responsável refazer o envelopamento, mas os números exagerados ajudam a ter uma noção melhor do exagero dos vídeos.
Ele assumiu que essa bolha foi feita a uma temperatura ambiente, de aproximadamente 20ºC. Se o clima ficasse mais quente, subindo para os 40ºC, e mantendo a mesma pressão atmosférica, o aumento seria de apenas 7%. Ou seja, na onda de calor a bolha passaria de 0,94 L para 1,004 L, muito diferente das bolhas vistas nos vídeos, que facilmente passam dos 10 L.
O cálculo do Autopian não considerou a liberação de gases do vinil. Mas o próprio autor explica que “simplesmente não é plausível que uma fina camada de vinil possa liberar tantos galões de gás – muito menos mantendo sua integridade estrutural e permanecendo visivelmente inalterada de qualquer outra forma”.
Então o que causou as bolhas? Você pode até pensar que é obra de alguma ferramenta moderna de inteligência artificial, mas talvez não seja bem isso.
Bolhas como essa são comuns durante o processo de remoção do vinil. Para isso, os profissionais inserem ar-comprimido entre o vinil e a carroceria, fazendo com que surjam essas grandes bolhas e ele descole com facilidade.
Possivelmente, o responsável por fazer a primeira compilação de vídeos de “carros grávidos” viu as bolhas desse processo de remoção e, sem entender do que se tratava, decidiu compartilhar em suas redes com a informação.
Não podemos afirmar com certeza se realmente foi isso que aconteceu. Mas fisicamente está comprovado que não foi o calor que gerou bolhas tão grandes nos carros chineses.