De Fusca a Veloster: a estreita relação entre veículos e música
Levantamento mostra como o repertório nacional esteve ligado aos meios de transporte nas últimas seis décadas
Música e mobilidade sempre andam e evoluem juntos. Pelo menos é isso que revela pesquisa do Instituto Mobih, que analisou mais de 158.097 composições nacionais, de 318 intérpretes diferentes, lançadas dos anos 1960 até hoje. Do Trem das Onze a Como é bom ser vida loka.
A pesquisa também revela quais foram os carros mais citados em letras de músicas e quais cantores são mais ativos na questão da mobilidade.
De todo o repertório analisado pelos pesquisadores, 361 canções abordam veículos e meios de transporte.
Um detalhe interessante: 55,3% das músicas que retratam veículos e meios de transporte foram lançadas nesta década. Os anos 60 respondem por 2,3% e os 70, por 3,2%.
Foi nos anos 1960 que o Brasil passou mero importador e montador de modelos europeus e americanos para fabricante.
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Nesta época, de acordo com o Instituto Mobih, as músicas retratavam a relação da população com os trens, importante meio de transporte quando as rodovias ainda eram precárias. É o que se escuta em BR-3, de Tony Tornado, que se refere à atual Rodovia Presidente Dutra, ligação entre as maiores cidades do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo.
“A gente corre (E a gente corre)
Na BR-3 (Na BR-3)
A gente morre (E a gente morre)
Na BR-3 (Na BR-3)”
Outras canções tratavam de velocidade e de algumas infrações, caso de Parei na Contramão (1963), de Roberto Carlos.
Nos anos 70, VW Fusca, Ford Corcel e Chevrolet Chevette tornariam os automóveis mais populares no Brasil. As canções desta época retratam sentimentos diferentes, de busca pela liberdade, especialmente entre os jovens.
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Benito di Paula cantava “Vamos a pé, de trem, de metrô” em Vamos Cantar. Papai me empresta o carro, de Rita Lee, é outro hit da época.
A década perdida até que foi produtiva, já que 10,6% das músicas analisadas são desta época. É quando Sula Miranda se torna a rainha dos caminhoneiros e quando os Paralamas do Sucesso, cujo nome já faz referência a uma peça de carro, estoura nas paradas com Vital e Sua Moto. Na mesma época, Angélica cantava que iria de táxi ver seu amado.
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A música também é um retrato social. Nos anos 1990, levantou a questão da segregação social e as condições precárias no transporte público.
“É o rap do 175 que eu peguei na central
E de repente o ônibus começou a encher
Entrou mais gente houve um tumulto
Alguém gritou e eu olhei pra ver…”
Gabriel, O Pensador – 175 nada Especial
Enquanto Gabriel falava de ônibus lotado, Jorge Ben Jor falava dos surfistas de trem (ou pingentes, dependendo da cidade) em W/Brasil. Lenine ainda faz uma longa referência ao trânsito e às atitudes da população em Rua da Passagem, de 1999.
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O início da Lei Seca, em 2008, também é retratado em O Bafômetro, de Quirino Filho.
“O cumpadre me falou.
Dessa vez é pra valer.
Toma jeito pé de cana, os homem vai te
prender.
Eu ia pro pra gandaia e bebia feito um louco.
Pegava meu possante, era um doido no
volante.
Pra morrer faltava pouco.”
Vale o adendo: 92 músicas citam imprudências de trânsito. Em 32 delas as ações são conscientes. A atitude de beber e dirigir nem é a principal, está em 9,8% delas. O que mais se escuta é excesso de velocidade (41,6%) e carros andando na contramão (13,9%). Mas tem de tudo: multas, avanço de sinal, propina e até fuga da polícia.
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De acordo com o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), 90% dos acidentes de trânsito ocorrem por falhas humanas. Desde a criação da Lei Seca, porém, o número de mortes no trânsito foi reduzido em 14% – aproximadamente 41 mil mortes foram evitadas nestes 10 anos.
A imprudência se destaca na década atual em funks que fazem apologia a dirigir em alta velocidade, usar carros sem placa e fugir da polícia.
“É que os moleque tá 180 na curva
Veloster sem placa quer brotar
Pra fuga
E nois saímo da quebrada
De meiota sem placa”
“Pé no chão, consciente,
Na melhor hora nós ataca,
Imbicamo na agência,
E saímos de Veloster sem placa”
Mc Rodolfinho – Como é bom ser vida loka
Também houve maior destaque a meios alternativos de transporte, como bicicleta, metrô e trem. E quem mais se destaca no assunto é o rapper Projota, que tem oito músicas relacionadas com o tema.
Esta é, a propósito, a década da mobilidade: 55,3% das composições que citam veículos foram lançadas de 2010 para cá.
Os carros mais citados em músicas nas últimas seis décadas
Seja pelo maior número de canções, seja pelo sucesso de funks e sertanejos universitários, carros e marcas mais citados em músicas, divulgada pelo Instituto Mobih a pedido de QUATRO RODAS.
O design exótico e que inspira esportividade levou o Hyundai Veloster ao topo das paradas automotivas. A picape Ram, eternizada em Vem ni mim Dodge RAM, de Israel Novaes, aparece na segunda posição.
Já Fiorino, de Gabriel Gava, não só cita o furgão da Fiat (9° na pesquisa), como marca um ponto extra para a Land Rover, terceira no ranking. Em seguida vem o Fusca, citado em Fuscão Preto, do Trio Parada Dura e em Vou de Fusca, do cantor Daniel.
1- | Veloster – 9% |
2- | Dodge Ram – 8,6% |
3- | Land Rover – 7,1% |
4- | Fusca – 7% |
5- | Audi – 5,4% |
6- | BMW – 4,8% |
7- | Kombi – 4,7% |
8- | Camaro – 4,7% |
9- | Fiorino – 4,5% |
10- | Gol e golzinho – 4,5% |
11- | Opala – 4,3% |
12- | Porche – 3% |
13- | Chevette – 3% |
14- | Evoque – 2,9% |
15- | Calhambeque – 2,9% |
16- | Corcel – 2,7% |
17- | Golf – 2,3% |
18- | Civic – 2,3% |
19- | Chevrolet – 1,6% |
20- | Volvo – 1,5% |
21- | Mustang – 1,5% |
22- | Ix35 – 1,2% |
23- | Fiat – 1,2% |
24- | Volkswagen – 1,2% |
25- | Jaguar – 1% |