Na última quinta-feira, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em primeira reunião com o novo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, criticou o preço atual dos automóveis no Brasil. “Um carro de R$ 90 mil não é popular. É para a classe média”, disse.
Além da reclamação, o chefe do Executivo também afirmou que se dedicará para abaixar os preços dos veículos, além de propor formas de pagamento mais diversificadas para a população. Na teoria, isso seria ótimo para todo o mercado, mas na prática, pode ser uma tarefa complicada.
De acordo com o economista Luiz José Pimenta existem dois fatores primordiais para que o preço dos carros diminua: juros e poder de compra da população. Atualmente, como cita Pimenta, o custo tributário dos automóveis é de aproximadamente 34%, algo que o economista considera excessivo.
Outro fator citado pelo economista, esse que interfere diretamente no bolso do consumidor, é a taxa básica de juros, a Selic. Atualmente ela está em 13,75% ao ano, aumentando assim o valor dos financiamentos dos carros, que por sua vez tem média de juros de 1,8%.
Por fim, Pimenta ainda cita a redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) como uma alternativa para a diminuição dos preços dos carros. Mas de acordo com ele, abaixar somente o imposto dos automóveis não seria suficiente, necessitando de uma redução em toda a cadeia produtiva, como por exemplo no aço utilizado como matéria-prima.
Todas essas tributações somadas à alta taxa de desemprego, que no Brasil chegou a 8,8% no primeiro trimestre segundo o IBGE, contribuem para deixar os veículos de entrada caros e inacessíveis para a parcela mais pobre da população.
O que está sendo feito?
Em entrevista coletiva realizada hoje, 8, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio Lima Leite, discorreu mais sobre o assunto do “retorno do carro popular”. Seu posicionamento segue sendo o mesmo do economista Luiz José Pimenta e coloca os juros como principal vilão. “Com os juros altos, o mercado não cresce. Fábricas continuarão parando com as taxas altas e incompatíveis com o crescimento da indústria”, explicou o presidente da Anfavea.
Para melhorar o atual cenário, Governo e montadoras discutem um “pacote de soluções”. Segundo Leite, as conversas estão em uma fase inicial e estão sendo feitas de maneira individual com cada empresa. A Anfavea já foi solicitada e está atuando cedendo dados e pesquisas ao Governo.
Entre as propostas que estão sendo discutidas está o uso do FGTS na compra ou financiamento de um carro. O projeto de lei 2679/22, proposto em janeiro, pelo Pedro Lucas Fernandes (União-MA), já tramita pela Câmara dos Deputados e propõe o saque do Fundo de Garantia na compra de um carro novo ou usado. Atualmente, ele só pode ser usado para financiamento de habitação ou em caso de doenças graves, demissão ou aniversário.
Outro projeto que está sendo estudado é do “carro de entrada verde”. Segundo o presidente da Anfavea, a ideia é trazer os modelos exclusivamente a etanol de volta ao mercado. Outro diferencial é que esses modelos seriam versões com menos itens de conforto dos modelos mais básicos do mercado, como o Fiat Mobi e o Renault Kwid, por exemplo, os dois carros mais baratos atualmente.
Essas versões também receberiam alíquotas de impostos menores, possivelmente também diminuindo a margem de lucro de montadoras e concessionárias, o que ajudaria ainda mais.
Quanto a esse projeto, a Stellantis é o que se mostra mais animada. Antonio Filosa, presidente do conglomerado na América do Sul, já se mostrou a muito favorável à utilização do etanol e é um dos que conversa diretamente com o Governo sobre a redução do preço dos automóveis.