Como a Nissan quer crescer 15% no Brasil em “ano de parada”
Apesar do cenário mais difícil para este ano, montadora ainda espera crescer acima da média do mercado
A Nissan encerrou 2012 com vendas 56% maiores no Brasil – o que lhe garantiu o posto de líder em crescimento pelo terceiro ano consecutivo. Foram 104.791 veículos vendidos no país, segundo a Fenabrave. Os destaques foram o March, modelo de entrada da Nissan, que respondeu por cerca de 33.000 vendas, e o Versa, com quase 20.000 unidades.
O cenário para 2013, porém, é mais complicado. Entre os obstáculos, estão o novo acordo automotivo com o México, que estabelece um total de 1,56 bilhão de dólares de exportações de automóveis mexicanos para o país entre março deste ano e março de 2014; um cenário de crescimento modesto do mercado; e o aumento do IPI para os carros.
Apesar disso, a Nissan espera crescer 15% neste ano no país – cinco vezes mais que os 3% projetados pela Fenabrave para o mercado como um todo. “Este será um ano de intervalo entre dois anos de forte crescimento”, afirmou Carlos Murilo Moreno, diretor de Marketing da montadora, a EXAME.com. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
EXAME.com – Qual é o peso do March no sucesso da Nissan?
Murilo Moreno – O March responde por cerca de 30% de nossas vendas. Somado ao Versa, chegamos a 50% dos negócios. O interessante é que esses dois modelos nos ajudaram a dobrar nossa participação no mercado brasileiro.
EXAME.com – Como a Nissan vê os modelos lançados para concorrer com o March?
Moreno – Os modelos de entrada formam o segmento mais concorrido, mas a vantagem é que lançamos o March um ano antes dos concorrentes. Nossa campanha mostrou que fomos a primeira montadora asiática a nos preocupar com esse mercado no Brasil, e isso ajudou muito a construir nossa imagem. Hoje, nós somos o termo de comparação para os clientes decidirem sua compra.
EXAME.com – A Nissan foi a montadora com maior crescimento nas vendas em 2012 no Brasil. Como o senhor avalia esse resultado?
Moreno – Tivemos um desempenho excepcional. Por um lado, a redução do IPI incentivou o crescimento do mercado. Por outro, o acordo automotivo com o México limitou as importações. Nosso resultado poderia ser melhor, se não fosse a cota de importação, mas soubemos trabalhar com elas de modo bastante inteligente.
EXAME.com – Como a Nissan lidou com as cotas de importação?
Moreno – O novo acordo foi fechado, quando estávamos lançando dois modelos de entrada, o March e o Versa, e outros modelos estavam no fim de seu ciclo de vida. Como a cota é por valor e não por volume, importar carros mais baratos nos permitiu trazer mais unidades.
EXAME.com – A Nissan terá um crescimento tão forte, quanto o visto em 2012?
Moreno – Não será tão forte, porque temos a restrição das cotas de importação do acordo automotivo com o México. Sem a cota, é possível que tivéssemos outro ano de liderança em aumento de vendas.
EXAME.com – Quanto a Nissan espera crescer neste ano?
Moreno – Este ano será um intervalo entre dois anos de crescimento forte: 2012 e 2014, quando nossa fábrica começará a funcionar. Esperamos crescer 15% em número de unidades. O importante é que vamos usar 2013 para preparar nossa rede para a produção local.
EXAME.com – Quais são os planos para a rede de concessionárias?
Moreno – Esperamos chegar ao final do ano com 180 concessionárias. Fechamos 2012 com 157. Há três anos, esse número era de 88.
EXAME.com – Qual é a sua expectativa para a oferta de crédito para a compra de carros em 2013?
Moreno – Existe a possibilidade de o crédito ficar mais contido neste ano, mas o perfil de nossos clientes ajuda. Mesmo os compradores dos modelos de entrada se concentram nas classes A e B. Por terem um rendimento maior, têm mais espaço para acomodar o crédito em seu orçamento. Montadoras que atraem compradores de outro perfil terão mais dificuldades para vender.
EXAME.com – O March será produzido na fábrica que a Nissan está construindo em Resende (RJ)?
Moreno – O March e o Versa são dois modelos que já estão decididos. A plataforma V, com a qual a fábrica vai trabalhar, permite produzir facilmente quatro modelos.
EXAME.com – A fábrica terá capacidade de 200.000 carros por ano, mas a Nissan vende, atualmente, cerca de metade disso. A ideia é que se atinja esse volume de vendas até a inauguração da planta, em 2014?
Moreno – Não conseguiremos atingir vendas de 200.000 carros por ano, sem produção local. O consumidor brasileiro prefere comprar modelos de entrada que sejam fabricados no país. Com a fábrica, vamos mudar o perfil de vendas. Cerca de 70% das vendas serão de carros produzidos aqui, e o restante importado do México. Hoje, a proporção é inversa.
EXAME.com – No ano passado, as concessionárias chegaram a suspender a inclusão de interessados em comprar um Nissan, devido à fila de espera e à falta de produtos. Como está a situação?
Moreno – O que houve foi um momento de demanda aquecida e ajustes à cota de importação. Hoje, a demanda e a oferta estão muito próximas. A maior parte dos modelos tem pronta entrega.