Chevrolet Onix é atacado e defendido por robôs em crise da correia banhada a óleo
Redes sociais foram transformadas em campo de batalha: de um lado críticas e do outro elogios ao Onix, mas quais comentários são legítimos?

Uma guerra de robôs já está acontecendo, mas o campo de batalha é a área dos comentários nas redes sociais e o motivo é a correia banhada a óleo dos Chevrolet Onix e Tracker. O assunto tomou uma dimensão que, de acordo a General Motors, é desproporcional às ocorrências de problemas que mapeou.
Durante o evento de test-drive dos Chevrolet Onix 2026, a GM disse ter a convicção de que grande parte do “barulho” envolvendo a correia banhada a óleo é causada por BOTs, contas falsas que disparam comentários automáticos nas redes sociais.

“O que caracteriza esse conjunto de BOTs é que você tem uma administração centralizada, ou seja, você tem um administrador controlando milhares de contas e isso é contratado em um mercado paralelo, meio que na deep web, aqui no Brasil. Isso já foi utilizado inclusive em votações de reality show”, explica o advogado Francisco Gomes Junior, especialista em crimes cibernéticos e presidente da Associação de Defesa dos Dados Pessoais e do Consumidor (ADDP).
A suspeita da General Motors vem de termos repetidos, como “trocou 6 por meia dúzia” e comentários iniciados por “Ou seja…”. Também chamou a atenção da fabricante a proporção de mensagens negativas em um curto espaço de tempo, com textos curtos e sempre com o mesmo tema ou com as mesmas palavras-chave.

Outros indícios apontados pela GM são comentários feitos por BOTs seria uma repetição de emojis e o fato de os usuários não responderem quando contatados. O suposto uso de “fazendas de BOTs” para bombardear as publicações ficou ainda mais evidente com uma grande quantidade de comentários em uzbeque criticando o carro.
De acordo com a Chevrolet, apenas 3% dos contatos dos clientes com seus meios oficiais foram a respeito da correia dentada banhada a óleo, um percentual muito baixo.

O advogado explica que a legislação brasileira ainda é deficiente em tudo que diz respeito a redes sociais e utilização de robôs virtuais, e que a primeira coisa que se usa hoje em defesa dos BOTs é uma brecha na lei, porque não existe nenhuma proibição em relação a BOTs.
“A princípio, os BOTs até poderiam ser permitidos, alguns até são, como BOTs de serviços de atendimento, mas aqueles que imitam humanos já aparece em decisões do Supremo Tribunal Federal como proibidos, pois isso é falsidade ideológica, porque é alguém se passando por humano e dando depoimento”, explica Francisco Gomes. Ele lembra que existe um projeto de lei parado no congresso para criminalizar especificamente o uso de BOTs que imitam humanos no Brasil.
E os robôs a favor?

Nós também percebemos um comportamento anormal em publicações da Quatro Rodas sobre o Chevrolet Onix. Além de um número de comentários acima do normal, a maioria de teor negativo, notamos também grandes sequências mensagens defendendo o carro. Estas mensagens foram publicadas praticamente ao mesmo tempo, dois dias depois da publicação.
Não é que os comentários defendendo o Onix não possam existir, mas o conteúdo os coloca em xeque.
São frases que ignoram a questão das correias e reforçam pontos fortes do Onix, como o baixo consumo, a dinâmica, o fato de ter câmbio manual de seis marchas e o baixo custo de manutenção.

Além disso, os perfis parecem seguir dois tipos de biografia.
O primeiro grupo é de perfis com menos de 20 publicações e que seguem poucas contas, o outro grupo é de usuários que seguem algumas centenas de outras contas. Em comum, todos eles têm biografias que tentam parecer fidedignas, ou com frases genéricas e emojis, ou trazendo profissão, cidade e, às vezes, até o signo do zodíaco.
Outras características em comum: os autores destes comentários foram contas fechadas, que não seguem a Quatro Rodas e sem histórico de interações anteriores. Usando os nomes, profissões e fotos de perfil, tentamos localizar os mesmos usuários em outras redes sociais. Em vão.

“Como saber se é um BOT? Um BOT tem uma alta frequência de posts (essa atividade às vezes é 24h), os posts são parecidos, o perfil muitas vezes é recém-criado e você vê que tem poucos seguidores”, pondera o especialista em crimes cibernéticos.
Apresentamos os prints e as mesmas considerações à General Motors, questionando se esses comentários teriam partido de alguma estratégia para controlar a narrativa ou se teria partido de alguma agência.
A resposta oficial da GM foi: “não“.
O que a Chevrolet vem fazendo é usar seu próprio perfil, o oficial, para responder àqueles que relatam problemas, até para localizar os casos. Mas são poucos que respondem, diz a GM.

O que fazer contra os robôs?
Com esses indícios, o que uma empresa que foi vítima dos BOTs consegue fazer? Entra com uma ordem judicial para quebrar os IPs das contas que fizeram aqueles comentários. Com o número do IP, a investigação continua junto à empresa de telefonia, que localizará o dono daquele IP.
Só tem um problema: estas fazendas de BOTs geralmente estão no sudeste asiático ou no leste europeu. “Eu tive um caso específico em que a fazenda de BOTs estava na Indonésia, a infraestrutura estava lá, mas para escrever em português eles utilizavam uma mão de obra aqui, então o que a gente conseguiu foi pegar as pessoas que estavam aqui, que na verdade são vítimas também porque elas não sabem o que estão fazendo nem para quem estão trabalhando. Mas não dá para chegar na origem.”
Profissionais do ódio
Uma pesquisa sobre a jornada de compras de veículos eletrificados feita pela Dados X, uma mineradora de dados, a pedido da Associação Brasileira das Empresas Importadoras e Fabricantes de Veículos Automotores (Abeifa) mapeou que o YouTube e o Instagram são, hoje, as ferramentas onde o consumidor passa mais tempo consumindo conteúdo sobre os carros que desejam e também lendo comentários de terceiros sobre os produtos que lhe interessam.
A pesquisa mapeou que cerca de 10% das interações do consumidor durante a jornada de compra é leitura de comentários na internet. Os comentários, inclusive, reforçam a importância do Instagram no processo.
Esta pesquisa da Dados X também identificou um movimento de haters, que seriam parte de grupos organizados de pessoas contrárias à eletrificação dos automóveis. A pesquisa mapeou oito grupos de “fanboys” que geram 75 posts e alcançam 2 milhões de pessoas mensalmente. De acordo com a pesquisa, estes grupos tentam transformar qualquer tipo de problema, real ou não, em algo comum a toda a indústria do carro eletrificado.
A pesquisa propõe uma solução: um projeto educacional que atenda aos anseios dos clientes que estão na fase final da jornada de compra (porque a pesquisa é direcionada a isso) de forma a reduzir a influência dos haters. Isto, no entanto, teria que ser feito sem qualquer propaganda ou conteúdo de marketing, para que haja confiança no conteúdo apresentado.
É a confiança que uma internet cheia de robôs não proporciona.