Carros que nós dirigimos antes do resto do mundo
Apresentação mundial é coisa de Salão europeu e americano? Nem sempre: esses modelos foram revelados e lançados primeiro no Brasil
Um fenômeno raro aconteceu na apresentação do Jeep Compass. Pela primeira vez na história da marca, um modelo global foi revelado ao mundo no Brasil. Enquanto nós poderemos comprá-lo já a partir de novembro, os mais de 100 países que venderão o carro só poderão conhecê-lo em 2017. Até os americanos ainda não o viram de perto, algo que deve ocorrer apenas no Salão de Detroit. Segundo executivos da FCA, a decisão é uma prova do prestígio conquistado pelo mercado brasileiro após o sucesso do Renegade, vice-líder da categoria de SUVs compactos e responsável direto pela reestruturação da marca Jeep no país.
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O Compass, porém, não foi o primeiro (e nem será o último) caso do gênero. Nas últimas décadas, as montadoras elegeram o Brasil como palco de estreia de produtos desenvolvidos para várias partes do mundo – sendo que alguns ainda nem foram lançados lá fora.
Nissan Kicks:
Não foi por acaso que a Nissan escolheu o Brasil para apresentar o Kicks Concept em 2014. Exibido no Salão do Automóvel de São Paulo, o carro-conceito antecipava as formas de um inédito SUV compacto da marca. Até o nome foi escolhido pensando nos brasileiros: a palavra “Kicks” (ou “chutes”, em tradução literal) é uma referência ao futebol, esporte mais popular do nosso país. No começo de 2016 veio a confirmação: a versão definitiva do Kicks seria produzida no Brasil. Fomos o primeiro mercado a conhecê-lo pessoalmente (o resto do mundo viu o Kicks durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro) e comprá-lo importado do México, já que a produção em Resende (RJ) começa apenas em 2017.
Ford Ka:
Depois das baixas vendas obtidas no mercado brasileiro (onde foi considerado pequeno demais), o Ka foi substituído em 2008 por um projeto local idealizado para ser mais espaçoso – embora ainda tivesse apenas duas portas. Diante do sucesso do EcoSport, porém, a Ford resolveu repetir a estratégia na terceira geração do Ka, elevando-o ao status de produto global. Novamente desenvolvido pela filial brasileira da Ford, o compacto estreou nas nossas ruas em 2014 e acaba de chegar à Europa, onde foi rebatizado de Ka+. Diferente do modelo brasileiro, que tem motorizações 1.0 e 1.5, o Ka+ será vendido com um motor Duratec 1.2, semelhante ao oferecido no New Fiesta europeu. Vacinada após a má recepção do EcoSport, a Ford aprimorou tanto a lista de itens de série quanto a qualidade do acabamento interno do carro. Por lá, ele terá a missão de substituir o Ka europeu, um projeto montado sobre a plataforma do Fiat 500.
Ford EcoSport:
O sucesso do primeiro EcoSport rendeu um prêmio à filial brasileira da Ford. Coube a nós o desenvolvimento da nova geração do SUV, que se tornaria um produto global – e o primeiro do gênero projetado na América do Sul. Ainda na fase de carro-conceito, o utilitário esportivo foi apresentado simultaneamente no Brasil e na Índia. Foi o mercado indiano, aliás, um dos primeiros a fabricar o EcoSport após os brasileiros. De lá, o modelo ganhou alguns países da Europa, onde foi bastante criticado por detalhes como o acabamento pobre, a suspensão excessivamente mole para os padrões europeus e a presença do estepe do lado de fora, uma solução em desuso no Velho Continente. A Ford ouviu as críticas e rapidamente realizou algumas melhorias no isolamento acústico, na calibragem da suspensão e na qualidade dos materiais empregados no interior. Até o pneu sobressalente mudou de localização, migrando para o lado de dentro da cabine.
Renault Sandero:
Desenvolvido pela Renault francesa em conjunto com profissionais da América Latina (e especialmente do Brasil), o Sandero estreou no fim de 2007, já como modelo 2008. O mercado brasileiro foi o primeiro a conhecê-lo, antes mesmo dos romenos – que o lançariam em alguns países da Europa como modelo Dacia. Menos de um ano após sua chegada, a Renault aproveitou a febre dos “aventureiros urbanos” para lançar o Sandero Stepway, outra ideia reproduzida na Europa posteriormente.
Chevrolet Meriva:
As minivans ainda estavam na crista da onda quando a Chevrolet lançou a Meriva em agosto de 2002. Desenvolvida por engenheiros e designers brasileiros em conjunto com profissionais da Opel (subsidiária alemã da General Motors), ela aproveitava a plataforma e diversos componentes da família Corsa. Além do design moderno, a Meriva se destacava pelo prático sistema opcional de rebatimento dos bancos traseiros. Batizado de FlexSpace, ele dividia o banco em três partes: dois assentos laterais e um central, menor. Apoiadas sobre trilhos, as partes podiam se movimentar juntas para frente ou separadamente para os lados ou para trás. Rebatidos, formavam uma superfície plana com o porta-malas. A minivan chegou à Europa em maio de 2003, onde está em sua segunda geração. No Brasil, o modelo sobreviveu até 2012, sendo substituída pela Spin, um projeto desenvolvido localmente pela Chevrolet.