A Ferrari está se envolvendo em uma baita confusão aqui no Brasil, e não é por carros ou competições de automobilismo. Depois de barrar famosos como a família Kardashian e Justin Bieber da sua lista de compradores, parece que a fabricante italiana está disposta a implicar até com pessoas comuns.
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No dia 26 de maio Sebastião Dias, de 46 anos, dono de um salão de cabeleireiro em Paranoá, no Distrito Federal, recebeu uma carta de 16 páginas da Ferrari. Ao ler junto da esposa, um susto: a a fabricante de supercarros estava cobrando R$ 50.000 de indenização, mais R$ 10.000 de honorários de advogados. O motivo? Uso de má-fé do nome da marca.
O salão Ferrari Cabeleireiros Unissex foi adquirido por Sebastião em 2006 e, para não perder a clientela, manteve o nome do jeito que estava. O antigo dono era um fã de automobilismo e da Scuderia Ferrari. Tinha bonés, camisas e diversos outros itens da equipe, como lembra o microempresário.
Já Sebastião, pouco se importa com corridas e diz “não ter paciência” para o esporte. Mal sabia ele que a paixão do antigo proprietário traria muita dor de cabeça no futuro.
“Foi como se tivessem me dado uma pancada. Foi a pior semana que eu já passei em toda minha vida, não conseguia dormir direito de tão tenso”, conta o microempresário a nossa reportagem. O mal-estar não refletiu somente nele: desde o recebimento da carta, sua esposa sofre com constantes alergias no pescoço causadas pelo estresse da situação.
Em dúvida se a carta era verdadeira ou uma brincadeira de péssimo gosto, Sebastião e a mulher correram atrás de um advogado para esclarecer a história. Um amigo e cliente, que havia passado por uma situação semelhante foi quem indicou a profissional. De fato, o remetente vinha do escritório de advocacia Ariboni, Fabbri & Schmidt, localizado em São Paulo e que presta serviços à Ferrari.
Sebastião diz que ainda se recupera da crise causada pela pandemia e não tem como pagar os R$ 60.000 cobrados. Por isso, seguiu as recomendações da advogada contratada. Mudou a fachada, excluiu o logo, mudou o nome – agora se chama Sebastian e Elane Cabeleireiros – e até descartou os uniformes.
Porém, foi surpreendido por uma nova intimação na última sexta-feira (31). A Ferrari estava dando 72 horas para que ele alterasse as fotos da sua página no Facebook. Sebastião logo atualizou as redes, documentou tudo com imagens e as enviou para os representantes da multinacional no Brasil. “Achei uma humilhação eles terem feito isso, mas não tem o que fazer”, lamenta o cabeleireiro.
Ao todo, entre troca de nome, confecção de novos uniformes e cartões de visita, a Sebastião calcula que gastou cerca de R$ 12.000. Só no novo banner da fachada, ele conta que gastou aproximadamente R$ 6.000.
Se não bastasse os problemas com a Ferrari, Sebastião ainda foi alvo de ofensas racistas na última terça-feira (7). Um número desconhecido enviou ao cabeleireiro uma mensagem de Whatsapp dizendo “odeio negro”, que levou o microempresário à registrar um boletim de ocorrência.
“Eu nunca tive problemas com brincadeiras envolvendo minha cor, mas nunca me senti tão mal igual quando recebi a mensagem.” conta Sebastião.
Sebastião conta que o número vêm de uma pessoa relacionada ao Congresso Nacional, porém a polícia civil, que registrou o boletim de ocorrência, não tem mais informações sobre o caso.
Após as mudanças, o microempresário diz estar mais tranquilo. De acordo com a advogada de Sebastião e os profissionais do SEBRAE que o convidaram para uma consultoria, é provável que a Ferrari não vá a fundo com o processo. Porém, ainda não há resposta por parte da montadora, muito menos uma previsão para que o assunto se resolva.