Os faturamentos das montadoras no Brasil são tão bem guardados como a receita da Coca-Cola. A pedido da QUATRO RODAS, a consultoria Data2mkt garimpou diversos desses dados e reuniu os ganhos anuais das principais marcas do mercado a partir dos números de emplacamentos de cada fabricante, junto com o valor médio dos modelos vendidos.
Os resultados do estudo revelam o montante de dinheiro movimentado com as vendas – não confundir isso com o lucro das montadoras, que para ser calculado demandaria uma pesquisa muito mais ampla envolvendo as margens de lucro das concessionárias e os gastos operacionais e de desenvolvimento de cada marca.
Se em 2015 a Chevrolet consquistou o 1º lugar em faturamento, mesmo estando atrás da Fiat em número de emplacamentos, em 2016 ela obteve a liderança nos dois quesitos: foram 345,9 mil unidades emplacadas por um tíquete médio de R$ 50.514, resultando em um montante de R$ 17,5 bilhões em vendas.
Ainda que esse número represente uma queda de 9,4% no faturamento da marca em relação a 2015, considerando a inflação do período, o resultado pode ser considerado muito bom. “O ano de 2016 foi um dos piores em vendas da indústria automotiva, com queda de 20%. Manter-se na liderança é um grande feito, e a Chevrolet deve isso principalmente ao sucesso do Onix”, diz Francisco de Castro Neves, responsável pela pesquisa.
Em 2º lugar veio a Fiat, que também foi a segunda montadora em emplacamentos: 304,9 mil unidades, com um valor médio de venda um pouco inferior ao da Chevrolet (R$ 47.590), totalizando R$ 14,5 bilhões.
Na terceira posição aparece a Toyota, que se manteve estável, com diferença de apenas 0,2% em relação ao faturamento de 2015. Chama a atenção aqui a política de preços da marca: mesmo com um número de emplacamentos bem inferior ao da Fiat (180,3 mil unidades), ela movimentou quase tanto dinheiro quanto a marca italiana (R$ 14 bilhões), graças aos patamares de valores superiores de seus veículos (R$ 77.889, em média).
Impulsionada pelo sucesso do Ka, terceiro carro mais vendido no país em 2016, a Ford subiu três posições no ranking em relação a 2015 e teve um raro crescimento positivo, mesmo que pequeno (1,6%).
O maior avanço entre todas as marcas listadas foi o da Jeep (36,9 %), em boa parte graças ao Renegade. Sozinho, o SUV garantiu uma movimentação de R$ 4,4 bilhões – no total, a Jeep acumulou R$ 5,48 bilhões em vendas, com o tíquete médio mais alto (R$ 92.038) entre as dez maiores montadoras.
Peugeot e Citroën (ambas do grupo PSA) também tiveram crescimento satisfatório, porém isso pode ser interpretado de maneira relativa: seus números de vendas e faturamento continuam bem pequenos na comparação com outras marcas.
Por outro lado, a Volkswagen foi quem tomou o maior tombo. Entre 2015 e 2016, o faturamento obtido com a venda de seus veículos caiu nada menos que 44,1%. Não por coincidência, o tíquete médio de suas vendas foi o menor entre todas as montadoras (R$ 44.936), fato que o próprio presidente da marca no Brasil já afirmou que terá de mudar no planejamento futuro da empresa.
“Esse resultado pode ser explicado pelo péssimo desempenho de seus principais produtos, Gol e Fox, que caíram 40,3% e 56,9% em vendas, respectivamente”, afirma Neves.
Já a metade inferior da tabela mostra que a crise finalmente chegou para as marcas premium. Com exceção da Porsche e da Volvo, todas tiveram quedas consideráveis em seus números de venda e faturamento.
Faturamento de vendas por marca:
Marca | Fatur. ( em bilhões de R$) | Ranking fatur. | Emplac. (x 1.000) | Ranking emplac. | Preço médio por veículo (em R$) | Variação 2015 a 2016 |
Chevrolet | 17,4 | 1 | 345,9 | 1 | 50.514 | -9,4% |
Fiat | 14,5 | 2 | 304,9 | 2 | 47.59 | -23,5% |
Toyota | 14,0 | 3 | 180,3 | 5 | 77.889 | -0,2% |
Ford | 10,4 | 4 | 178,6 | 6 | 58.287 | 1,6% |
Volkswagen | 10,2 | 5 | 228,4 | 3 | 44.936 | -44,1% |
Hyundai | 10,1 | 6 | 197,8 | 4 | 51.44 | -12,7% |
Honda | 9,8 | 7 | 122,5 | 8 | 80.271 | -11,8% |
Renault | 7,8 | 8 | 150,0 | 7 | 52.153 | -15,0% |
Jeep | 5,4 | 9 | 59,6 | 10 | 92.038 | 36,9% |
Nissan | 3,5 | 10 | 60,9 | 9 | 58.29 | 5,8% |
Mitsubishi | 3,1 | 11 | 25,2 | 12 | 112.812 | -39,6% |
Mercedes-Benz | 2,3 | 12 | 11,7 | 15 | 202.971 | -24,9% |
BMW | 2,2 | 13 | 11,8 | 14 | 187.855 | -38,9% |
Land Rover | 1,9 | 14 | 6,7 | 18 | 290.216 | -12,3% |
Peugeot | 1,7 | 15 | 25,8 | 11 | 67.136 | 26,6% |
Audi | 1,5 | 16 | 11,5 | 16 | 136.331 | -33,8% |
Citroën | 1,3 | 17 | 24,4 | 13 | 56.348 | 13,9% |
Kia | 1,0 | 18 | 10,8 | 17 | 100.104 | -31,5% |
Volvo | 0,6 | 19 | 3,5 | 19 | 119.013 | 5,4% |
Porsche | 0,4 | 20 | 1,0 | 21 | 471.968 | 37,5% |
No ranking de faturamento de vendas por modelo, o soberano Toyota Corolla perdeu a posição de modelo mais rentável para o Onix. O compacto da Chevrolet, líder de mercado pelo segundo ano consecutivo, teve 153,4 mil emplacamentos em 2016, com tíquete médio de R$ 40.952, totalizando R$ 6,3 bilhões em vendas – número 21,5% maior que o de 2015.
Em 2º lugar aparece o Hyundai HB20 hatch, que também foi o segundo veículo mais emplacado no Brasil, com 121,6 mil unidades e um total de R$ 5,4 bilhões em faturamento, com valor médio de R$ 44.879.
A partir do 3º lugar, o valor médio por unidade aumenta substancialmente. Corolla (R$ 76.115), HR-V (R$ 84.908), Renegade (R$ 86.190) e Hilux (R$ 115.764) rendem faturamentos bem maiores que modelos populares que estão entre os mais vendidos, como Gol (R$ 32.074) e Palio (R$ 32.709).
No caso da Fiat, por exemplo, o volume de dinheiro movimentado pela Toro (R$ 3,8 bilhões) é muito maior que o faturamento gerado pelo Palio (R$ 2,1 bilhões), mesmo com o compacto vendendo bem mais unidades.
Faturamento das vendas por modelo:
Modelo | Fatur. (em bilhões de R$) | Ranking fatur. | Emplac. (x 1.000) | Rank. emplac. | Preço médio por veículo (em R$) | Variação 2015 a 2016 |
Onix | 6,2 | 1 | 153,4 | 1 | 40.952 | 21,5% |
HB20 | 5,4 | 2 | 121,6 | 2 | 44.879 | 6,7% |
Corolla | 4,9 | 3 | 64,7 | 5 | 76.115 | -6,7% |
HR-V | 4,7 | 4 | 55,8 | 10 | 84.908 | 10,9% |
Renegade | 4,4 | 5 | 51,6 | 11 | 86.19 | 30,4% |
Hilux | 3,9 | 6 | 34,0 | 18 | 115.764 | 2,5% |
Toro | 3,7 | 7 | 41,3 | 14 | 91.45 | n/d |
Ka | 3,1 | 8 | 76,6 | 3 | 41.5 | -19,5% |
Prisma | 3,0 | 9 | 66,3 | 4 | 46.111 | -8,4% |
Sandero | 2,9 | 10 | 63,2 | 7 | 47.161 | -10,8% |
S10 | 2,55 | 11 | 26,6 | 25 | 96.069 | -3,2% |
Strada | 2,50 | 12 | 59,4 | 8 | 42.123 | -45,0% |
HB20S | 2,3 | 13 | 46,0 | 12 | 50.008 | -18,3% |
Palio | 2,1 | 14 | 64,0 | 6 | 32.709 | -53,9% |
Civic | 2,0 | 15 | 20,9 | 33 | 98.863 | -16,2% |
Fox | 1,9 | 16 | 43,7 | 13 | 43.835 | -56,9% |
Gol | 1,8 | 17 | 57,4 | 9 | 32.074 | -40,3% |
EcoSport | 1,79 | 18 | 28,1 | 24 | 63.791 | -21,8% |
Fit | 1,74 | 19 | 28,4 | 23 | 61.338 | -30,1% |
Ranger | 1,73 | 20 | 15,8 | 36 | 109.79 | -3,5% |